Tag: Songs of Innocence

“Flashbacks para Songs of Innocence”

“Flashbacks para Songs of Innocence”

Quem baixou Songs of Innocence via iTunes percebeu que, além das músicas, havia um arquivo PDF, que era o encarte do álbum. Além das letras e algumas fotos, nas últimas páginas há um texto escrito por Bono, que você confere traduzido agora.

Clique nas imagens para ampliar.

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Como a crítica reagiu a Songs of Innocence

Como a crítica reagiu a Songs of Innocence

Do ponto de vista dos fãs que acompanham a banda há muitos anos, a impressão geral sobre Songs of Innocence é boa. As músicas parecem ter agradado a maioria dos fãs. O mesmo não se pode dizer da imprensa: parte considerável das resenhas publicadas em revistas de música, cadernos de entretenimento de jornais e mesmo sites independentes não poupou críticas. Dentre estas, a sensação que fica é que existe certa aversão em relação à postura de Bono e todas as suas atividades não relacionadas à música, e que isto contaminou, possivelmente, avaliações que poderiam ter sido mais isentas.

Selecionamos uma lista com as principais resenhas publicadas nos dias seguintes ao lançamento, incluindo 10 revistas especializadas em música, com um pequeno resumo. Clique nos links para acessar os sites e ler na íntegra.

Em inglês:

Revistas de música

Rolling Stone (EUA)
A revista foi a primeira a publicar uma resenha do álbum, minutos após o lançamento – o que leva a crer que eles tiveram acesso com exclusividade. É uma avaliação bastante positiva, com direito a 5 estrelas. O faixa a faixa conta um pouco da história de cada música, pontuando com declarações de Bono (que deu entrevista à revista) e trechos das letras, e avaliando a musicalidade e a influência dos produtores.


Hot Press
A Hot Press também avaliou bem o álbum, descrevendo cada faixa em seus pontos altos. Destaca o lado emocional de Iris, considerada brilhante e “de arrepiar o cabelo da nuca”, além da pegada crua da guitarra de Volcano – comparando-a a Elevation.O artigo cita uma das possíveis inéditas, “Lucifer’s hands”, descrevendo-a como “a big tough dirty rock track” (uma faixa rock grande, durona e suja).

Billboard
Crítica favorável, que afirma que a ousada estratégia de lançamento do álbum só poderia ter dado certo vindo de “uma banda que leva estádios abaixo com sua música colossal”. E crava: “Melhores faixas: Volcano, This is Where You Can Reach Me e Iris”.
NME
A New Musical Express tem uma relação de amor e ódio com o U2 há tempos. No texto sobre o novo álbum isso fica claro – a avaliação 4/10 não se preocupa em mostrar os pontos altos, focando apenas em apontar falhas em cada uma das faixas – dizendo, por exemplo, que California “evoca imagens simplistas”, e que em Iris há “um dos poucos momentos em que Bono não força a barra”. Para finalizar, afirma que This is Where You Can Reach Me “fede”.
Mojo
Este texto destrincha o álbum, tentando desvendar cada canção e posicioná-la no contexto histórico de maneira positiva. Descreve Songs of Innocence como “o mais surpreendentemente fresco, enérgico e coeso álbum do U2 em anos” e “o álbum com a temática mais completa desde Achtung Baby”. Vale a leitura, que vai fundo no detalhamento de cada faixa, inclusive com riqueza de curiosidades e fatos pouco conhecidos.
Pitchfork
Resenha neutra, que mostra Songs of Innocence como um álbum mediano, sem nada de especial. Afirma, entre outras coisas, que a mensagem geral é “emocional porém sem forma, na esperança de que se encaixe na experiência das pessoas”, e que o U2 continua demonstrando “pouco interesse em se reavaliar como banda ou como pop stars”. Dá, porém, destaque a algumas faixas, ressaltando suas características positivas.


Paste Magazine
Mais um texto que avalia de forma relativamente tranquila o álbum, sem exaltar nem criticar em excesso. A resenha ressalta que o U2 faz um flashback de sua carreira, mas sem tentar refazer os passos que os levaram ao sucesso, reservando a nostalgia para as letras. E que a banda criou “um olhar para o passado com as lentes do presente”.


