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U2 & Eu: Cristina

U2 & Eu: Cristina

Percebi que realizar um sonho não é impossível.

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Eu sou Cristina, funcionária pública e fui até a Irlanda conhecer Bono.

Eu comecei a gostar do U2 justamente odiando o U2 e Bono. Assim começou minha relação com os 4 rapazes. Depois de tanto ouvir e ver, acostumei e viciei. Mas nossa convivência nem sempre foi de paz, houve vários momentos em que me “divorciei” deste casamento por me sentir traída: a primeira vez foi na tour POP.

Fiquei eufórica com a possibilidade de ver U2 ao vivo. Não acreditava! Fui às lojas C&A comprar 3 ingressos e quando cheguei, logo na escada rolante, tinha um stand. Uma barraquinha com propagandas e com um letreiro: Show do U2! Compre seus ingressos aqui. Quase fui laçada pelos vendedores, não tinha ninguém comprando. Fiquei mais ainda empolgada e pensei: – Beleza, vai ser um show vazio.

Não esqueço, foi numa terça-feira de janeiro. Saí cedo de casa, chegamos tranquilas no Autódromo, eu e minhas duas irmãs. Minha chateação começou quando não fiquei na pista, e sim nas arquibancadas. Mais decepcionada ainda quando vi uma multidão enchendo o lugar. Não entendia de onde tinha saído tanta gente. Como U2 tinha tanto fã e eu não sabia? Não me preparei para este choque, achava que só nós 3, eu e minhas irmãs conheciam a banda.

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A abertura foi aquele fiasco, estava longe do palco e nervosa. Enfim, a tortura acabou e eles entraram… Perdi o show em lágrimas, não consegui parar, olhei para os lados e uma multidão se acabava junto comigo. A cada música, eu chorava mais. Depois que o show terminou, fiquei sabendo do caos no trânsito do Rio. Tive sorte.

Um belo domingo, estava eu em casa, no quarto, e ouço na televisão da sala um show que os rapazes do U2 realizaram no Projac. Saí correndo do quarto e vi E-S-T-A-R-R-E-C-I-D-A uma apresentação para poucas pessoas.

Como???

Eu não estava sabendo daquilo. Quem eram aquelas pessoas? Como U2 vem ao Brasil e faz um show para um grupo de pessoas? Chorei decepcionada, chorei de raiva, chorei magoada. Depois desta noite, fiquei um ano sem ouvir nada deles.

O tempo passou e ele é senhor da razão, um santo remédio. Voltei a ouvir minhas músicas favoritas. Depois disso, fui conhecendo pessoas, quando descobri a UV através da Gabriela Godói, daqui do Rio. Eu a conheci pelo antigo Fotolog. E outras pessoas com quem mantenho contato até hoje, virtual ou não.

Não sou boa em datas, mas depois disso veio encontros em SP, festas e fui conhecendo os fãs que eu julgava não existir, como Maria Teresa, Juliana, Rita Cássia, Antonieta. Era e é ótimo conversar sobre o mesmo assunto, sem recriminação ou ser taxada de louca.

Veio outra turnê, Vertigo, e a maluquice de comprar ingressos. Estava previsto que haveria vendas online e nas lojas do Pão de Açúcar. No primeiro dia de venda, acordei às 4 da manhã. Eu, minha irmã e meu sobrinho Filipe. Chegamos na Barra da Tijuca às 5 e já tinha uma fila com cerca de 100 pessoas na nossa frente (novamente não entendia). O tempo foi passando e quando chegou a hora da venda, o caos se instalou.

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Tumulto, brigas, me envolvi em várias (até idoso que estava lá para comprar preferencial, eu tirei da fila). Eram quase 23 horas e veio a notícia de que as vendas estavam canceladas. Surtei. Fizeram uma fila para reserva. Não acreditei. Quando chegou minha vez de dar nome, identidade e quantidade de ingressos, não conseguia falar. Chorei alto. Tentaram me acalmar, seguranças, recepcionistas e nada. Minha irmã interveio e deu meus dados. Não esqueço a frase que a funcionária do Pão de Açúcar me falou: “Fique tranquila, até sexta-feira ligaremos para a senhora e poderá vir pegar seus ingressos. Dr. Abílio Diniz garantiu que todos receberão”.

