Categoria: U2 e Eu

Depoimentos de fãs contando sua relação com a banda.

Uma conversa para se ter em um pub com o meu melhor amigo irlandês… E poderia ser ao som de Sunday Bloody Sunday!

Uma conversa para se ter em um pub com o meu melhor amigo irlandês… E poderia ser ao som de Sunday Bloody Sunday!

Por Angela Kuczach

Bióloga – diretora executiva da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação.

Eleita uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil, pela revista Época, em 2014.

Amazônia

 

Dias atrás conversando com uma amiga sobre esse culto ao Bono, doença crônica da qual sofro há uns 20 anos, disse a ela que se eu pudesse escolher um pedido u2maníaco para o Universo, seria ter uma conversa de bar com o meu melhor amigo irlandês.

Ser fã do U2 é coisa séria. Os surtados que seguem a banda pelo mundo e se entregam à egrégora criada em um show em músicas como Where the streets… ou Walk On, sabem disso. Só que não há nada nesse mundo que não possa piorar…

Como uma banda formada por irlandeses crazy-caxias, cristãos e altamente politizados, as influências que eles têm sobre nós podem ser inúmeras, variando de espiritualidade, obsessão pela Irlanda ou militância política.

No meu caso, começou há mais ou menos 20 anos…

Aos 13 anos, eu era uma adolescente marrenta, rebelde, sonhadora e querendo desesperadamente uma causa perdida para lutar. Bem… Na época, acho que nem sabia direito o que era uma causa perdida, talvez para combinar com o ar intempestivo que eu adorava ter, achasse que a causa perdida em si era eu e o quanto não me encaixava no mundo. No fundo, só o egocentrismo de uma adolescente leonina.

Naqueles dias, eu sonhava em viajar o mundo, conhecer o máximo de belezas naturais que pudesse e “nunca deixar de olhar para um céu estralado”. Naquela época também, ficava cada vez mais claro que esse era um sonho caro. Desistir estava fora de cogitação, então a opção era buscar um jeito de viabilizar.

Por gostar de escrever, aos 14 anos, decidi ser jornalista. E por gostar muito mais da aventura e da liberdade em meio a natureza, aos 15, achei que biologia fazia mais sentido. Uma rebelde inveterada com um certo complexo de heroína, me meter em encrenca era algo frequente. Era comum me encontrar com a cara pintada no pátio da escola, onde só eu protestava “contra a venda da Vale” ou algo que o valha.

Como nada na vida é o por acaso, um belo dia, depois de uma discussão familiar em que o pai ou a mãe proferem aquele famoso discurso “enquanto você viver sob o meu teto e eu pagar as tuas contas você faz o que eu mandar” – mais clichê do que nunca – bati a porta e prometi arrumar um emprego “para me sustentar e fazer o que eu quiser”.

Parque Nacional da Serra da Canastra

Acabei estreando minha carteira de trabalho como “atendente de lanchonete do McDonalds”, e, se o tal emprego foi em si uma experiência para não ser repetida, ele me trouxe uma coisa boa: foi lá, com o meu chefe na época, que eu conheci e aprendi a gostar de U2. Eu tinha 15 anos, e na letra de músicas como “Sunday bloody Sunday” “pride”, “bad” e “MLK” eu me encontrei.

Naqueles dias de sede por algo maior, conhecer a história de Martin Luther King ou a guerra religiosa-separatista vivida na Irlanda através das músicas do U2, me trouxe a amplidão de horizonte que eu tanto ansiava. Acho, porém, que foi 4 anos depois, quando passei no vestibular para biologia, que eu comecei a entender a dimensão que essa banda teria minha vida.

Ainda na faculdade, eu entendi que Conservação da Natureza, antes de mais nada, é uma missão de vida, que para ser um conservacionista de verdade o sangue precisa acelerar nas veias, o coração precisa bater mais forte. E o meu batia. Era a causa pela qual um dia pedi e pela qual valeria a pena lutar, da qual depende o futuro de todos nós – sem xiitismo, mas é isso mesmo. Nesta época, estudava para as provas ao som de Beautiful Day.

Minha paixão, além do U2, eram os grandes predadores e durante toda a graduação, eu me dediquei às onças-pintadas e pumas pelos rincões do Brasil. Depois de me formar, o amor pelos felinos selvagens que, eu imaginava, me levariam para os confins da África ou da India, me levaram na verdade para o centro-político das discussões.  Ter o ativismo junto com a biologia correndo no sangue era uma combinação explosiva demais para me levar para os lugares inóspitos que sonhava. Mais fácil acabar no meio de alguma passeata para que esses lugares continuassem existindo.

Como não poderia deixar de ser, fui trabalhar em uma Organização Não Governamental (uma ONG) que tem como missão a conservação de áreas protegidas, como os Parques Nacionais. Uma forma de mantermos o mínimo de recursos naturais, frente às necessidades cada vez maiores de uma população de sete bilhões de pessoas e que continua aumentando… Muita gente, muito consumo. Só um planeta.

Idas e vindas da vida – mudanças de emprego, mas nunca de rumo – a dificuldade de se defender uma causa que não afeta a vida das pessoas de forma imediata. Ainda mais no Brasil. A certeza de que nasci pra fazer isso, não necessariamente como uma escolha, mais como uma missão, uma benção e uma maldição. O ônus e o bônus de ter nascido ativista por natureza… E em certos dias só a voz do Bono me salvava.

Eu e ele_Sao Paulo 2011

No meio disso, descubri a ONE Campaign. Inspiração pura! Tudo aquilo que eu acredito: “ser você a mudança que se deseja para o mundo –  Gandhi”, trabalhar em prol da mudança positiva. Olhar para a solução e não para o problema. Fé. Esperança. Coragem. Uma boa briga é aquela que você luta gargalhando! Combater o bom combate e não cair na tentação fácil da lamúria e da vitimização. Mudar o mundo é possível… e é uma grande aventura!

Não por acaso a ONE é uma organização advocacy, ou seja, que trabalha de forma articulada com outras instituições em prol de uma causa. Não por acaso a minha ONG é advocacy. E quando o termo mal era conhecido no Brasil – até “esses dias” atrás – eu entrava no site da ONE babando nas ações q eles desenvolvem, na comunicação, na forma que atuam, e pensava: “É isso! É desse jeito que eu quero trabalhar… só que para a conservação!” De novo, Bono me apontando o caminho e naquilo que eu menos esperava…

Olhando pra trás, não mudou muito da adolescente de 15 anos para a mulher de 35. As lutas hoje são mais reais, os embates muito mais duros e agora não se trata mais de “sonhar em mudar o mundo” e sim de encontrar uma forma de efetivamente fazê-lo. Mas no fundo, acho que quem acredita que pode mudar o mundo não amadurece no sentido cético da palavra. A esperança precisa de uma certa dose de ingenuidade, de uma fé no impossível.

Casa do Bono

Vinte anos depois, e hoje como diretora executiva dessa mesma ONG advocacy que defende os Parques Nacionais do Brasil, eu continuo buscando inspiração no ativismo do Bono para desenvolver o meu trabalho. Na verdade, cada vez que vejo as apresentações de One, em Chicago (2005), e Walk On, na 360° Tour, parte da minha fé na vida se renova. Cada vez que vejo um discurso do Bono dizendo que nós podemos sim mudar o mundo, eu me identifico. Quando ele diz que: “celulares são aparelhinhos muito perigosos e que querem a nossa voz”, eu entendo no fundo da alma o que ele está dizendo. Me sinto olhando na mesma direção.

Meu melhor amigo irlandês me dá músicas lindas, a voz familiar e reconfortante dele em uma canção, me dá a sensação de estar em casa, e meu amor por ele me levou até a Irlanda, uma das melhores experiências que a viajante de alma aqui já teve, mas o que meu melhor amigo irlandês trouxe de mais forte para minha vida até hoje foi essa fé inabalável na vida. O sonho quase palpável de que mudar o mundo é possível, de que apesar de tudo, hoje estamos melhor do que ontem como humanidade, e onde a maioria das pessoas enxerga um problema, ele me ensinou a enxergar um desafio, uma oportunidade. Uma aventura!

