Grupo francês Vivendi Universal ocultou perda bilionária. WorldCom apela ao governo americano

PARIS E NOVA YORK – A série de escândalos contábeis cruzou o Atlântico e começou ontem a fazer estragos também na Europa. Desta vez, foi o conglomerado francês de mídia Vivendi Universal que provocou um terremoto nas bolsas de valores. Reportagem do diário Le Monde revelou que as contas da empresa referentes a 2001 estão sendo investigadas pelas autoridades francesas, que detectaram um estratagema para maquiar perdas de 1,5 bilhão de euros (R$ 4,3 bilhões). A Bolsa de Paris teve o pregão interrompido seis vezes e as ações da companhia, que chegaram a despencar 41%, fecharam em baixa de 25,5%. Seu valor de mercado encolheu 8,5 bilhões de euros (quase R$ 19 bilhões).

O grupo ocultou a venda de ações que detinha na BSkyB, operadora de TV via satélite britânica. Sem a operação no balanço, registrou lucro. O prejuízo foi varrido para baixo do tapete com a ajuda da Arthur Andersen, mesma auditora que participou das fraudes na Enron, gigante americana de energia que quebrou no fim do ano passado. Segundo um funcionário do órgão regulador do mercado francês, foi “uma estupenda obra financeira”. A descoberta da fraude fez duas agências de classificação de risco – Moody’s e Standard & Poor’s – rebaixarem sua nota.

A Vivendi nasceu há 150 anos, como uma companhia de água e esgoto. Na gestão de Jean-Marie Messier, presidente destituído esta semana, o grupo incorporou a canadense Seagram (dona da Universal) e a USA Networks, tornando-se um gigante de mídia e entretenimento, com negócios em TV, internet e indústria fonográfica. O elenco de suas gravadoras reúne estrelas como o grupo U2, o cantor Sting e o rapper Eminem.

O nervosismo dos investidores contaminou os mercados ao redor do planeta. O índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, fechou em baixa de 2,9%, enquanto o DAX, de Frankfurt, recuou 3,9%. As bolsas americanas também caíram, afetadas ainda por relatórios negativos sobre resultados de empresas de tecnologia e por temores de novos atentados no Dia da Independência (4 de julho). O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, teve queda de 1,12% e o Nasdaq, de 3,27%. A Bolsa de Valores de São Paulo acompanhou o pessimismo e fechou em baixa de 0,42%.

O escândalo da Vivendi Universal é mais um capítulo da novela que estreou no ano passado, com a quebra da Enron, e em junho teve desdobramentos, com a revelação da fraude de US$ 3,8 bilhões nos balanços da gigante de telefonia americana WorldCom – dona da Embratel.

Analistas temem a falência da WorldCom, que poderia causar um efeito-dominó nas empresas de tecnologia e nos bancos credores. Ontem, seu novo presidente, John Sidgmore, aproveitou o clima de histeria para defender um socorro do governo à empresa. “Creio que seja do interesse da segurança nacional, dos milhões de clientes e dos acionistas fazer da sobrevivência da WorldCom uma prioridade”, disse, lembrando que o grupo responde por metade do tráfego mundial de dados na internet e tem, entre seus clientes, os Departamentos americanos de Defesa e de Estado.