Na mesma época em que o novo álbum do Daft Punk ainda está reverberando – adoro Get Lucky, Lose Yourself to Dance e Beyond, entre outras – definitivamente “Daft Punk is Playing in my House”, mas não esperava que eu fosse presenciar o U2 tocando no meu escritório… e foi exatamente o que aconteceu na última sexta feira.
Estou trabalhando com a equipe do InsideOut Project desde que voluntariei na ação que eles fizeram na Times Square no início de maio. É uma oportunidade única, além de ser fantástico me relacionar com uma pessoa como o JR, o cara que criou o InsideOut a partir de um desejo de que a arte pudesse ajudar a mudar o mundo.
Na sexta passada estávamos preparando dois murais em um prédio do West Village quando, perto das 5PM eu já estava pronto pra ir embora, mas me prontifiquei a ajudar o JR em uma colagem que poderia acontecer durante a noite. Como quero mostrar trabalho, não me importaria de trabalhar numa sexta a noite… Nem achei que fosse rolar, mas ainda assim…
Perto das 6.30PM vejo um e-mail dele: apareça no Electric Lady Studio em 15 minutos; venha sozinho. Vou admitir que nem reparei que era um dos estúdios mais famosos da história da música, coisa que só percebi quando cheguei lá e vi a capa do Random Access Memories, do Daft Punk, decorando a parede. Mas, ainda assim, nem poderia imaginar o que estava pra acontecer!
Assim que o JR chegou no estúdio, com mais duas pessoas do time do InsideOut, fomos levados para o telhado do prédio, onde um set completo de gravação estava montado. Carregar um balde de 25kg de cola por 5 andares não foi nada fácil! Não tinham se passado nem 5 minutos que estávamos lá em cima, chega um cara, que foi “apresentado” como o Diretor de Arte da gravação: Bono em pessoa! Nem pude acreditar! Juro que foi tudo tão rápido que nem deu tempo de ficar nervoso! Assim que o JR abraçou ele, nós 3 do time fomos apresentados, apertando a mão do líder da banda que mais adoro! Mas estávamos lá pra trabalhar, e começamos a colar os pôsteres numa das paredes.
Bono conhecia JR há algum tempo e, no meio da tarde, o chamou perguntando se, no InsideOut – o maior projeto de arte colaborativa do mundo – ele tinha alguma foto que tivesse sido tirada no Irã. A gravação, descobri depois, era para um documentário e o U2 foi convidado para gravar uma mensagem especial para o povo iraniano. Quem acompanha o U2 sabe que já há algum tempo eles têm apoiado a democracia iraniana em ações durante as turnês. E uma das ações mais interessantes do InsideOut foi em Teerã, quando um único retrato, de alguém protegido por um véu – algo que até vai contra as diretrizes do projeto – foi colado em diversos locais da cidade. A proteção do ativista é essencial, em um país onde a liberdade de expressão pode ser punida com pena de morte. E foi este o pôster que colamos lá, junto com alguns outros, de nova iorquinos, tirados na cabine fotográfica da Times Square.
Colamos os pôsteres e, quando estávamos por acabar, os demais membros do U2 foram aparecendo – Adam, Larry e The Edge. Terminamos a colagem, limpamos a área e nos acomodamos para acompanhar um pouco da gravação.
Eles estavam gravando uma versão especial de “Sunday, Bloody Sunday”, durante o pôr do sol, no terraço de um estúdio de Nova York. E eu estava lá acompanhando tudo, com um sorriso que não saía do rosto e uma felicidade monstruosa que preenchia meu corpo. Uma sensação indescritível! Foram alguns takes, cerca de uns 15 minutos de puro deleite! Até que eles desceram de volta pro estúdio – descobri depois que estão finalizando a gravação e edição do novo álbum, mas disso não sei nada mais! – e nós caímos fora. JR me pediu pra ajudar a recolher o material que estavam usando na colagem da tarde – que ainda não tinha terminado e depois recolher tudo ao estúdio e ajudar a limpar a bagunça. Depois do que ele me proporcionou, trabalharia até a meia noite pra ele, sem pestanejar! Ainda bem que aceitei… o melhor ainda estava por vir!
Tivemos que esperar o final da colagem por uns 30 minutos antes de voltarmos ao estúdio, onde estava rolando uma festa. Limpei todo o material – pincéis, baldes e rodos, cheios de cola – me limpei e nos juntamos à festa. Gente bacana, boa música e comida, mas eu não conhecia ninguém… Fiquei então no meu fone, mandando mensagens e comentários às fotos do U2 que já tinha publicado antes. Mal tinha acabado de escrever pra minha cunhada, que sim, tinha “conversado” com o Bono, ao comprimentá-lo “Hello, I’m Jaime”… e só… quando…
Quando o próprio Bono entra no estúdio, acompanhado do The Edge, do Adam Clayton e do Chris Martin do Coldplay. Eu estava bem na entrada e já fui agradecendo ao Bono pelo show no terraço… ele vem e me abraça! (heaven, I’m in heaven!), dizendo que eu não precisava agradecer… trocamos mais algumas palavras antes dele receber um prato e ir sentar para poder comer… Não, não pára por aí!
Depois de algum tempo, vi que minhas amigas do projeto estavam batendo um papo com o Chris Martin e o The Edge, no sofá, e resolvi me aproximar. Logo em seguida o Chris elogia meu bigode e começamos a falar de barbas, bigodes e cavanhaques – Chris comentando que o The Edge tem o cavanhaque mais famoso da história do rock! Me senti o máximo quando expliquei pro The Edge que ele, há alguns anos, usava um bigode tipo Fu Manchu… Quando é que eu poderia ter imaginado uma situação dessas?!?
O papo terminou quando fomos chamados pra tirar a foto tradicional “The Family”, que rola em todas as festas que acontecem no estúdio: todos vão para a escada e a foto, impressa em tamanho grande, é colocada no chão para que os convidados desenhem em cima. Quando percebi que o The Edge estava “desenhando comigo”, não exitei e coloquei um bigode na foto dele, que olhou pra mim e deu uma piscadinha.
Outra tradição da festa é que os convidados devem levar um livro ou um desenho… como os convidados especiais não tiveram tempo de preparar estes presentes, o anfitrião, JR, disse que nós, outros convidados, os perdoaríamos se eles cantassem alguma coisa. E, fechando minha aventura com chave de ouro, assistimos o Bono com o The Edge cantando uma versão super intimista de Sunday, Bloody Sunday, bem na sala onde eu trabalho. U2 is playing in my office!
Só pra comentar os boatos:
Pelo que entendi o U2 estava no Electric Land trabalhando no novo álbum e aproveitaram a oportunidade pra fazer esta apresentação pro documentário. Disso eu não sei mais nada… quem me dera!
O Chris Martin, do Coldplay, estava também no estúdio – e até fez uma aparição no telhado, pulando e cantarolando, em um dos breaks da gravação. Não sei se ele estava gravando pro Coldplay ou realmente colaborando com o U2.
A gravação no telhado não foi para o InsideOut, como a Rolling Stones reportou. Fomos convidados para “decorar” o set e só isso!
Foram muitas, mas muitas emoções e são lembranças que nunca mais vou esquecer! Coisas que só acontecem em Nova York, mesmo!!
Agradecimento: Regiane Batista
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