Consequence of Sound
Esta crítica se apoia mais na estratégia de lançamento do que na música em si. Chama a parceria com a Apple de “arrogante” e “marketing de guerrilha que empurrou o álbum goela abaixo nas pessoas”. No entanto, faz seu mea-culpa ao afirmar que o “não é de todo ruim (…) e soa aos ouvidos do mesmo jeito que qualquer outro disco do U2”. Destaca como “faixas essenciais” Song for Someone, Iris e Sleep Like a Baby Tonight.
Spin
O autor já começa a crítica dizendo que gostava apenas do U2 dos anos 80 e que não é lá muito fã dos trabalhos mais recentes, nem da conduta de “benfeitor” de Bono. Mas consegue avaliar Songs of Innocence a partir da perspectiva de volta às origens que a banda buscou, mesmo dizendo que não se comoveu com músicas como Iris e Every Breaking Wave.
Vulture
O título do texto é um tanto sensacionalista: “Songs of Innocence é totalmente lindo e totalmente entediante”. Abre comparando a grandiosidade do lançamento à crítica que o U2 fazia ao capitalismo na turnê Zoo TV, mas consegue ser relativamente sóbrio ao falar do álbum e citar seus altos e baixos. É um texto extenso e interessante, com um toque de ironia, mas sem pender para a arrogância.

 

Jornais da Irlanda, Grã Bretanha e Estados Unidos:

Irish Times

Independent

Daily Mail

Daily Telegraph (texto por Neil McCormick, que acompanha o U2 desde o início da carreira)

The Guardian

US News

USA Today

New York Times

Financial Times

New York Post

Los Angeles Times

Revista Time

Revista Newsweek
No Brasil (jornais e sites):

Estado de S. Paulo

Folha de S. Paulo

Veja

Whiplash

Portal R7

 

Revista Rolling Stone americana foi a primeira a entrevistar Bono sobre Songs of Innocence

Revista Rolling Stone americana foi a primeira a entrevistar Bono sobre Songs of Innocence

Na véspera do lançamento de Songs of Innocence o repórter Gus Wenner, da revista Rolling Stone americana, entrevistou Bono. Confira a tradução do artigo publicado no site da revista.

 

O U2 surpreendeu o mundo hoje ao lançar Songs of Innocence, seu primeiro álbum em cinco anos, como um presente da Apple disponível de graça a qualquer um que tenha iTunes. A banda fez o anúncio com o CEO da Apple, Tim Cook, na conferência de imprensa de Cupertino para o novo iPhone 6, coroando o evento com uma performance do primeiro single do álbum, “The Miracle (of Joey Ramone)”. Depois de serem aplaudidos de pé, Cook disse: “Esse não foi o single mais incrível que você já ouviu? Adoraríamos um álbum inteiro disso.”

“A questão agora é, como podemos fazê-lo chegar ao maior número de pessoas possível, porque é disso que se trata a nossa banda”, disse Bono. “Acredito que você tem mais de meio bilhão de assinantes do iTunes, então – você conseguir levar isso a eles?” “Se nós dermos de graça [sim]”, Cook respondeu. E cinco segundos depois, o álbum foi liberado e se tornou o maior lançamento do álbum de todos os tempos.

“Nós queríamos fazer um álbum muito pessoal”, Bono disse a Gus Wenner da Rolling Stone um dia antes da conferência de imprensa em uma entrevista exclusiva. “Somos nós tentando tentar descobrir por que queríamos estar em uma banda, nas relações em torno da banda, nossas amizades, nossos amantes, nossa família. O álbum todo é sobre nossas primeiras jornadas – primeiras jornadas geográficas, espirituais, sexuais. Foi difícil. Mas nós conseguimos”.

A banda trabalhou em ‘Innocence’ por dois anos com o produtor Danger Mouse (a.k.a. Brian Burton), para depois trazer ajuda extra: Flood, colaborador desde The Joshua Tree, de 1987, além dos produtores de Adele, Paul Epworth e Ryan Tedder. “Eu acho que tê-los por perto ajudou muito”, diz Bono. “A música que se chama de pop por aí, não é pop – é apenas ótima. E queríamos ter a disciplina dos Beatles ou os Stones dos anos 60, quando havia músicas reais. Não há onde se esconder nelas: pensamentos claros, melodias claras”.