Não sei dizer até onde minha visão de vida é intrínseca e até onde o Bono me influenciou. Sei que, no meio disso tudo, quando olho para o “factivismo” dele. eu me sinto menos sozinha no mundo. Sinto que numa conversa de bar a gente se entenderia. Coisa de gente louca é claro… Mas quem é louco o suficiente para achar que pode mudar o mundo, é capaz de acreditar em qualquer coisa e torna-la possível.

 

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U2 & Eu: Andréa

U2 & Eu: Andréa

Eu sou Andréa, tenho 41 anos, moro em São Paulo, adoro ler, viajar, sair com amigos, praticar caridade e viver bem. Amei encontrar todos os grupos no Facebook, vocês são as únicas pessoas que me entendem.

Minha história com o U2

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Como muitos de vocês sou considerada louca, boba e chata por amar tanto o U2. Esse amor começou quando tinha apenas 11 anos. Estava assistindo a um daqueles programas de clipes que já não existem há muito tempo, quando me deparei com uma banda que nunca tinha visto antes. Achei o vocalista um gato, meus olhos brilharam e eu fiquei hipnotizada com o U2 cantando Pride. Foi amor à primeira vista.

A partir deste dia, comecei a pesquisar sobre a banda dos 4 jovens irlandeses. A cada descoberta, meu amor aumentava mais. Todas as músicas tinham algo em comum comigo, achava esse fato surpreendente e tive certeza de que tinha encontrado minha cara metade!!!

Comprei discos, revistas, camisetas, etc. Daí começaram as críticas: “ Ah, como você é boba”; “Não aguento mais ouvir U2”; “Dá pra parar de falar desses caras?”. Enquanto todas as minhas amigas se desesperavam pelo Menudo, eu continuava fiel ao Bono e cia.

Fui uma jovem idealista que sonhava em mudar o mundo e Bono era meu maior e melhor exemplo: pela sua luta contra a miséria na África, pela paz entre as nações, pelos direitos iguais, entre outros engajamentos. Quando assistia o clipe do “Do they know it´s Christmas” chorava e tinha certeza de que ele era minha alma gêmea, rsrs. Coisas de adolescente…

Recebia críticas de todos pelo meu fanatismo sem limites, exceto de uma pessoa: meu pai, que resumia a banda e Bono em “udois”.  Ele comprava jornais, revistas, discos importados, shows em VHS – a secretária dele ajudava na busca de novidades, coitada… Se ele estivesse assistindo TV e alguma matéria sobre o U2 fosse anunciada, ele começava a gritar: “Dé corre que o ‘udois’ vai passar na televisão”.

Em 1998, o U2 anuncia sua vinda ao Brasil. Enlouqueci, fui nos 2 shows de São Paulo e chorei muito, gritei como histérica, confesso que não lembro nada da turnê POP, só deles cantando “I still haven´t found…” vagamente, e Bono apresentando a banda. Nos 2 shows, meu pai me levou até o estádio e ficou me esperando do lado de fora do Morumbi. Quanto o show acabava, eu corria até ele e o abraçava. Nós 2 chorávamos como crianças, eu por ter visto meus ídolos e ele por ver minha felicidade…

Chegou o ano de 2006 e o U2 volta ao Brasil com a turnê Vertigo. Novamente fui aos 2 shows, só que dessa vez foi diferente, lembro deles inteiros. O que mais me marcou foi Bono cantando “Sometimes you can make…” de forma tão dolorida e cheia de saudades de seu pai. Mais uma vez, o meu estava me esperando do lado de fora do estádio, na primeira noite nos abraçamos e choramos. Na segunda, fui surpreendida: quando corri para abraçá-lo, ele fez sinal de para, pra mim e falou:

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“Espera filha, como o “udois” é feio!”

Eu: “Como assim pai?”.

Ele: “Ah, ele parou o carro aqui, desceu e me cumprimentou e a todos os que aqui estavam, mas que sujeitinho baixinho e feio”.

Quase morri…

O que aconteceu foi que quando o U2 estava chegando ao Morumbi, Bono pediu pro motorista parar o carro e foi até o povo que estava em uma determinada região para distribuir autógrafos e tirar fotos, porque ele pensou que eram fãs que não tinham conseguido ingresso. Eu quase enfartei, fomos brigando até minha casa. Primeiro porque ele achou Bono feio e segundo porque eu estava morrendo de inveja. Ele ria da situação e dizia que um dia eu ia conseguir abraçar e ganhar um beijo do “udois”.

Em 2011, o U2 traz ao Brasil sua maior turnê: 360º. Fantástica. 3 shows em São Paulo, comprei ingressos para todos os shows, só que desta vez foi muito diferente, meu pai não estava mais aqui… Fui a todos os shows sozinha e saia chorando, porque não havia mais ninguém me esperando… E uma música do U2 tinha tudo a ver comigo: Sometimes you can’t make it on your own. Parecia ter sido feita especialmente para falar da relação com meu pai, meu sentimento por ele e a dor da perda, que nunca passa.

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No domingo, segundo show, sai de casa logo no começo da tarde, peguei a Marginal e num estalo mudei o caminho. Fui direto ao hotel onde a banda estava hospedada. Poucas pessoas estavam ali, porque os seguranças falavam que o U2 já tinha ido pro Morumbi. Mas eu decidi ficar um pouco, porque àquela hora já não iria ficar em um bom lugar na pista.

Meia hora depois, Edge desceu. Ele só me deu um autógrafo. Pedi 1 beijo, mas ele negou. Pedi pra segurar na sua mão, com certeza ele me achou uma louca, mas concedeu meu desejo. Ah, que mãos finas e suaves… A essa altura, a frente do hotel estava lotada.

Eis que surge Bono… Distribuiu vários autógrafos, abraçou algumas pessoas e se encantou por uma criança. Quando ele veio em minha direção e chegou perto de mim (que já estava aos prantos), me olhou, me abraçou e me deu um beijo no rosto… Em meio a toda aquela emoção, sentia meu pai dizendo: Tá vendo? Eu disse que um dia o “udois” ia te beijar…

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E essa é minha história de amor pelos 5 homens da minha vida: Bono, Edge, Adam, Larry e Olimpio.

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U2 & Eu: Cristina

U2 & Eu: Cristina

Percebi que realizar um sonho não é impossível.

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Eu sou Cristina, funcionária pública e fui até a Irlanda conhecer Bono.

Eu comecei a gostar do U2 justamente odiando o U2 e Bono. Assim começou minha relação com os 4 rapazes. Depois de tanto ouvir e ver, acostumei e viciei. Mas nossa convivência nem sempre foi de paz, houve vários momentos em que me “divorciei” deste casamento por me sentir traída: a primeira vez foi na tour POP.

Fiquei eufórica com a possibilidade de ver U2 ao vivo. Não acreditava! Fui às lojas C&A comprar 3 ingressos e quando cheguei, logo na escada rolante, tinha um stand. Uma barraquinha com propagandas e com um letreiro: Show do U2! Compre seus ingressos aqui. Quase fui laçada pelos vendedores, não tinha ninguém comprando. Fiquei mais ainda empolgada e pensei: – Beleza, vai ser um show vazio.

Não esqueço, foi numa terça-feira de janeiro. Saí cedo de casa, chegamos tranquilas no Autódromo, eu e minhas duas irmãs. Minha chateação começou quando não fiquei na pista, e sim nas arquibancadas. Mais decepcionada ainda quando vi uma multidão enchendo o lugar. Não entendia de onde tinha saído tanta gente. Como U2 tinha tanto fã e eu não sabia? Não me preparei para este choque, achava que só nós 3, eu e minhas irmãs conheciam a banda.