Fui para casa aos prantos. No dia seguinte, era meu aniversário, 14 de janeiro. Não conseguia sair da apatia. Imaginava um show deles e eu fora. No entanto, na quinta-feira ligaram para minha casa avisando que os ingressos estariam a minha disposição no mesmo local, a partir das 10 horas de sexta-feira. Às 8 horas, estava na porta. Eram 2 shows e eu não queria ver um só. Graças a Deus, eu conhecia Ana, que na época morava em Brasília e mantínhamos contato pelo Fotolog e MSN. Um anjo salvador que conseguiu meu ingresso para o segundo dia.

Nos encontramos no hotel, onde ficamos eu, minhas irmãs, meu sobrinho e Fernanda, outro anjo. Ela foi quem dormiu na fila para o segundo show. No primeiro, eu vi das cadeiras, mas no segundo consegui chegar até a o palco. Fiquei na grade de um dos lados, aonde Adam e Larry viriam perto de nós para tocar e onde Bono entrou para abrir o show. Neste dia conheci também Halisson, vi muita gente do Fotolog, que também estavam próximos.

Quando as luzes se apagaram e começou a tocar Arcade Fire, comecei a chorar, mas lembrei de POP e falei: NÃO, desta vez verei o show. Bono entrou e perdi a noção de tudo. Diante de mim estava ele. Não acreditei. Pulei muito. Quando o show acabou, vi o estrago em minhas pernas: joelhos esfolados pela grade.

O tempo passou e veio 360º. Eu já conhecia muita gente pessoalmente e virtual. Conheci e revi pessoas especiais, como minha outra família de Caçapava, meus amigos do Rio e Maria Elvira, Adra, Solange, Pedro da Bahia, Cecília de MG e tantos outros.

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Fui aos 3 shows. O primeiro, arquibancada com a família, o segundo com Fernanda, Mônica (que conseguiu os ingressos). Fiquei debaixo da garra e novamente pertinho deles. No terceiro show, tivemos um intervalo de 2 dias e na véspera, uma terça-feira, fomos passear na porta do Morumbi, ver as filas e chegamos na hora que eles estavam chegando para a passagem de som. Pensamos: quem entra, saí. Resolvemos ficar. Eram umas 18 horas. Choveu naquele dia que parecia fim do mundo. Ficamos eu e Amanda, uma amiga do Rio. Tentaram fazer com que fossemos embora, falaram que Bono pediu que saíssemos dali por que estava perigoso em função da tempestade. Alguns desistiram, poucos ficaram.

Quando era quase meia noite, eles começaram a sair. Um dos últimos carros foi o de Bono. Ele ia direto, mas deve ter se compadecido dos pobres mortais enrugados de tanta água… Desceu do carro na minha frente e veio em nossa direção. Eu ia gritar, mas minha amiga falou: não grita, ele não gosta. Fiquei calada. Bono veio falar com cada um que estava lá e quando vi, a mão dele estava estendida em minha direção. Segurei na mão dele, a minha gelada, molhada. A dele quentinha. Um aperto de mão firme e sincero. Depois veio The Edge. Tinha valido a pena.

O terceiro show, eu vi em companhia de minha amiga Amanda, que tinha estado comigo na noite anterior. Neste show, eu, ela, Fernanda e Monica combinamos de conhecer a Irlanda. O tempo passou e eu realizei outro sonho: Ter um carro vermelho, com um adesivo do U2 e pegar estrada ouvindo a música deles. Realizei ouvindo o No Line, mas estava na hora de realizar o sonho maior e então planejamos a viagem: eu, Monica e Fernanda. Vendi meu carrinho e transformei em passagem e estadia.

No dia 4 de dezembro de 2013, nós embarcamos num voo da Air France com destino a Irlanda, com conexão em Paris. Aterrissamos na Irlanda no dia seguinte. Passamos na imigração sem acreditar, pegamos um taxi e chegamos ao Apart-hotel que seria nosso lar, nos próximos 20 dias. Quando entramos no quarto nos abraçamos emocionadas. Nosso sonho estava realizado. Nossa rotina na Irlanda seria uma só: esperar dar 9 horas para o dia clarear e sair em busca do U2. Visitamos o que dava para visitar, o estúdio, a casa do Bono, mas ainda ficaram lugares que um dia eu volto para conhecer.