Para começar, a banda voltou às suas raízes: Bono diz que o grupo ouviu as músicas que eles amavam nos anos 70, de punk rock a Bowie, glam rock, primórdios da música eletrônica e Joy Division. O álbum abre com “The Miracle (of Joey Ramone)”, uma canção pop de galope amarrada com acordes distintamente punk. “Eu encontrei a minha voz através de Joey Ramone”, diz Bono, “porque eu não era um cantor punk-rock óbvio, ou mesmo um cantor de rock. Eu cantava como uma menina – coisa que eu curto agora, mas quando eu tinha 17 ou 18 anos, não tinha certeza. Então eu ouvi Joey Ramone, que cantava como uma menina, e foi a minha porta de entrada”.

A forte e pintada de reggae “This Is Where You Can Reach Me Now” é um tributo ao The Clash, com guitarras furtivas de The Edge que flertam com Sandinista!. “Depois que vimos o Clash, foi meio que uma espécie de modelo para o U2”, diz Bono. “Nós sabíamos que não poderíamos sequer esperar ser tão legais, e isso provou ser verdadeiro, mas nós achamos sim que poderíamos nos posicionar com um tipo de agenda de justiça social.”

Há também uma canção muito pessoal sobre a mãe de Bono, Iris Hewson, que morreu quando ele tinha 14 anos. “Quarenta anos atrás, minha mãe caiu no funeral de seu próprio pai, e eu nunca mais pude falar com ela de novo”, diz ele. “A raiva sempre sucede o luto, e eu tinha um monte de raiva, e ainda tenho, mas eu a canalizava através da música, e ainda o faço. Tenho poucas lembranças de minha mãe, e coloquei algumas delas em uma música chamada ‘Iris'”.

A faixa mais alegre em Songs of Innocence é “California (There Is No End to Love)”, que inesperadamente flerta com os Beach Boys em sua introdução. “É como o próprio sol”, diz Bono. “É sobre a nossa primeira viagem para Los Angeles”. A faixa mais obscura, por sua vez, é “Raised by Wolves”, que fala sobre a fatal detonação de um carro-bomba em Dublin. “Foi um incidente real que aconteceu em nosso país, no qual três carros-bomba foram preparados para explodir ao mesmo tempo em Dublin numa tarde de sexta-feira, às 17h30,” diz Bono. “Em qualquer outra sexta-feira eu teria ido àquela loja de discos, dobrando a esquina, mas naquele dia eu fui para a escola de bicicleta”.

Em alguns momentos Songs of Innocence dá a impressão de ser quase um álbum conceitual sobre os primeiros anos de Bono – há até uma faixa com o nome da rua onde o cantor cresceu, [chamada] “Cedarwood Road”. “O álbum tem uma coesão lírica que eu considero única entre os álbuns do U2”, diz Bono, “Eu não quero que seja um álbum conceitual, mas as músicas vêm de um mesmo lugar. Edge riu e disse que este é o nosso Quadrophenia. Se tivéssemos essa sorte”.

Atualização: A Apple enviou uma nota à Rolling Stone informando o número de pessoas que ouviram Songs of Innocence na primeira semana. “Queríamos agradecer aos nossos clientes e compartilhar nosso amor pela música dando a eles Songs of Innocence”, disse Eddy Cue, vice-presidente sênior de Software e Serviços de Internet da Apple. “Apenas seis dias após seu lançamento no iTunes, um recorde de 33 milhões de pessoas já ouviram o álbum.”

 

Rolling Stone

A Dublin de Bono: “bem longe de onde eu venho”

A Dublin de Bono: “bem longe de onde eu venho”

O jornal Irish Times, da Irlanda, publicou esta imperdível reportagem, fruto de uma conversa do jornalista Brian Boyd com Bono e The Edge. Confira a tradução.