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A abertura foi aquele fiasco, estava longe do palco e nervosa. Enfim, a tortura acabou e eles entraram… Perdi o show em lágrimas, não consegui parar, olhei para os lados e uma multidão se acabava junto comigo. A cada música, eu chorava mais. Depois que o show terminou, fiquei sabendo do caos no trânsito do Rio. Tive sorte.

Um belo domingo, estava eu em casa, no quarto, e ouço na televisão da sala um show que os rapazes do U2 realizaram no Projac. Saí correndo do quarto e vi E-S-T-A-R-R-E-C-I-D-A uma apresentação para poucas pessoas.

Como???

Eu não estava sabendo daquilo. Quem eram aquelas pessoas? Como U2 vem ao Brasil e faz um show para um grupo de pessoas? Chorei decepcionada, chorei de raiva, chorei magoada. Depois desta noite, fiquei um ano sem ouvir nada deles.

O tempo passou e ele é senhor da razão, um santo remédio. Voltei a ouvir minhas músicas favoritas. Depois disso, fui conhecendo pessoas, quando descobri a UV através da Gabriela Godói, daqui do Rio. Eu a conheci pelo antigo Fotolog. E outras pessoas com quem mantenho contato até hoje, virtual ou não.

Não sou boa em datas, mas depois disso veio encontros em SP, festas e fui conhecendo os fãs que eu julgava não existir, como Maria Teresa, Juliana, Rita Cássia, Antonieta. Era e é ótimo conversar sobre o mesmo assunto, sem recriminação ou ser taxada de louca.

Veio outra turnê, Vertigo, e a maluquice de comprar ingressos. Estava previsto que haveria vendas online e nas lojas do Pão de Açúcar. No primeiro dia de venda, acordei às 4 da manhã. Eu, minha irmã e meu sobrinho Filipe. Chegamos na Barra da Tijuca às 5 e já tinha uma fila com cerca de 100 pessoas na nossa frente (novamente não entendia). O tempo foi passando e quando chegou a hora da venda, o caos se instalou.

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Tumulto, brigas, me envolvi em várias (até idoso que estava lá para comprar preferencial, eu tirei da fila). Eram quase 23 horas e veio a notícia de que as vendas estavam canceladas. Surtei. Fizeram uma fila para reserva. Não acreditei. Quando chegou minha vez de dar nome, identidade e quantidade de ingressos, não conseguia falar. Chorei alto. Tentaram me acalmar, seguranças, recepcionistas e nada. Minha irmã interveio e deu meus dados. Não esqueço a frase que a funcionária do Pão de Açúcar me falou: “Fique tranquila, até sexta-feira ligaremos para a senhora e poderá vir pegar seus ingressos. Dr. Abílio Diniz garantiu que todos receberão”.

Fui para casa aos prantos. No dia seguinte, era meu aniversário, 14 de janeiro. Não conseguia sair da apatia. Imaginava um show deles e eu fora. No entanto, na quinta-feira ligaram para minha casa avisando que os ingressos estariam a minha disposição no mesmo local, a partir das 10 horas de sexta-feira. Às 8 horas, estava na porta. Eram 2 shows e eu não queria ver um só. Graças a Deus, eu conhecia Ana, que na época morava em Brasília e mantínhamos contato pelo Fotolog e MSN. Um anjo salvador que conseguiu meu ingresso para o segundo dia.

Nos encontramos no hotel, onde ficamos eu, minhas irmãs, meu sobrinho e Fernanda, outro anjo. Ela foi quem dormiu na fila para o segundo show. No primeiro, eu vi das cadeiras, mas no segundo consegui chegar até a o palco. Fiquei na grade de um dos lados, aonde Adam e Larry viriam perto de nós para tocar e onde Bono entrou para abrir o show. Neste dia conheci também Halisson, vi muita gente do Fotolog, que também estavam próximos.

Quando as luzes se apagaram e começou a tocar Arcade Fire, comecei a chorar, mas lembrei de POP e falei: NÃO, desta vez verei o show. Bono entrou e perdi a noção de tudo. Diante de mim estava ele. Não acreditei. Pulei muito. Quando o show acabou, vi o estrago em minhas pernas: joelhos esfolados pela grade.

O tempo passou e veio 360º. Eu já conhecia muita gente pessoalmente e virtual. Conheci e revi pessoas especiais, como minha outra família de Caçapava, meus amigos do Rio e Maria Elvira, Adra, Solange, Pedro da Bahia, Cecília de MG e tantos outros.

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Fui aos 3 shows. O primeiro, arquibancada com a família, o segundo com Fernanda, Mônica (que conseguiu os ingressos). Fiquei debaixo da garra e novamente pertinho deles. No terceiro show, tivemos um intervalo de 2 dias e na véspera, uma terça-feira, fomos passear na porta do Morumbi, ver as filas e chegamos na hora que eles estavam chegando para a passagem de som. Pensamos: quem entra, saí. Resolvemos ficar. Eram umas 18 horas. Choveu naquele dia que parecia fim do mundo. Ficamos eu e Amanda, uma amiga do Rio. Tentaram fazer com que fossemos embora, falaram que Bono pediu que saíssemos dali por que estava perigoso em função da tempestade. Alguns desistiram, poucos ficaram.

Quando era quase meia noite, eles começaram a sair. Um dos últimos carros foi o de Bono. Ele ia direto, mas deve ter se compadecido dos pobres mortais enrugados de tanta água… Desceu do carro na minha frente e veio em nossa direção. Eu ia gritar, mas minha amiga falou: não grita, ele não gosta. Fiquei calada. Bono veio falar com cada um que estava lá e quando vi, a mão dele estava estendida em minha direção. Segurei na mão dele, a minha gelada, molhada. A dele quentinha. Um aperto de mão firme e sincero. Depois veio The Edge. Tinha valido a pena.

O terceiro show, eu vi em companhia de minha amiga Amanda, que tinha estado comigo na noite anterior. Neste show, eu, ela, Fernanda e Monica combinamos de conhecer a Irlanda. O tempo passou e eu realizei outro sonho: Ter um carro vermelho, com um adesivo do U2 e pegar estrada ouvindo a música deles. Realizei ouvindo o No Line, mas estava na hora de realizar o sonho maior e então planejamos a viagem: eu, Monica e Fernanda. Vendi meu carrinho e transformei em passagem e estadia.

No dia 4 de dezembro de 2013, nós embarcamos num voo da Air France com destino a Irlanda, com conexão em Paris. Aterrissamos na Irlanda no dia seguinte. Passamos na imigração sem acreditar, pegamos um taxi e chegamos ao Apart-hotel que seria nosso lar, nos próximos 20 dias. Quando entramos no quarto nos abraçamos emocionadas. Nosso sonho estava realizado. Nossa rotina na Irlanda seria uma só: esperar dar 9 horas para o dia clarear e sair em busca do U2. Visitamos o que dava para visitar, o estúdio, a casa do Bono, mas ainda ficaram lugares que um dia eu volto para conhecer.

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Uma data muito esperada chegou: Dia 24 de dezembro, era o dia D! Fomos para a Grafton Street bem cedo por que não sabíamos a hora em que Bono cantaria. Matamos o tempo dentro de um shopping em frente à árvore de natal que deveria ser o local onde ele estaria. Acertamos na mosca. Quando saímos do shopping, o local estava cheio.

Procuramos um lugar para ficar, novamente escolhemos certo. Era o local de onde Bono subiria no pequeno tablado. Certa hora, não sei precisar qual – ficamos ali, num frio absurdo que congelava tudo – Glen Hansard chamou: Bono venha cá… E ele passou por mim, ao ponto de tocar nele. Houve um empurra-empurra e acabei do lado do tablado, com os músicos tapando minha visão, o que não foi problema, pois aproveitei meu tamanho e me coloquei entre dois músicos para pode ver Bono cantando.

