Eddie Vedder e o U2, um depoimento

Eddie Vedder e o U2, um depoimento

Olá UVs,

Comprei para minha filha, que é super fã do Pearl Jam e de Eddie Vedder, o livro Pearl Jam Twenty, que conta a história da banda, mais ou menos nos moldes do U2 By U2, em ordem cronológica e através de entrevistas com os membros do PJ e também outras pessoas do staff da banda. O livro faz parte do pacote de lançamentos que marcam os 20 anos do primeiro álbum do PJ, Ten, juntamente com o relançamento desse disco essencial, mais o filme PJ20 e o CD duplo com a trilha sonora do filme.

Pois bem, minha filha me mostrou que, na página 115 do livro, há um relato sobre a participação do PJ abrindo shows do U2 na Zooropa Tour em julho de 1993, na Itália. Achei muito legal esse depoimento do Eddie Vedder, e resolvi fazer minha versão pra divulgar aqui na UV, porque mostra bem o quanto ele é fã do U2, e como ele tinha, inicialmente, opiniões bem críticas sobre essa turnê. Lá vai:

“Julho 2 – 7

Pearl Jam abre 4 shows, em estádios enormes, para o U2, na sua super conceitual turnê Zooropa, tocando para um público desinteressado, na melhor das hipóteses, e abertamente hostil, na pior. Vedder parece alimentar-se dessa ambivalência, que acompanha seus próprios sentimentos desencontrados sobre esse estágio na evolução criativa do U2.  Perplexo, Bono está perto, nas primeiras filas, na segunda noite em Roma para assistir Vedder se apresentar com as palavras “Paul Is Dead” coladas com fita adesiva na sua camiseta (um trocadilho com o verdadeiro nome do frontman do U2, Paul Hewson) e também com uma máscara de mosca (aparentemente, uma gozação com a música do U2, The Fly).

EDDIE VEDDER: O U2 era um dos meus grupos preferidos de todos os tempos. Eu os tinha visto desde a turnê War, até essa nova versão technicolor intensificada, em larga escala nesses estádios europeus na ZooTV. Eu sentia como se, pra ver a banda, eu tinha que juntar minhas mãos em concha sobre meus olhos. Eu não queria ter que assistir ao maior telão já inventado. Era raro ver o Bono há menos de 20 jardas  de qualquer outro membro da banda. Eu sentia que era meu dever, como um fã devoto e antiquado, dizer a um dos caras, “essa merda não está funcionando!” Mas após cada música tocada, 80.000 italianos aplaudiam, gritavam, e iam à loucura. Então quem era eu pra dizer alguma coisa?

Alguns anos mais tarde, eu mandei uma foto do diagrama do nosso palco para o Edge, de brincadeira. Era como quatro figuras de palitos desenhadas em um pedaço de papel. A única outra coisa escrita nele era “35 pés de largura”. Aquele era basicamente nosso projeto. Aquele era o diagrama detalhado  no qual estávamos operando. Eu tinha ouvido que o U2 estava trabalhando num novo disco e praticando numa garagem, então eu mandei o desenho pro Edge. Eu disse, “ouvi que vocês estão trabalhando em novo material que soa mais orgânico, então aqui está um diagrama do nosso palco, no caso de vocês o quererem emprestado”. Era pura conversa fiada, parecia que eu tive uma dor de dente quando escrevi isso. Porém recebi de volta uma carta de três páginas, lindamente manuscrita pelo Edge, que tinha uma caligrafia incrível. Ele respondeu de maneira bastante séria.

Na época de The Joshua Tree, eles tiveram a oportunidade de levar a experiência do rock’n’roll em estádios a um outro nível, e sentiram que era seu dever, quer isso fosse funcionar ou não. Naquela época eu entendi que essas não eram decisões que eles tomavam baseados em modismos, ou simplesmente sendo espertos. Era como um decreto, uma nova regra que eles tinham estabelecido, uma nova filosofia para o grupo; realmente explorar as vias de conexão com as pessoas em grande nível.”

Obs.: no livro há uma foto do Eddie Vedder com a tal camiseta (tem a foto do Macphisto) e a máscara, uma cabeça de mosca enorme….é hilária!