Enquanto brigava com seu novo álbum, o U2 buscou inspiração na Dublin dos anos 1970, um lugar de violência oculta, o lar de uma nova cena da new-wave e de um grupo de amigos que ainda não eram o U2. “Muita merda aconteceu”, diz Bono

Bono se inclina em direção ao meu rosto até que nossos narizes quase se toquem, e canta, sem acompanhamento: ““Life begins with the first glance, the first kiss at the first dance, all of us are wondering why we’re here, in the Crystal Ballroom underneath the chandelier… We are the ghosts of love and we haunt this place, in the ballroom of crystal lights, everyone is here with me tonight, everyone but you”. [“A vida começa com o primeiro olhar, o primeiro beijo na primeira dança, todos nós estamos nos perguntando por que estamos aqui, no Salão de Cristal debaixo do lustre… Nós somos os fantasmas do amor e assombramos este lugar, no salão de das luzes de cristal, todo mundo está aqui comigo hoje à noite, todo mundo menos você”] É sean-nós (*dança irlandesa) de óculos escuros.
N.T. – The Crystal Ballroom é uma das músicas inéditas que estarão na edição deluxe de Songs of Innocence.

“Eu preciso te contar uma coisa muito estranha sobre esta canção”, diz ele. “Chama-se The Crystal Ballroom, que costumava ser o nome do McGonagles (*casa de shows) na South Anne Street [atualmente fechado]. Uma geração inteira de dubliners ia a bailes no Crystal Ballroom, e muitos casais se conheceram lá. Minha mãe e meu pai costumavam dançar juntos no Crystal Ballroom, de modo que a música que eu acabei de cantar, e que ainda não foi lançada, sou eu imaginando que estou no palco do McGonagles com minha banda nova que se chama U2 – e de fato fizemos vários shows importantes lá, no início. E eu olho para a plateia e vejo minha mãe e meu pai dançando romanticamente ao som do U2 no palco”.

Bono respira fundo e, falando devagar, diz: “Acabo de perceber que ontem fez 40 anos que minha mãe morreu, e que hoje estamos aqui tocando nosso novo álbum sobre Dublin, que é sobre a minha família e o que aconteceu comigo quando adolescente”.

“Minha mãe morreu no funeral do pai dela. Ela teve um aneurisma cerebral. Eu só tinha 14 anos. E nesta canção eu canto “Todo mundo está aqui esta noite, todo mundo menos você”. E esse sou eu querendo ver minha mãe dançar novamente no Crystal Ballroom, e que ela visse o que aconteceu com o filho dela”.

Tudo sobre minha mãe

Estamos em uma sala sem janelas na sede da Apple no Vale do Silício, na cidade californiana de Cupertino. O U2 acaba de ajudar a lançar uma série de produtos da Apple, e foi anunciado que seu novo álbum, Songs of Innocence, foi dado aos clientes do iTunes.

The Edge também está aqui. Ele mexe no celular, encontra Crystal Ballroom e aperta o play. Silêncio na sala enquanto a música toca. Depois de uma longa pausa, um claramente chateado Bono sussurra: “o espírito dela estava conosco hoje”.

Este novo álbum do U2 poderia ser o “Tudo Sobre Minha Mãe” de Bono. A música Iris (Hold Me Close) – Iris era o nome de sua mãe – o mostra cantando sobre a morte prematura dela. “The ache in my heart is so much a part of who I am (…) Hold me close and don’t let me go (…) I’ve got your life inside of me (…) We’re meeting up again”. [“A dor no meu coração é uma parte tão grande de quem eu sou (…) Me abrace forte e não me solte (…) Eu tenho a sua vida dentro de mim (…) Vamos nos encontrar de novo”]

Ao se levantar e caminhar pela sala, ele destaca um trecho da letra. “Eu canto um verso que diz “Iris standing in the hall, she tells me I can do it all” [“Iris está parada no corredor, ela me diz que eu posso fazer tudo”], e então tem a típica frase de mãe que ela me dizia: “You’ll be the death of me” (“você ainda me mata”). Mas não fui eu. Eu não causei a morte dela. Eu não a matei”.

“A [figura da] mãe é tão, tão importante no rock. Mostre-me um grande cantor e eu te mostro que é alguém que perdeu a mãe muito cedo. Há Paul McCartney, há John Lennon. Olhe para Bob Geldof e o que aconteceu com a mãe dele”.