Quando terminou, Bono passou por mim novamente e sua mão estava apoiada em um segurança, aproveitei para tocar nele. Era o máximo da nossa viagem.  Fomos lanchar e conversar sobre nossa sorte, sobre o nosso sonho realizado. Mas vinha mais por aí. Daqui em diante, não sei como aconteceu. Lembro-me de termos conhecido uma garota no McDonalds e ela nos levou para andar por Dublin. Andamos, andamos e em determinado momento estávamos em frente a um restaurante, que por um acaso era perto de onde Bono tinha acabado de cantar.

Ela nos falou que Bono estava dentro do restaurante e se quiséssemos vê-lo, teríamos que ficar aguardando. Avaliamos o tempo, frio de congelar fogo e resolvemos ficar. Depois de quase 20 dias, não íamos perder esta chance. Ficamos lá, eu, Fernanda e Mônica. Cada hora que passava, mais ia esfriando, foi preciso nos manter em movimento para não congelarmos. A rua estava incrivelmente vazia, pois ninguém iria ficar zanzando com a temperatura tão baixa.

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Quando era mais ou menos umas 21 horas, a porta do restaurante novamente se abriu para sair um grupo. Reconhecemos os cantores e falamos: Agora ele sai. E ele saiu. No topo da escada, foi o último a sair do restaurante, mas não nos viu, estávamos escondidas atrás da coluna de um prédio, ao lado. Quando ele desceu as escadas para se despedir do último músico, nos aproximamos devagar, sem alarde e Fernanda falou baixinho: Bono, please, Bono please… Ele virou devagar e deu de cara com 3 loucas congeladas e emocionadas.

Foi super gentil conosco. Deu atenção, conversou com as meninas (elas falam inglês), perguntou sobre a nova música (era Ordinary Love). Eu estava ali do lado de Bono, olhando para ele falar com as garotas e aquele famoso filme passou na minha cabeça. Lembrei cada momento até aquele instante. Perguntou de onde éramos e Fernanda falou e abriu uma bandeira do Brasil. Ele se mostrou surpreso de estarmos tão longe e em uma data tão especial. As garotas falaram que estávamos ali para vê-lo. Ele agradeceu e nos aconselhou a voltar para o hotel. Nós pedimos para tirar fotos e ele atendeu com muita gentileza.

Não tinha segurança, era só ele, o motorista, eu, Fernanda e Mônica. Na rua deserta, nem carro passou. Era o nosso momento. Nem acreditei quando ele me abraçou para a foto, era absurdo demais aquilo tudo. Fernanda e Mônica ganharam um beijo dele, que eu não consegui registrar. Quando ele se foi, ficamos paradas olhando o carro indo embora e saímos correndo, eu senti uma vontade absurda de correr e o foi o que eu fiz. Fui impedida pela Mônica de atravessar uma rua sem olhar de tão catatônica que estava. Chegamos ao hotel e não parávamos de falar, de chorar, de falar, de chorar!!!

Nosso natal de 2013 foi assim…

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U2 & Eu: Marina

U2 & Eu: Marina

“Eu sou Marina. Geminiana típica, idealista à moda antiga e sonhadora como criança. Jovem de 30 e poucos anos, advogada e estudante de petróleo e gás. Curiosa por astronomia e louca por U2”.

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A primeira pergunta que nos fazem é sempre a mesma: como começou a sua paixão pelo U2? Eu não tenho uma resposta exata para essa questão. Não tenho datas, não tenho um fato específico – como todo grande amor, adentrou na minha vida lentamente, tomou espaço, ganhou importância e dela não saiu mais. E hoje a minha vida é inconcebível sem essa trilha sonora. O som da banda é meu bálsamo, meu conselheiro, minha redenção.

Conheci o U2 ainda na adolescência, em uma dessas aulas de inglês em que o professor coloca uma música como atividade para traduzir a letra e escutar a pronúncia. Era ONE, uma dessas “mais tocadas” da época, suficiente para despertar a curiosidade de conhecer um pouco mais da banda que a fez – será que eles tinham outras músicas tão boas quanto essa?

Tinham. Muitas outras, tão boas ou melhores. E assim fui me aprofundando no mundo dos irlandeses, escutando álbuns mais antigos, acompanhando a banda, tentando entender as letras. A propósito, para meu lado religioso aflorado, as letras do U2 tornaram-se um vínculo importante com a banda. Era sempre delicioso descobrir passagens bíblicas e salmos nas letras. E, nesse momento, percebi que as letras do grupo não eram composições aleatórias, mas algo com um significado muito forte a ser explorado.

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Tempos depois, eis que me deparo com o real significado de ONE e, para mim e minhas histórias familiares com seus desajustes e desacertos, ela parecia ser uma tradução de sentimentos. Hoje é impossível ouvi-la ao vivo sem ir às lágrimas e o refrão ‘One Love One Life’ virou tatuagem, o símbolo visível das marcas da banda em mim.

Um dia, meu avô estava na UTI e em um determinado dia, o quarto estava com som ambiente. Tocava baixinho uma série de músicas clássicas e, de repente, no meio da sequência, escuto ‘With or Without You’. Não me recordo exatamente da minha reação ou do meu comentário sobre a música, mas foi a última vez em que vi meu avô com vida. Durante muito tempo não consegui escutar a música e só voltei a ouvi-la ao vivo, nos shows da Vertigo Tour. E assim tem permanecido até hoje: uma recordação sagrada a ser ouvida apenas ao vivo. Escutei novamente na 360º Tour e, quem sabe, volte a fazê-lo na próxima turnê.

E assim seguiu minha história com o U2, amando cada música, tendo várias delas como trilhas de fatos da minha vida. Ora escutando ‘If you wear that velvet dress’ para lembrar de um grande amor, ora ‘Walk On’, para me motivar durante fases turbulentas. Às vezes, escutando ‘40’ como oração, às vezes escutando ‘Lemon’, para dançar comigo mesma no meio da sala.

Devo ao U2 minhas melhores recordações e as melhores noites da minha vida, que foram nos shows. Devo a eles, inclusive, grandes amigos. Pessoas que se aproximaram para compartilhar o amor pela banda e hoje me dão o prazer de compartilhar a vida. Valiosas amizades que hoje contam uma década, como a do Thiago e da Gláucia, presentes do U2 para mim.

Essa é a minha relação do mais puro amor com a banda, que alguns podem chamar de fanatismo. Mas assim continuará sendo, Love is not an easy thing (…) it’s the only baggage that you can´t leave behind.

 

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U2 & Eu: Alexandre

U2 & Eu: Alexandre

“Sou o Alexandre, tenho 41 anos de idade, sou biólogo e segundo minha esposa, sou doido por gostar do U2… E sou doido pelo U2 mesmo!”

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Estava eu, no distante ano de 1985 vendo pela TV um show para ajudar a África, quando um cabeludo desce do palco e dança com duas garotas… Ai começava a minha história com o U2!

Passei a minha adolescência ouvindo essa banda no meu quarto sozinho, com meus discos de vinil em meu 3 em 1, CCE. E com o sonho de um dia conseguir vê-los ao vivo. Sonho que se realizou em 1998, exatos 13 anos depois da minha primeira audição da banda! O U2 viria ao Brasil e eu estava pronto para ir de qualquer maneira, já que não conhecia ninguém nas cidades aonde a banda iria se apresentar.

206935_211778735499572_4277077_nMinha primeira preocupação: conseguir o ingresso. Comprei num shopping daqui de Fortaleza, mesmo o preço sendo salgado na época: 50 reais! Mas a garantia do ingresso não queria dizer que eu iria ao show, pois era longe de minha cidade. Pelo menos eu teria uma lembrança do show dos irlandeses. Tentei até entrar em contato com alguns fãs aqui da cidade, em vão.

Os dias iam passando e meu consolo era gravar tudo o que passava sobre a vinda deles. Devo ter gastado umas 5 fitas VHS. Tentei até participar de uma promoção para levar duas pessoas ao show, coisa que eu nunca tinha feito antes. Mas não tive sorte! Estava pronto para acompanhar o show pela TV (com meu ingresso na mão), quando ao olhar um jornal , na parte de classificados me deparei: SHOW DO U2 EM SÃO PAULO! INGRESSO, TRANSLADO, PASSAGENS!

