Eu sou Anameri, mãe de um casal de adolescentes, professora full time, atualmente esposa convicta, e fã dessa banda U2!
Desde pequena me imaginava em lugares com paisagens parecidas com as da Inglaterra e da Irlanda, como sou mais simples e rural do que um ser da cidade, a Irlanda sempre foi minha preferida. Também na escola tive como colegas, duas irmãs “ruivinhas” que se mudaram para o bairro. A família delas havia construído uma casa típica das construções rurais da Irlanda, sabíamos que elas eram filhas de pastor, vindas de um lugar distante. Sempre que surgiam notícias sobre os atentados do IRA, perguntava a meu pai – que adorava história e geografia – onde havia ocorrido aquilo, isso desde 1975. Então parece que tudo ia convergindo para esse meu gosto, ou ao contrário essas coisas me chamavam atenção por eu já ter uma afinidade com este lugar mágico chamado Irlanda.
Essas questões me fizeram voltar no ano 1985, pois é essa a minha primeira memória “u2zística”. Eu sou uma pessoa, em muitos aspectos, um tanto lenta, introspectiva. Gosto de curtir os processos e esse período de minha vida foi conturbado. Não posso dizer que fui uma fã tão dedicada a ponto de mergulhar em tudo o que havia sobre a banda. Era adolescente, envolvida em grupos de jovens na Igreja Católica, num período em que minha mãe estava com câncer, em sua fase terminal. Hoje percebo que naquela época, com 17 anos, já tinha muitos compromissos e atenção voltada às obrigações. Não havia muito espaço para o prazer, não saia muito, ao contrário de minha irmã que passava pelo mesmo período.
No verão de 1985, nas pouquíssimas vezes que saí à noite, ouvi uma música que me agradou muito e que falava em Jesus. Eram as “baladas” de hoje, nem lembro mais como chamávamos as casas em que os jovens se encontravam para paquerar, ouvir música, dançar, beber enfim se divertir. Provavelmente o que fazia sucesso era “Sunday Bloody Sunday”, fiquei com a memória daquele som, daquela voz cheia de “uuu…oooo”. Não procurei nada, imagens, outras músicas, nome da banda. Enquanto isso sem me ligar, minha irmã já tinha várias fitas cassetes gravadas em casa, (achei só mais tarde, entre uns objetos velhos dela, junto com uma camiseta da Pop Tour).
Passou um tempo, e então vi uma imagem do Bono – sim é claro que foi ele quem primeiro me chamou atenção – pelos traços e expressão no olhar marcantes. Era a época do “Joshua Tree”, aquela imagem em preto e branco. Lembrou-me um garoto por quem eu tinha sido apaixonada, até hoje acho que foi a pessoa mais parecida com o Bono que eu vi em minha vida. Motivada pela identificação com a antiga paixão, fui atrás de saber quem eram, desde o nome da banda (puxa um nome tão diferente, uma letra e um número com um significado subentendido), país de origem (“bah”, aquele lugar que já tinha uma admiração) e descobri também que eram engajados… Mas minhas preocupações já eram outras, estudar, casar, sim sempre fui séria, comprometida e focada. Afastei-me da igreja em função da morte de minha mãe, já namorava meu marido (que nunca foi muito fã de música), os momentos e motivos de diversão eram outros.
Me formei, casei, entrei na prefeitura e o U2 lançou Achtung Baby! Ali comecei a abrir espaço maior para o U2, a vida já estava organizada, minha casa, livros, aparelho de som e CDs. Quem governava o Brasil era Collor de Mello, que entre tantos roubos, abriu o comércio de importações. Os CDs eram o que de mais moderno havia. E o meu segundo foi um Achtung Baby, acartonado e importado (depois ele se foi em um assalto), o primeiro do U2 para chamar de meu. Comecei a ouvir e pensei: “Olha aquela banda que me chamou a atenção agora tá ainda melhor!” Comecei especialmente a gostar do som da bateria, mas o Bono era o U2 todo, em minha cabeça.