“No hip hop é o contrário, é tudo sobre o pai – ser abandonado pelo pai e ser criado por uma mãe solteira. Mas, para mim, é tudo sobre a mãe. Eu tinha raiva e tristeza [por causa da] minha mãe. Eu ainda tenho raiva e tristeza por isso. Mas eu canalizei essas emoções na música, e eu ainda o faço. Tenho poucas lembranças de minha mãe, mas todas elas estão na música Iris”.

A mãe de Bono o viu cantar no palco apenas uma vez, antes do U2, mas Bono já disse que, se ele pudesse reviver apenas um momento de sua vida, ele iria voltar ao dia que cantou na frente de sua mãe pela primeira vez.

Bono aos 14 anos de idade – na época apenas Paul Hewson – tinha uma relação tensa com seu irmão Norman (oito anos mais velho) e com seu pai, ao crescer em Cedarwood Road, em Glasnevin, no norte de Dublin, após a morte da mãe.

Sem mãe, Bono se encontrava batendo à porta de seus vizinhos: dos Rowens na hora do almoço, dos Hanveys na hora do chá. Derek Rowen se tornaria o artista Guggi. Fionán Hanvey se tornaria o músico Gavin Friday, do Virgin Prunes.

Na nova canção Cedarwood Road Bono fala sobre a árvore cerejeira no jardim [da casa] dos Rowen: “I was looking for a soul that’s real. Then I ran into you, and that cherry blossom tree was a gateway to the sun” [“Eu estava procurando por uma alma que fosse real. Então eu te encontrei, e aquela árvore cerejeira era uma porta de entrada para o sol”] Nos subúrbios de Dublin da década de 1970, Bono diz, a cerejeira”parecia ser a coisa mais luxuosa”.

The Edge então interrompe, incluindo na conversa alguns detalhes sobre a política da Câmara Municipal de Dublin sobre as cerejeiras. Como ele sabe disso eu não faço ideia.

Finglas, Cabra, SFX

Songs of Innocence mostra o U2 tentando se reconectar com os prazeres adolescentes do final da década de 1970 em Dublin e seu cenário new-wave, centrado no McGonagles, no Dandelion Market e com incursões estranhas no SFX ou no Top Hat, em Dún Laoghaire.

“Somos nós tentando descobrir por que queríamos estar em uma banda, as relações em torno da banda e nossas primeiras jornadas – geográficas, espirituais e sexuais. Foi difícil e demorou anos. Vamos colocar desta forma: muita merda aconteceu “, diz Bono.

Com canções sobre Finglas, sobre ir ver os Ramones tocar no Cabra Grand e pegar um ônibus até College Green para ver o The Clash tocar no Trinity College, este álbum parece décadas distante de seu último. E de certa forma é.

Quando Bono conversou com o Irish Times na época do lançamento de No Line on the Horizon, em 2009, ele levou este repórter até a sala de sua casa em Dalkey, abriu as janelas e mostrou sua vista do Mar da Irlanda, um panorama em que nenhuma linha era visível no horizonte – não naquele dia, pelo menos. A recessão na Irlanda ia de mal a pior, e um rock star multimilionário colocou em seu álbum um nome inspirado na suntuosa vista que ele tem todos os dias.

Mas a imagem que deu a volta ao mundo nesta semana da festa de lançamento em Cupertino era muito diferente: um álbum de vinil revestido de papel feito para imitar a aparência do primeiro lançamento da banda, em 1979, o EP U2-Three.

Os bombardeios em Dublin

Em 2009, Bono me mostrou uma obra de arte que Frank Sinatra tinha apresentado a ele; hoje ele está falando de Superquinn em Finglas (o primeiro lugar em que pediram seu autógrafo, após a primeira aparição da banda no programa Late Late Show), sobre a vaga inicial de banda de abertura para o The Stranglers no Top Hat (“Eles nos trataram como merda, então roubamos todo o seu vinho e juramos que, quando chegasse a nossa vez, trataríamos a todos com respeito”) e sobre pegar um ônibus para Marlborough Street para fuçar na Golden Discs (*loja de discos) de lá.