Era a minha chance de ir! Liguei para lá  e o valor do pacote me desanimou um pouco: 800 reais!  Em 1998, isso era dinheiro para caramba! Tive que recorrer aos meus “paitrocinadores”, já que o que eu ganhava na época como estagiário não dava nem para sonhar. Adquiri o pacote e as malas! Agora estava com dois ingressos do mesmo dia. Mas o outro ingresso, que comprei no shopping, esta guardado até hoje…

Cheguei em Sampa na quinta à noite e na sexta já era o show. Acordei e fiz um lanche reforçado. Peguei uma van e rumei para o estádio. Quando cheguei no Morumbi e vi aquela fila enorme, acabei topando com um guarda que me ajudou a entrar (furar a fila mesmo), pois eu o perturbava muito. Era mais ou menos duas horas da tarde.

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Dentro do estádio, me deparei com aquele arco gigantesco, o limão, o telão, tudo do tour POP MART… Eu já sabia que era grande, mas nem tanto. Já tinha muita gente lá dentro e acabei ficando bem perto do palco B. O calor era infernal, mas a vontade de ver a banda era maior. Agora era só esperar…

O tema de Missão Impossível ecoava pela caixas de som! Chegou o momento tão esperado: U2 AO VIVO! Para mim, nada de tecnologia importava, só queria ver a banda. Quando percebi que eram os caras de verdade e que eu não estava vendo um vídeo, nem fotos em revistas, acabei liberando umas lágrimas… Bono falou: “….suas vozes são lindas!! Nunca esqueceremos vocês…”. Eu também não…

Em 2006, a história ia se repetir. U2 no Brasil! Depois da confirmação do show, datas, locais de vendas de ingressos, forma de comprar pela internet e telefone, começou a minha luta pelos ingressos, foi muito sofrimento, guerra de nervos e psicológica. Mas conseguir juntar um grupo de fãs do U2 aqui na cidade (20 pessoas) e todos foram para internet e telefone, tentar conseguir os tais desejados ingressos.

O legal é que nesse grupo que se formou, todos se ajudaram! Sem eles, eu não teria ido ao show! Bom, ido eu teria, só não saberia se ia entrar no estádio e ver a banda, ao vivo. E ainda sobraram ingressos!!! Na época, eu tinha 32 anos, e meus pais diziam: “Para com isso de U2! Você já tem 32 anos!” Isso não é nada, pois um amigo meu terminou o namoro para ir ver a banda!

Chegando em São Paulo, tentamos ver a banda no hotel. Acabamos pegando o ônibus errado e paramos no outro lado da cidade, distantes uns 60km! Depois de rodar muito de ônibus em ônibus, conseguimos chegar aonde eles estavam hospedados. Depois de alguma espera, vimos o Bono chegando de Brasília. Sensacional!

fot_show_1No show, pensei que eu iria estar mais concentrado, já que tinha visto a banda, em 1998. Que nada! Chorei, mas chorei mesmo ao ver “aqueles caras” a cerca de 2 metros de mim! Ver o suor pingando de suas mãos, as artérias da garganta do Edge e do Bono “saltarem”, o modo de cada um cantar… Emoção maior, só quando meu primeiro filho nascer!

Depois do show, o grupo que reuni não se desfez. Criamos o fã-clube U2FORTALEZA! Resolvemos, a cada dois meses, promover festas e encontros aqui em Fortaleza, onde sempre curtimos uma banda cover! E inspirados pelas atitudes de Bono, em prol dos menos favorecidos, nós também (you too) arrecadamos alimentos, nesses encontros, e doamos para instituições carentes daqui de nossa cidade. Já ajudamos asilos, creches, casa de doentes, etc…

Mas de 20 anos depois, é incrível como várias músicas do U2 ainda me emocionam. E por causa da banda me tornei uma pessoa melhor! E quero passar isso a outras pessoas. Daí a minha ideia de criar um grupo de fãs e promover os encontros e arrecadar alimentos. Ideia tão boa que outras pessoas de fora, agora, fazem o mesmo.

Não ganho nada financeiro com isso, com os encontros ou com o site que mantenho. E nem quero ganhar, pois o maior presente já recebi foram os amigos que fiz (e ainda faço). Isto faz seu coração bater mais forte e lembrar que quem plantou isso em seu coração foi uma banda da uma terra longe, a Irlanda. É por isso e por outras coisas que tenho orgulho de ser fã destes irlandeses, o U2! E você?

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Alexandre – U2 FORTALEZA  (ao som de WALK ON)

U2 e Eu: Ana Julia.

U2 e Eu: Ana Julia.

Aproveitando o lançamento do novo CD Songs of Innocence, estamos de volta com a coluna na qual os fãs contam sua experiências pessoais com o U2. Caso tenha interesse em participar, deixe seu e-mail nos comentários.  Começamos com a história de Ana Julia.

 

Eu sou Ana Julia, de Porto Alegre, psicóloga, adoro coisas místicas e espirituais, meio perdida no mundo e muito fã de U2.

                                                                                                foto 1 u2 

Passei a ser fã do U2 aos 13 anos, por causa da música New Year’s Day. Nesta época, o U2 estava vindo pela primeira vez ao Brasil com a Pop Mart Tour e estavam falando bastante da banda na mídia, Foi num ano em que a MTV de minha casa era em UHF e o sinal não pegava muito bem, para minha tristeza. Não conseguia ver os programas especiais que passavam, muito menos o grandioso show, que foi transmitido ao vivo.

Havia ganhado um walkman (na época do k7) e não tinha nenhuma fita que realmente valesse a pena ouvir em uma  caminhada com minha mãe. Gravei essa musica numa fita e era a única musica que ficava escutando, a rebobinava para  ouvir várias vezes. Por acha-la muito legal, passei a prestar atenção na rádio pop-rock, durante o programa “bloquinho é  tri”. Costumava passar sequencias de três musicas de um mesmo artista.

Eram musicas diferentes, mas muito boas quando os bloquinhos tocavam o U2, então decidi ouvir uma k7 inteira antiga do disco “Zooropa” e “Achtung Baby” que meu pai tinha guardado com muito carinho (alias, eram as únicas fitas que não podiam ser regravadas de forma alguma… E que meu pai gostava de escutar sozinho, de vez em quando). Assim, valeu a pena comprar os CDs destes k7s e os outros álbuns, já que não tinham todos os hits e a primeira coletânea só saiu muitos anos depois…

Desta maneira, troquei a idolatria por Alanis Morissette pelo U2 e a historia de vida fantástica do Bono tornou-se uma obsessão, passei a sonhar bastante com ele, a ponto de ouvi-lo falar em inglês e acordando com a sensação de estar entendendo o que ele estava a dizer. Mesmo uns sonhos premonitórios muito interessantes… É uma historia que gostava de contar ás pessoas, até porque era espirita e acreditava em contato com pessoas através de sonhos. Será que o fuso horário poderia coincidir em algum momento durante as turnês e tantas viagens que ele fazia?

Comecei a perambular pelas livrarias dos shoppings da cidade, lendo as noticias na Rolling Stones e em qualquer computador com internet até descobrir que ele era casado e com duas filhas lindas, que fizeram perfil no “bebo”, com fotos de festas e até boatos sobre namoros com os rapazes do Kings of Leon… Ficava pensando se ele não teve um caso com Andrea Corr (tão parecida com a Ali, será?) e sobre quem era aquela modelo chamada Helena com a tatuagem…  E sobre o porquê de Sinnead O’Connor não gostar da banda, etc.