A vida foi passando com a chegada do primeiro filho. Curtia U2, mas a estética da era Pop me chocou. Não curti tanto assim, não me interessei muito. Em 1998, o U2 veio aqui, pensei “Ah como gostaria de vê-los”. Achava que deixar meu filho de 4 anos com meu marido não seria uma coisa muito legal. Soube de surpresa que minha irmã iria, num bate e volta, pensei: “Mais uma vez fui lenta, kkkkkk…” Segundo ela, foi a pior experiência de sua vida, não pela banda, mas por descobrir que tinha pânico de multidão!
Em 2001, já tinha a segunda filha, o ano era de “Forum Social Mundial” e eu que já tinha sido engajada religiosamente, agora era mais engajada politicamente. Houve um grande boato de que o Bono viria a Porto Alegre. Vi o filme Sunday Bloody Sunday, voltaram as questões que um dia foram significativas em relação à Irlanda. Eles haviam lançado o ATCLB, mais uma vez minha irmã o tinha, eu não adquiri na época (olha a lentidão ai gente!). Mas escutei, curtia. Comecei aos poucos a comprar os CDs anteriores ao Acthung Baby; War, Boy, The Best Of( 1980-1990) entre outros e alguns DVDs. Nesse período, as viagens em família ficaram marcadas para mim com essa trilha sonora: “U2”, antes e depois de AB. Mais que a letra, me importava muito o som que transmitia muita emoção. Cada vez mais mergulhava e o gosto pelo U2 aumentava, mas sempre trabalhei muito e com dois filhos pequenos esse aprofundamento era relativo.
O ano de 2004 foi o ano que eu disse para mim mesma: “Agora um show do U2 não passa em branco”! Ainda não era fã de saber em que mês saía o single. Em novembro deste ano, estava no aguardo para comprar HDAAB. Lembro de que logo que surgiu nas rádios: “Uno dos tres catorce!”, pensei “Caramba, conheço essa voz é o BONO!!!!!!!!!!!!!!!”. Em 2005, me associei ao U2.com (que brindes!!!) e lá com meu inglês arranhado e insuficiente, fiz algumas amizades e comecei a saber mais detalhes da banda e cada vez mais também sobre a Irlanda. Comecei também a ler o Ultraviolet e admirar fãs brasileiros tão entendidos (alguns inclusive eram gaúchos). Não me considero até hoje uma fã tão técnica como muitos, sou mais emocional. Me preocupo muito mais com o que o U2 me faz sentir. Aliás, foi um período de muitas emoções, onde arrisquei até fazer um desenho à giz na parede de meu quarto ao ouvir Stay (não ficou perfeito, mas tenho até hoje).
Conheci o símbolo de COEXIST, um motivo para mais tarde fazer uma tatuagem, pois refletia o que acreditava em termos de religião e de filosofia de vida, “co existir” com as diferenças. Ainda era uma idéia, numa conversa com meu pai (homem culto, porém com pouca escolarização, ai que saudade!). Ele me explicou que em Israel havia um museu com esse nome. A vontade de fazer uma tatuagem esperava a coragem.
E chegou o show de 2006 em meio a uma síndrome de pânico, quase perdi este show novamente (a síndrome da lentidão rondava…). Não conhecia suficientemente os fãs para me organizar e assistir o show junto a eles. A procura pelos ingressos foi uma loucura, quando em Janeiro de 2006 uma amiga metaleira me disse que um amigo seu tinha um ingresso para vender e me atirei (o preço acho que era duas vezes o de pista vendido normalmente). Mas não podia perder esta chance. Lá me fui, minha primeira viagem sozinha. Isso mesmo, com 38 anos, nunca havia viajado sozinha, mas sempre há a primeria vez e o U2 foi o motivo.
Assim como quase perdi o show, muitas coisas quase deram errado e a possibilidade de ir estava cada vez mais distante. Desde o horário em que peguei o avião, até colocar o ingresso nas mãos, foram 21 horas, mas consegui entrar no Morumbi. Tinha combinado encontrar a minha amiga metaleira e, adivinha? Nos perdemos. Conclusão, além de pagar uma fortuna no ingresso, fiquei lááááá atrás. A única coisa que não deu errado foi o momento em que na escuridão, vendo o Bono como uma miragem, ele subiu ao palco com aquela jaqueta verde e amarela. Curei a síndrome do pânico na hora. Que sensação maravilhosa de estar no lugar certo, na hora certa, lembro da brisa agradável, quando tudo escureceu e as pessoas acenderam os celulates, na música “ONE” ou nos “ôôôô” ecoando depois de “With or Without you”!
