U2 e Eu: Erika Morais

U2 e Eu: Erika Morais

Inaugurando a nova seção do site da UV, U2 e Eu, leia o relato da Erika Morais.

 

Erika Morais, 30 anos, fã do U2, baiana, Radio Operadora Offshore, Turismóloga, aventureira e mestre em Reboot myself, oh, ohhh.

 

Eles dizem que fazemos o show pra eles.

Ainda com lembranças vivas da espetacular noite POP que tive em 98, eu senti o que eles queriam dizer com isso, na verdade. 22 anos. Após um noivado que não deu certo, lá vou eu realizar o sonho de estudar fora.

 Fui sozinha estudar Inglês e trabalhar em Londres em 2005. Cheguei no dia 15 de junho e fora a felicidade da conquista de estar lá, a alegria também era por conta do feliz verão em que cheguei: o U2 estava em turnê com Vertigo e tocaria em Twickenham, 16km sudoeste de Londres. Depois da frustração em esperar a Elevation Tour, que não passou pelo Brasil, a oportunidade de estar em um show deles novamente causou um verdadeiro frisson interno.

No dia seguinte, aproveitei o fato do apartamento ficar no centro de Londres e fui andar pela cidade. Logo vi as lojinhas com os cartazes dos shows programados para aquele verão. Que surreal aqueles nomes… Principalmente um que tinha data bem próxima. Quando perguntei ao rapaz o valor, quase caio pra trás com as 150 libras que me disse. Devo ter feito uma cara tão triste que o vendedor me puxou de lado e comentou que nos dias do show tinha gente vendendo mais barato por lá. Como assim? Aqui também tem cambista? Meio traumatizada com experiências anteriores ponderei, mas vi que era melhor arriscar e comprar mais barato que gastar quase todo dinheiro do mês (na época, 1 libra era mais ou menos 5 reais). Afinal, ainda ia procurar emprego.

Peguei as instruções de como chegar ao estádio e dia 18, lá estava eu pegando meu primeiro trem na terra da rainha pra ver a banda que mais me emocionava na vida. Logo na chegada me assustei com a quantidade de cambistas. Nossa… Comecei minha odisseia de achar um ingresso pra pista de no máximo 80 libras. Achava que podia sobreviver com esse rombo no orçamento. Mas, após rodar bastante e tomar uma cerveja pra espantar o calor, nada.

Encontrei um que me cobrou 80, mas o ingresso era pra o dia seguinte, domingo. Fiquei meio triste por esperar mais um dia. Mas, pelo menos chegava cedo, ia direto e quem sabe ficava bem na frente.

No dia seguinte, 13h, estava eu lá novamente. Quando fui pra fila e apresentei o ingresso, olha o susto. O ingresso era pra arquibancada. Tá louco! Longe pra burro. Saí da fila xingando o inglês “corno” que me vendeu como pista um ingresso de cadeira e a mim, por ter acreditado no cara e não ter percebido. Fui procurar um cambista pra trocar o ingresso e acabei pagando mais 40 libras… Apertei a tecla “Phoda-se orçamento”, o U2 é mais importante.

Tudo terminou quando passei pela entrada e sai correndo pra pegar um bom lugar, fui seguindo o pessoal correndo em direção ao palco e pensando: meu Deus, tá ficando bem pertinho. Passei por uma entrada pequena e colocaram a pulseirinha do Inner Circle na minha mão. Tive que parar por um momento. Uau!! Inner Circle!! Tá de brincadeira… Pra quem viu a Pop Mart de longe, isso era surreal. Quando vi, lá estava o palco, ao alcance da minha mão. Fiquei tão nervosa, cogitei a possibilidade de ir pra o outro lado ou na frente do palco, mas fiquei com medo. Travei. Tava colada na ponta esquerda do palco. Ali, o show acontecia.

Aproveitando a promoção de ligar pro Brasil a 0,05 pi (centavos) por minuto, sai ligando pra minha mãe, pai, amiga, cachorro. Precisava compartilhar aquela felicidade. A espera foi longa, o show começaria às 20h. Uma vontade de tomar uma, mas a cerveja passava a uns 5m e de jeito nenhum sairia do meu lugar. Achei, naquele momento, os ingleses bem frios, nada de puxar conversas animadas, perguntas, nenhuma ansiedade latente… Vi algumas bandeiras do Brasil, mas distante. As baforadas de cigarro também foram chatas hein, minha lente de contato que o diga. Mas tudo (sede, vontade de fazer xixi, solidão no meio de muita gente) passou quando eles entraram no palco. Não acreditava que estava novamente em um show do U2. Agradeci muito. A primeira impressão que tive quando vi Bono e Edge a 2m de distância e pude ver os detalhes a luz do dia (sim, 20h, mas ainda ensolarado) foi: nossa, como eles estão velhinhos… Acho que um lado meu ainda mantinha (não sei como??) a imagem do Bono do Red Rocks. Boba!

A segunda constatação foi a de como Bono realmente é baixinho… A terceira – e principal – a de que eles despertam o melhor em mim! Lembro que uma amiga sempre falou que, às vezes, eu era uma chata de tão otimista, positiva, do bem. Pra mim, o U2 traduz essa vibe, o que penso e sinto. Um amor bem puro, esperançoso e de boas energias. Mas, todavia, porém… Ainda com um lado meio “Devil’s rock’n’roll” sabe? Sacaninha, que nem chega a ser contraditório, na verdade é um equilíbrio.

Eu chorei muito nas primeiras 6, 7 músicas. Estava realizando um grande sonho após uma época conturbada na vida e eles pareciam coroar essa nova fase da forma mais perfeita. Quando cantaram Sometimes You Can’t Make It on Your Own era pra meu pai que cantava também. Em City of Blinding Lights fez me sentir especial, ter a certeza de que ainda encontraria alguém, veria the beauty inside of me. Meu Deus, eles tocaram Who’s Gonna Ride Your Wild Horses!! Pense em alguém cantando Hey hey sha la la mais alto que o próprio Bono com microfone. Foi maravilhoso…

Mas como sofro de algo chamado “Vergonha Alheia”, teve uma hora que tive de mim mesma. Tentei controlar a emoção. A vibe em que eu estava com certeza não era a mesma do pessoal ao meu lado. Muita máquina fotográfica e celular pra pouco calor humano, falta de emoção mesmo… Depois fiquei foi com vergonha alheia deles, ora bolas. Que plateia mais fria! Deve ser por isso que o U2 gosta tanto de tocar no Brasil. É mais visceral, animado, sincero… Fiquei com saudade do público da POP, no Rio.

Mas pra mim, aquela noite já havia se tornado histórica. E a recarregada de bateria que precisava pra conquistar o mundo, se quisesse.

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