As turnês inovadoras! Será que eles ainda irão fazer um show como a Barbie, no espaço? Será que o Bono conhece este vídeo da Barbie, porque foi tão marcante ler que ele sonhava com Madonna, ele poderia ter visto este vídeo em algum momento de solidão e alergia a pessoas, em suas estadias pelos hotéis…

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Uma banda que me acompanhou no primeiro grau – depressão profunda, sustentada pela música Stay, oooooh… Ser um anjo de alguém, ou melhor, ter um anjo! – e no segundo grau, onde as leituras eram uma forma de estudar inglês, até mesmo na faculdade, porque as mil e uma análises da vida do Bono davam ensejo de traçar um perfil psicológico e procurar um rapaz que fosse como ele. E o mais interessante foi poder se apaixonar por um cara maluco na faculdade que tinha nome de um grande ator de Hollywood dado pela mãe.

Um dia ele me perguntou se eu interpretava os significados das musicas do U2. Que significados? Será Lemon uma ode a fada Aine? De qualquer forma ele se lembrava de mim com a música One, mas eu poderia ser lembrada por tantas musicas do U2 (porque One?). “Dirty Days Remix” foi a minha musica de formatura, numa turma que escolheu “Beautiful Day” para representar o momento…

E até hoje, com 29 anos, o U2 é uma banda superinteressante, onde as musicas lado B e os remixes sempre são grandes descobertas, (faz de conta que os fracassos de vida podem ser meio como lados B, ainda um dia…) a influencia do Bono na politica e mesmo na religião é algo intrigante.

O que será que faz um artista se preocupar com a África e divulgar uma Ong para 70 000 pastores, falar com o Lula no Brasil e apoiar o bolsa família? Será que ele quer chegar à ONU e ter poder aqui também? A banda sempre nos faz pensar na Irlanda, em musicas medievais irlandesas e várias coisas que talvez eles não tenham preocupação alguma de divulgar…

Me fez conhecer também várias outras bandas bacanas dos anos 80, tanto internacionais (Bono e seus amigos) quanto nacionais (Paula Toller poderia ser amiga do Bono, fez um videoclipe baseado em Wim Wenders). E New Year’s Day é clássica em toda virada de ano, claro. Agora pelo Youtube, mp3…

 

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U2 e Eu: Iara Vieira de Melo

U2 e Eu: Iara Vieira de Melo

Posso dizer com todas as letras que o U2 foi meu melhor presente EVER!

Sou baiana, soteropolitana, jornalista, curiosa e não sei falar de mim não!

Comecei a gostar do U2 meio que por acaso (se é que dá pra chamar de acaso qualquer coisa com essa banda), quando vi, ainda em 98 ou 99, o vídeo de Sweetest Thing na MTV. Foi amor à primeira vista! Fiquei logo apaixonada pela música, pelo vídeo e por aqueles olhos azuis… A partir daí, quis saber mais sobre quem eram aqueles caras, a banda, as músicas, enfim, tudo o que fosse possível saber sobre eles! De lá pra cá, só me trouxeram coisas boas, em todos os sentidos, toda vez que eu “chamava” por eles. Só tinha um problema: nenhum dos meus amigos adorava esses “veios” tanto quanto eu! É, eu precisava mesmo de amigos novos…

Tudo começou a mudar entre setembro e outubro de 2010, quando começaram a surgir os rumores fortíssimos de que a 360° Tour finalmente viria pro Brasil. Diferente de 2006, quando não consegui ir pra Vertigo Tour (e carrego essa DOR comigo até hoje), eu precisava tomar uma atitude e conhecer fãs tão loucos pela banda quanto eu! Ok, eu já estava na lista da UV, mas apenas como observadora e precisava conhecer esse povo pessoalmente logo!! Foi então que joguei a timidez pro alto e fui conhecer o pessoal da Uv Bahia. Já de cara me identifiquei: pessoas que respiravam o U2, que o amor pela banda exalava pelos poros! Pronto, estava em casa!!

Os rumores anunciavam que seriam três datas em abril, e eu só pensava: “já pensou se cai no dia do meu aniversário?”. Quando saiu a primeira data, 09 de abril, quase tive um treco. Sábado, véspera do meu aniversário, lógico que o segundo show seria no dia 10!! Meu presente!

Na véspera de viajar pra São Paulo não consegui dormir, só pensando em tudo que já estava acontecendo. O dia que parecia que não ia chegar nunca, finalmente tinha chegado! Primeiro dia de show: levantamos da cama às 4h, chegamos ao estádio às 5h, entramos correndo feito loucos às 15h e finalmente: GRADE!!! O palco estava ali, bem na minha frente, aquela nave gigante, muito maior do que eu imaginava mesmo tendo visto tantos vídeos e fotos. Fome, sono, frio, cansaço, nada mais existia! Era só eu e um sonho se realizando! Durante o show, a última coisa que eu pensava era em chorar! Eu queria mesmo era curtir cada minutinho daquilo tudo!

Finalmente o dia 10! Não era um domingo qualquer, nem mais um aniversário. Era O aniversário! E foi um dia tão bonito… Amigos, ligações, mensagens, sorrisos, felicidade, e até um bolinho que a linda da Cecília guardou pra mim, com direito a parabéns, infelizmente ela não conseguiu me dar. Mas tudo foi perfeito! Mesmo depois de ter passado a tarde inteira em pé (até hoje não faço ideia de como aguentei!), eu cantei tanto, gritei e vivi tanto aquele momento, que toda vez que penso nele é impossível não abrir um sorriso!

Só no final me permiti chorar! Finalmente um sonho realizado, e momentos que não vou esquecer jamais! O melhor de tudo é que essa banda me trouxe tanta coisa boa, tantos sorrisos, músicas, momentos e principalmente amigos, que comemorar meu aniversário no Morumbi lotado foi sem dúvidas, o melhor presente EVER!!

Iara Vieira de Melo

U2 e Eu: Anameri Bonotto Rodigheri

U2 e Eu: Anameri Bonotto Rodigheri

Eu sou Anameri, mãe de um casal de adolescentes, professora full time, atualmente esposa convicta, e fã dessa banda U2!

Desde pequena me imaginava em lugares com paisagens parecidas com as da Inglaterra e da Irlanda, como sou mais simples e rural do que um ser da cidade, a Irlanda sempre foi minha preferida. Também na escola tive como colegas, duas irmãs “ruivinhas” que se mudaram para o bairro. A família delas havia construído uma casa típica das construções rurais da Irlanda, sabíamos que elas eram filhas de pastor, vindas de um lugar distante. Sempre que surgiam notícias sobre os atentados do IRA, perguntava a meu pai – que adorava história e geografia – onde havia ocorrido aquilo, isso desde 1975. Então parece que tudo ia convergindo para esse meu gosto, ou ao contrário essas coisas me chamavam atenção por eu já ter uma afinidade com este lugar mágico chamado Irlanda.

Essas questões me fizeram voltar no ano 1985, pois é essa a minha primeira memória “u2zística”. Eu sou uma pessoa, em muitos aspectos, um tanto lenta, introspectiva. Gosto de curtir os processos e esse período de minha vida foi conturbado. Não posso dizer que fui uma fã tão dedicada a ponto de mergulhar em tudo o que havia sobre a banda. Era adolescente, envolvida em grupos de jovens na Igreja Católica, num período em que minha mãe estava com câncer, em sua fase terminal. Hoje percebo que naquela época, com 17 anos, já tinha muitos compromissos e atenção voltada às obrigações. Não havia muito espaço para o prazer, não saia muito, ao contrário de minha irmã que passava pelo mesmo período.

No verão de 1985, nas pouquíssimas vezes que saí à noite, ouvi uma música que me agradou muito e que falava em Jesus. Eram as “baladas” de hoje, nem lembro mais como chamávamos as casas em que os jovens se encontravam para paquerar, ouvir música, dançar, beber enfim se divertir. Provavelmente o que fazia sucesso era “Sunday Bloody Sunday”, fiquei com a memória daquele som, daquela voz cheia de “uuu…oooo”. Não procurei nada, imagens, outras músicas, nome da banda. Enquanto isso sem me ligar, minha irmã já tinha várias fitas cassetes gravadas em casa, (achei só mais tarde, entre uns objetos velhos dela, junto com uma camiseta da Pop Tour).