Logo após o show, chegando em Porto Alegre é que fui conhecer melhor, através das redes sociais, os fãs do U2 no Brasil, pessoas que moravam desde Fortaleza, Pernambuco, passando por Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio até chegar aqui no RS. Cada um queria contar suas aventuras e se conhecer melhor! Na tentativa de prorrogar as emoções dos shows, todos se punham a falar de suas experiências. Muitos destes fui encontrar em abril de 2011.
Nesse momento de emoção, pós-show, decidi fazer minha tatuagem, inspirada no sagrado coração de Jesus (figura muito importante para mim, tanto politicamente como espiritualmente), com a inscrição COEXIST! Não sei de onde surgiu tamanha coragem, pois doeu. Pouco, mas doeu. Só repeti a coragem quando fui à Irlanda.
Em abril, mais ou menos, descubro que em Porto Alegre havia shows cover, foi como descobrir que havia paraíso na terra, já que o céu (show do U2) já havia passado. Passei a curtir muito essa banda, que com a voz do Lelo (Nacional Kid) me fazia sentir num show do U2 de verdade. Além de curtir a música, conheci e convivi mais com o Ricardo Rocha, Andrielly, Ronan, Kamir, Leandro Prass, Bianca, Clau, Thaís e Bruno, Luciano, Fabiane, Vera e com Maria Tereza (nem preciso fazer referência). Uns com maior proximidade, outros nem tanto, mas com pessoas que curtiam essa banda maravilhosa chamada U2.
Em 2009, fui a Dublin, experiência única, estar num show na casa deles! Conheci pessolmente Ricardo Trotta, Ana Vitti, Adra, Juzinha UV, Cristiano Bayer e também uma amiga do U2.com que mora em Galway. Em 2011, fui a dois shows em SP e tive a oportunidade de conhecer Patrícia, o Suderland, Alessandra Martins e Bruno, FabiAna, ver de longe tantos fãs conhecidos virtualmente como Diógenes, Alex Sander Scofield, Solange Reis… Tudo vivido maravilhosamente de novo!
O U2 me toca e me fez fazer muitas coisas interessantes (me fez conhecer até a Irlanda). Teve força maior em um péríodo conflituoso em minha vida, um período de buscas. Me ajudou a superar coisas ruins. Muitos que me conhecem percebem que eu era mais impulsiva, dançava como uma louca, falava abertamente de mim mesma. Aos poucos, essa busca por equilíbrio, ocorreu. Hoje não sou tão obssessiva com coisas do U2, to curtindo mais sem a preocupação de saber tudo, mais equilibrada, amadureci. Tendo consciência de que, como disse esses dias uma fã (não sei ao certo quem, caso ela leia esse texto, se acuse por favor), sei que “independente da fase em que sua vida se encontre, sempre terá uma música do U2 que se encaixará perfeitamente”.
Se você gostou do relato que leu na coluna “U2 e eu” e quiser contar a história de sua relação com a banda, deixe seu email nos comentários abaixo que entraremos em contato com você.
Eu gostaria de relatar minha experiência tb…acharei muito importante…experiências sempre são bem recebidas… jaquelinegfarias@hotmail.com.
Obrigada…Jacqueline Farias
Jaqueline, procure mensagem em seu email… Abraços
Adorei ler teu relato, querida amiga, obrigada por dividir com a gente tuas vivências e sentimentos com relação ao U2. Lembro sempre com saudades das nossas aventuras na Irlanda, do show que assistimos juntas lá, e também dos encontros de fãs aqui em Porto Alegre, embalados pela banda do Lelo. Espero que em 2014 tenhamos músicas novas e novos shows para irmos juntas!
Eu sim!!!
Maryucha. Se você quiser escrever para a coluna, entre em contato comigo, por favor.
patsmoura-40@hotmail.com
Fala Anameri, eu também estive em Dublin em 2009….Croke Park… até hoje sinto aquele local…Sou de juiz de fora -MG e gostaria de ter uma rede de contato melhor com os fãs do U2 no site… Aqui, infelizmente conheço poucos….
Sandro. procure o grupo Ultraviolet no Facebook. Lá é mais fácil de entrar em contato com outrios fãs…