Esta experiência foi trazida para a nova música Raised By Wolves, uma espécie de Sunday Bloody Sunday sobre os atentados de Dublin de 1974. “As bombas foram armadas para explodir ao mesmo tempo: numa sexta-feira à noite, às 17h30”, diz ele. “Naquela época, em 1974, às sextas-feiras eu estaria na Golden Discs na Marlborough Street, a uma esquina de onde as bombas explodiram. Mas naquele dia eu tinha ido de bicicleta para a escola, então não peguei o ônibus para a cidade depois, como de costume”.

Mas este não é um álbum pintado com as cores da nostalgia. Bono também lembra a violência e as surras incessantes dadas nos membros do U2 e nos seus amigos do Virgin Prunes. “Não estou exatamente falando dos Black Catholics (*termo depreciativo para se referir aos Protestantes irlandeses que apoiam a submissão da Irlanda do Norte ao Reino Unido) aqui, mas sim sobre o quanto atraíamos a violência pelo nosso visual e pelas bandas de que gostávamos”, diz ele. “Gavin Friday costumava levar chutes na cabeça regularmente. Mas até aí, Gavin sempre teve uma cabeça grande e burra”.

“Então eu fui um pouco mais longe e me lembrei de todas as violências infligidas às mulheres por seus maridos, os espancamentos que as crianças experimentaram por parte dos próprios pais e como, naquele momento especificamente, os padres abusavam sexualmente de crianças pequenas”.

E houve uma auto-aversão musical. Quando Bono tinha 17 ou 18 anos ele acreditava que não tinha esperança de estar em uma banda. “Isso foi porque eu cantava como uma menina. E eu nunca ia conseguir ser um cantor de punk rock, ou mesmo um cantor de rock, com a minha voz de menina”, diz ele. “Mas eu encontrei a minha voz através de Joey Ramone, ouvindo-o cantar em um show em Dublin. Joey fazia um tipo de voz de menina quando cantava – e essa foi a minha porta de entrada”.

Mais cedo naquela manhã, no dia do lançamento da Apple, eles tocaram a nova música The Miracle (of Joey Ramone), o que transportou os chefes de tecnologia em Cupertino, conscientes ou não, ao Cabra Grand.

“Eu queria que fôssemos uma banda melhor”

A auto-aversão ainda está lá. “A verdade é que eu queria que fôssemos uma banda melhor. Queria que fôssemos uma banda mais talentosa. A razão pela qual este novo álbum não aconteceu para nós durante estes anos é essa”, diz Bono.

The Edge provoca. “Como banda nós sempre fomos poder ou barulho. Mas agora U2 tem muitas áreas cinzentas. Não é mais poder, o que é bom; nem barulho, o que é ruim. Há de se entender quando isso não está acontecendo com a gente, e a coisa mais destrutiva aqui é quase acertar”.

“Também tem a humildade excruciante pela qual eu tenho que passar esses tempos”, disse Bono. “O fato de eu achar que nós somos incapazes de [obter] grandeza. E Jimmy Iovine, um ex-produtor de álbuns do U2, me disse algo difícil. Ele disse: ‘Você está bem longe de onde você veio’. E isso doi. Eu moro em Dalkey, mas eu sou da Cedarwood Road, e eu sei o que ele quis dizer sobre mim quando falou essa frase. Para mim foi realmente embaraçoso ouvir isso. E é precisamente por isso que este álbum é ‘Dublincêntrico’ “.

Álbuns, dinheiro e turnês: Bono sobre…

Um segundo álbum, que Bono chama de álbum “irmão” de Songs of Innocence, chamado Songs of Experience, será lançado em breve. “Nos próximos tempos vamos colaborar com a Apple em algumas coisas legais, e Songs of Experience deve estar pronto em breve. Mas sei que eu já disse isso antes…”.

Moral da história – Ao contrário das afirmações de que U2 deu Songs of Innocence para a Apple distribuir de graça, Bono confirma que a banda recebeu dinheiro pela transação. “Nós fomos pagos”, diz ele. “Eu não acredito em música grátis. A música é um sacramento”.

A turnê – “Não temos uma data de início confirmada para a próxima turnê do U2, mas será no próximo ano”, diz Bono. “Precisamos de boas ideias para voltar a tocar ao vivo. Esperem algo novo, algo fresco”.
Irish Times