Passou um tempo, e então vi uma imagem do Bono – sim é claro que foi ele quem primeiro me chamou atenção – pelos traços e expressão no olhar marcantes. Era a época do “Joshua Tree”, aquela imagem em preto e branco. Lembrou-me um garoto por quem eu tinha sido apaixonada, até hoje acho que foi a pessoa mais parecida com o Bono que eu vi em minha vida. Motivada pela identificação com a antiga paixão, fui atrás de saber quem eram, desde o nome da banda (puxa um nome tão diferente, uma letra e um número com um significado subentendido), país de origem (“bah”, aquele lugar que já tinha uma admiração) e descobri também que eram engajados… Mas minhas preocupações já eram outras, estudar, casar, sim sempre fui séria, comprometida e focada. Afastei-me da igreja em função da morte de minha mãe, já namorava meu marido (que nunca foi muito fã de música), os momentos e motivos de diversão eram outros.

Me formei, casei, entrei na prefeitura e o U2 lançou Achtung Baby! Ali comecei a abrir espaço maior para o U2, a vida já estava organizada, minha casa, livros, aparelho de som e CDs. Quem governava o Brasil era Collor de Mello, que entre tantos roubos, abriu o comércio de importações. Os CDs eram o que de mais moderno havia. E o meu segundo foi um Achtung Baby, acartonado e importado (depois ele se foi em um assalto), o primeiro do U2 para chamar de meu. Comecei a ouvir e pensei: “Olha aquela banda que me chamou a atenção agora tá ainda melhor!” Comecei especialmente a gostar do som da bateria, mas o Bono era o U2 todo, em minha cabeça.

A vida foi passando com a chegada do primeiro filho. Curtia U2, mas a estética da era Pop me chocou. Não curti tanto assim, não me interessei muito. Em 1998, o U2 veio aqui, pensei “Ah como gostaria de vê-los”. Achava que deixar meu filho de 4 anos com meu marido não seria uma coisa muito legal. Soube de surpresa que minha irmã iria, num bate e volta, pensei: “Mais uma vez fui lenta, kkkkkk…” Segundo ela, foi a pior experiência de sua vida, não pela banda, mas por descobrir que tinha pânico de multidão!

Em 2001, já tinha a segunda filha, o ano era de “Forum Social Mundial” e eu que já tinha sido engajada religiosamente, agora era mais engajada politicamente. Houve um grande boato de que o Bono viria a Porto Alegre. Vi o filme Sunday Bloody Sunday, voltaram as questões que um dia foram significativas em relação à Irlanda. Eles haviam lançado o ATCLB, mais uma vez minha irmã o tinha, eu não adquiri na época (olha a lentidão ai gente!). Mas escutei, curtia. Comecei aos poucos a comprar os CDs anteriores ao Acthung Baby; War, Boy, The Best Of( 1980-1990) entre outros e alguns DVDs. Nesse período, as viagens em família ficaram marcadas para mim com essa trilha sonora: “U2”, antes e depois de AB. Mais que a letra, me importava muito o som que transmitia muita emoção. Cada vez mais mergulhava e o gosto pelo U2 aumentava, mas sempre trabalhei muito e com dois filhos pequenos esse aprofundamento era relativo.

O ano de 2004 foi o ano que eu disse para mim mesma: “Agora um show do U2 não passa em branco”! Ainda não era fã de saber em que mês saía o single. Em novembro deste ano, estava no aguardo para comprar HDAAB. Lembro de que logo que surgiu nas rádios: “Uno dos tres catorce!”, pensei “Caramba, conheço essa voz é o BONO!!!!!!!!!!!!!!!”. Em 2005, me associei ao U2.com (que brindes!!!) e lá com meu inglês arranhado e insuficiente, fiz algumas amizades e comecei a saber mais detalhes da banda e cada vez mais também sobre a Irlanda. Comecei também a ler o Ultraviolet e admirar fãs brasileiros tão entendidos (alguns inclusive eram gaúchos). Não me considero até hoje uma fã tão técnica como muitos, sou mais emocional. Me preocupo muito mais com o que o U2 me faz sentir. Aliás, foi um período de muitas emoções, onde arrisquei até fazer um desenho à giz na parede de meu quarto ao ouvir Stay (não ficou perfeito, mas tenho até hoje).

Conheci o símbolo de COEXIST, um motivo para mais tarde fazer uma tatuagem, pois refletia o que acreditava em termos de religião e de filosofia de vida, “co existir” com as diferenças. Ainda era uma idéia, numa conversa com meu pai (homem culto, porém com pouca escolarização, ai que saudade!). Ele me explicou que em Israel havia um museu com esse nome. A vontade de fazer uma tatuagem esperava a coragem.

E chegou o show de 2006 em meio a uma síndrome de pânico, quase perdi este show novamente (a síndrome da lentidão rondava…). Não conhecia suficientemente os fãs para me organizar e assistir o show junto a eles. A procura pelos ingressos foi uma loucura, quando em Janeiro de 2006 uma amiga metaleira me disse que um amigo seu tinha um ingresso para vender e me atirei (o preço acho que era duas vezes o de pista vendido normalmente). Mas não podia perder esta chance. Lá me fui, minha primeira viagem sozinha. Isso mesmo, com 38 anos, nunca havia viajado sozinha, mas sempre há a primeria vez e o U2 foi o motivo.

Assim como quase perdi o show, muitas coisas quase deram errado e a possibilidade de ir estava cada vez mais distante. Desde o horário em que peguei o avião, até colocar o ingresso nas mãos, foram 21 horas, mas consegui entrar no Morumbi. Tinha combinado encontrar a minha amiga metaleira e, adivinha? Nos perdemos. Conclusão, além de pagar uma fortuna no ingresso, fiquei lááááá atrás. A única coisa que não deu errado foi o momento em que na escuridão, vendo o Bono como uma miragem, ele subiu ao palco com aquela jaqueta verde e amarela. Curei a síndrome do pânico na hora. Que sensação maravilhosa de estar no lugar certo, na hora certa, lembro da brisa agradável, quando tudo escureceu e as pessoas acenderam os celulates, na música “ONE” ou nos “ôôôô” ecoando depois de “With or Without you”!

Logo após o show, chegando em Porto Alegre é que fui conhecer melhor, através das redes sociais, os fãs do U2 no Brasil, pessoas que moravam desde Fortaleza, Pernambuco, passando por Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio até chegar aqui no RS. Cada um queria contar suas aventuras e se conhecer melhor! Na tentativa de prorrogar as emoções dos shows, todos se punham a falar de suas experiências. Muitos destes fui encontrar em abril de 2011.

Nesse momento de emoção, pós-show, decidi fazer minha tatuagem, inspirada no sagrado coração de Jesus (figura muito importante para mim, tanto politicamente como espiritualmente), com a inscrição COEXIST! Não sei de onde surgiu tamanha coragem, pois doeu. Pouco, mas doeu. Só repeti a coragem quando fui à Irlanda.

Em abril, mais ou menos, descubro que em Porto Alegre havia shows cover, foi como descobrir que havia paraíso na terra, já que o céu (show do U2) já havia passado. Passei a curtir muito essa banda, que com a voz do Lelo (Nacional Kid) me fazia sentir num show do U2 de verdade. Além de curtir a música, conheci e convivi mais com o Ricardo Rocha, Andrielly, Ronan, Kamir, Leandro Prass, Bianca, Clau, Thaís e Bruno, Luciano, Fabiane, Vera e com Maria Tereza (nem preciso fazer referência). Uns com maior proximidade, outros nem tanto, mas com pessoas que curtiam essa banda maravilhosa chamada U2.