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Uma data muito esperada chegou: Dia 24 de dezembro, era o dia D! Fomos para a Grafton Street bem cedo por que não sabíamos a hora em que Bono cantaria. Matamos o tempo dentro de um shopping em frente à árvore de natal que deveria ser o local onde ele estaria. Acertamos na mosca. Quando saímos do shopping, o local estava cheio.

Procuramos um lugar para ficar, novamente escolhemos certo. Era o local de onde Bono subiria no pequeno tablado. Certa hora, não sei precisar qual – ficamos ali, num frio absurdo que congelava tudo – Glen Hansard chamou: Bono venha cá… E ele passou por mim, ao ponto de tocar nele. Houve um empurra-empurra e acabei do lado do tablado, com os músicos tapando minha visão, o que não foi problema, pois aproveitei meu tamanho e me coloquei entre dois músicos para pode ver Bono cantando.

Quando terminou, Bono passou por mim novamente e sua mão estava apoiada em um segurança, aproveitei para tocar nele. Era o máximo da nossa viagem.  Fomos lanchar e conversar sobre nossa sorte, sobre o nosso sonho realizado. Mas vinha mais por aí. Daqui em diante, não sei como aconteceu. Lembro-me de termos conhecido uma garota no McDonalds e ela nos levou para andar por Dublin. Andamos, andamos e em determinado momento estávamos em frente a um restaurante, que por um acaso era perto de onde Bono tinha acabado de cantar.

Ela nos falou que Bono estava dentro do restaurante e se quiséssemos vê-lo, teríamos que ficar aguardando. Avaliamos o tempo, frio de congelar fogo e resolvemos ficar. Depois de quase 20 dias, não íamos perder esta chance. Ficamos lá, eu, Fernanda e Mônica. Cada hora que passava, mais ia esfriando, foi preciso nos manter em movimento para não congelarmos. A rua estava incrivelmente vazia, pois ninguém iria ficar zanzando com a temperatura tão baixa.

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Quando era mais ou menos umas 21 horas, a porta do restaurante novamente se abriu para sair um grupo. Reconhecemos os cantores e falamos: Agora ele sai. E ele saiu. No topo da escada, foi o último a sair do restaurante, mas não nos viu, estávamos escondidas atrás da coluna de um prédio, ao lado. Quando ele desceu as escadas para se despedir do último músico, nos aproximamos devagar, sem alarde e Fernanda falou baixinho: Bono, please, Bono please… Ele virou devagar e deu de cara com 3 loucas congeladas e emocionadas.

Foi super gentil conosco. Deu atenção, conversou com as meninas (elas falam inglês), perguntou sobre a nova música (era Ordinary Love). Eu estava ali do lado de Bono, olhando para ele falar com as garotas e aquele famoso filme passou na minha cabeça. Lembrei cada momento até aquele instante. Perguntou de onde éramos e Fernanda falou e abriu uma bandeira do Brasil. Ele se mostrou surpreso de estarmos tão longe e em uma data tão especial. As garotas falaram que estávamos ali para vê-lo. Ele agradeceu e nos aconselhou a voltar para o hotel. Nós pedimos para tirar fotos e ele atendeu com muita gentileza.

Não tinha segurança, era só ele, o motorista, eu, Fernanda e Mônica. Na rua deserta, nem carro passou. Era o nosso momento. Nem acreditei quando ele me abraçou para a foto, era absurdo demais aquilo tudo. Fernanda e Mônica ganharam um beijo dele, que eu não consegui registrar. Quando ele se foi, ficamos paradas olhando o carro indo embora e saímos correndo, eu senti uma vontade absurda de correr e o foi o que eu fiz. Fui impedida pela Mônica de atravessar uma rua sem olhar de tão catatônica que estava. Chegamos ao hotel e não parávamos de falar, de chorar, de falar, de chorar!!!

Nosso natal de 2013 foi assim…

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