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Em 2009, fui a Dublin, experiência única, estar num show na casa deles! Conheci pessolmente Ricardo Trotta, Ana Vitti, Adra, Juzinha UV, Cristiano Bayer e também uma amiga do U2.com que mora em Galway. Em 2011, fui a dois shows em SP e tive a oportunidade de conhecer Patrícia, o Suderland, Alessandra Martins e Bruno, FabiAna, ver de longe tantos fãs conhecidos virtualmente como Diógenes, Alex Sander Scofield, Solange Reis… Tudo vivido maravilhosamente de novo!

O U2 me toca e me fez fazer muitas coisas interessantes (me fez conhecer até a Irlanda). Teve força maior em um péríodo conflituoso em minha vida, um período de buscas. Me ajudou a superar coisas ruins. Muitos que me conhecem percebem que eu era mais impulsiva, dançava como uma louca, falava abertamente de mim mesma. Aos poucos, essa busca por equilíbrio, ocorreu. Hoje não sou tão obssessiva com coisas do U2, to curtindo mais sem a preocupação de saber tudo, mais equilibrada, amadureci. Tendo consciência de que, como disse esses dias uma fã (não sei ao certo quem, caso ela leia esse texto, se acuse por favor), sei que “independente da fase em que sua vida se encontre, sempre terá uma música do U2 que se encaixará perfeitamente”.

Se você gostou do relato que leu na coluna “U2 e eu” e quiser contar a história de sua relação com a banda, deixe seu email nos comentários abaixo que entraremos em contato com você.

U2 e Eu: Erika Morais

U2 e Eu: Erika Morais

Inaugurando a nova seção do site da UV, U2 e Eu, leia o relato da Erika Morais.

 

Erika Morais, 30 anos, fã do U2, baiana, Radio Operadora Offshore, Turismóloga, aventureira e mestre em Reboot myself, oh, ohhh.

 

Eles dizem que fazemos o show pra eles.

Ainda com lembranças vivas da espetacular noite POP que tive em 98, eu senti o que eles queriam dizer com isso, na verdade. 22 anos. Após um noivado que não deu certo, lá vou eu realizar o sonho de estudar fora.

 Fui sozinha estudar Inglês e trabalhar em Londres em 2005. Cheguei no dia 15 de junho e fora a felicidade da conquista de estar lá, a alegria também era por conta do feliz verão em que cheguei: o U2 estava em turnê com Vertigo e tocaria em Twickenham, 16km sudoeste de Londres. Depois da frustração em esperar a Elevation Tour, que não passou pelo Brasil, a oportunidade de estar em um show deles novamente causou um verdadeiro frisson interno.

No dia seguinte, aproveitei o fato do apartamento ficar no centro de Londres e fui andar pela cidade. Logo vi as lojinhas com os cartazes dos shows programados para aquele verão. Que surreal aqueles nomes… Principalmente um que tinha data bem próxima. Quando perguntei ao rapaz o valor, quase caio pra trás com as 150 libras que me disse. Devo ter feito uma cara tão triste que o vendedor me puxou de lado e comentou que nos dias do show tinha gente vendendo mais barato por lá. Como assim? Aqui também tem cambista? Meio traumatizada com experiências anteriores ponderei, mas vi que era melhor arriscar e comprar mais barato que gastar quase todo dinheiro do mês (na época, 1 libra era mais ou menos 5 reais). Afinal, ainda ia procurar emprego.

Peguei as instruções de como chegar ao estádio e dia 18, lá estava eu pegando meu primeiro trem na terra da rainha pra ver a banda que mais me emocionava na vida. Logo na chegada me assustei com a quantidade de cambistas. Nossa… Comecei minha odisseia de achar um ingresso pra pista de no máximo 80 libras. Achava que podia sobreviver com esse rombo no orçamento. Mas, após rodar bastante e tomar uma cerveja pra espantar o calor, nada.

Encontrei um que me cobrou 80, mas o ingresso era pra o dia seguinte, domingo. Fiquei meio triste por esperar mais um dia. Mas, pelo menos chegava cedo, ia direto e quem sabe ficava bem na frente.

No dia seguinte, 13h, estava eu lá novamente. Quando fui pra fila e apresentei o ingresso, olha o susto. O ingresso era pra arquibancada. Tá louco! Longe pra burro. Saí da fila xingando o inglês “corno” que me vendeu como pista um ingresso de cadeira e a mim, por ter acreditado no cara e não ter percebido. Fui procurar um cambista pra trocar o ingresso e acabei pagando mais 40 libras… Apertei a tecla “Phoda-se orçamento”, o U2 é mais importante.

Tudo terminou quando passei pela entrada e sai correndo pra pegar um bom lugar, fui seguindo o pessoal correndo em direção ao palco e pensando: meu Deus, tá ficando bem pertinho. Passei por uma entrada pequena e colocaram a pulseirinha do Inner Circle na minha mão. Tive que parar por um momento. Uau!! Inner Circle!! Tá de brincadeira… Pra quem viu a Pop Mart de longe, isso era surreal. Quando vi, lá estava o palco, ao alcance da minha mão. Fiquei tão nervosa, cogitei a possibilidade de ir pra o outro lado ou na frente do palco, mas fiquei com medo. Travei. Tava colada na ponta esquerda do palco. Ali, o show acontecia.

Aproveitando a promoção de ligar pro Brasil a 0,05 pi (centavos) por minuto, sai ligando pra minha mãe, pai, amiga, cachorro. Precisava compartilhar aquela felicidade. A espera foi longa, o show começaria às 20h. Uma vontade de tomar uma, mas a cerveja passava a uns 5m e de jeito nenhum sairia do meu lugar. Achei, naquele momento, os ingleses bem frios, nada de puxar conversas animadas, perguntas, nenhuma ansiedade latente… Vi algumas bandeiras do Brasil, mas distante. As baforadas de cigarro também foram chatas hein, minha lente de contato que o diga. Mas tudo (sede, vontade de fazer xixi, solidão no meio de muita gente) passou quando eles entraram no palco. Não acreditava que estava novamente em um show do U2. Agradeci muito. A primeira impressão que tive quando vi Bono e Edge a 2m de distância e pude ver os detalhes a luz do dia (sim, 20h, mas ainda ensolarado) foi: nossa, como eles estão velhinhos… Acho que um lado meu ainda mantinha (não sei como??) a imagem do Bono do Red Rocks. Boba!

A segunda constatação foi a de como Bono realmente é baixinho… A terceira – e principal – a de que eles despertam o melhor em mim! Lembro que uma amiga sempre falou que, às vezes, eu era uma chata de tão otimista, positiva, do bem. Pra mim, o U2 traduz essa vibe, o que penso e sinto. Um amor bem puro, esperançoso e de boas energias. Mas, todavia, porém… Ainda com um lado meio “Devil’s rock’n’roll” sabe? Sacaninha, que nem chega a ser contraditório, na verdade é um equilíbrio.

Eu chorei muito nas primeiras 6, 7 músicas. Estava realizando um grande sonho após uma época conturbada na vida e eles pareciam coroar essa nova fase da forma mais perfeita. Quando cantaram Sometimes You Can’t Make It on Your Own era pra meu pai que cantava também. Em City of Blinding Lights fez me sentir especial, ter a certeza de que ainda encontraria alguém, veria the beauty inside of me. Meu Deus, eles tocaram Who’s Gonna Ride Your Wild Horses!! Pense em alguém cantando Hey hey sha la la mais alto que o próprio Bono com microfone. Foi maravilhoso…

Mas como sofro de algo chamado “Vergonha Alheia”, teve uma hora que tive de mim mesma. Tentei controlar a emoção. A vibe em que eu estava com certeza não era a mesma do pessoal ao meu lado. Muita máquina fotográfica e celular pra pouco calor humano, falta de emoção mesmo… Depois fiquei foi com vergonha alheia deles, ora bolas. Que plateia mais fria! Deve ser por isso que o U2 gosta tanto de tocar no Brasil. É mais visceral, animado, sincero… Fiquei com saudade do público da POP, no Rio.

Mas pra mim, aquela noite já havia se tornado histórica. E a recarregada de bateria que precisava pra conquistar o mundo, se quisesse.