Abraços,
 MT

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11 Replies to “Eddie Vedder e o U2, um depoimento”

  1. E até certo ponto, ele está certo…
    Funcionou durante os anos 90, mas acho que já passou (e muito) da hora da banda voltar a se reconectar com os seus verdadeiros fãs e deixar o circo de lado…

  2. Márcio, acho que estamos na mesma vibe…vou copiar pra cá meu comentário na lista:
    O que achei interessante nesse depoimento do Eddie Vedder foi a identidade imediata que senti com ele, na condição de fã do U2. É um comentário de fã, não de um artista sobre o outro. Falo sobre sua crítica inicial à dimensão que os shows do U2 tinham tomado, e uma certa decepção por não vê-los mais tão juntos, tão de perto. Quando ele diz que “não queria ver o maior telão do mundo”, ele demonstra o quanto essa dimensão gigantesca, essa distância imposta o alienava, o fazia sentir falta daquele “antigo” U2. Confesso que me senti um pouco assim, nos últimos shows da 360 tour que assisti. Muitas vezes me peguei pensando em como seria poder vê-los sem tantas distrações, num cenário mais despojado. De qualquer maneira, fã que é fã busca entender os motivos da banda, e isso o Eddie Vedder também fez, no último parágrafo desse depoimento dele, quando fala sobre a filosofia do U2 em seus shows a partir da Joshua Tree tour. No último show em Dublin, o Bono fala, no começo de The Unforgettable: “intimacy on a grand scale, that´s what we wanted, intimacy on a grand scale, lets whisper, lets whisper”. É uma ambição que temos que respeitar, criar intimidade no ambiente gigantesco de um estádio. De certa forma, é o que o Eddie menciona no final do texto que traduzi.
    Abraços, MT

  3. Eu gosto do extravagante e sempre vou gostar. Percebi isto agora que recebi o Uberdeluxe em casa e com todos os extras senti a emoção da Zoo Tv de novo. E como turne mudaria pouca coisa na 360, o artista deve se arriscar, mesmo que não de certo..como as vezes não dá. MAs se eles fizessem algo comum eu acho que esta monotonia acabaria com a banda e ia minguando até se perder, e se vão ser criticados (e no tamanho do U2 sempre vão ser), que seja com algo extravagante. Acho que eles não vão fazer mais isto (shows gigantes), mas eu gosto. Claro que sem revival, fazendo coisas novas.O fato da gente gostar ou não como fãs não deve ser o guia deles, ou seria previsivel.

  4. Eu achei que funcionou maravilhosamente bem na ZooTV e na Popmart. De lá para cá, cada palco novo é só mais um palco, não impressiona mais porque eles já fizeram isso antes. Não duvido que o palco da 360 tenha sido um avanço tecnológico, mas a gente já sabe que o U2 é capaz de fazer essas coisas.

  5. O problema é que nada se compara a Zoo TV e a Popmart (principalmente a Zoo TV), são lendárias, nem eles ou outros artistas conseguiram o feito de uma turne mais impactante. Mas acho que eles devem morrer tentando superar..é o que se espera deles, pelo menos eu. Logicamente talvez não consigam pelo que mudou no próprio mundo durante este tempo. Antigamente você via uma vez a apresentação da Zoo Tv, quando uma tv passava (como o caso da Band na época). Eu mesmo lembro de ter visto pouquissimas vezes até comprar o VHS de Sidney, hoje a 360 tinha sido visto milhares de vezes no youtube só no primeiro show, isto obviamente diminui o impacto.Nos shows de hoje tem mais pessoas gravando o show do que sentindo ele, é só ver o show do Brasil que está neste endereço: 

     nenhuma luz de celular ou mão para o alto gravando.
    Coisas do mundo moderno que eles vão ter que superar se quiseram fazer algo marcante, ou simplesmente seguir pelo mundo minimalista. A vida de roqueiros é isto, ganham bem, mas nunca podem para de rolar.

  6. Pearl Jam e U2 em termos de show são os extremos.

    Eu também achei a tour 360 grandiosa demais. De certa forma deixou de ser um show para ser um evento. Acontece o contrário com o Pearl Jam. Quem vai a um show do Pearl Jam é porque realmente gosta. Já do U2 tem uma considerável parcela que apenas foi porque era necessário estar presente.

    Esse show grandioso limita o U2. Eles não podem experimentar no setlist. Eles ficam limitados a um roteiro e dificilmente saem disso. Quando saem (Zooropa, por exemplo) é uma dádiva para os fãs. E para os demais, será que é???? É muito difícil vermos um improviso durante a execução de uma música nos shows pós ZOOTV.

    No documentário “Pearl Jam Twenty”  vi que eles definem o setlist e a ordem das músicas momentos antes do show. Imagina a loucura!!!!

  7. Eu não acho uma loucura mudarem o set todos os shows… Acho extremamente saudável pra vida criativa de uma banda… Apesar de ser fanático pela ZOO TV, onde esse set list mais engessado se firmou, acho que a banda está gritando por algo mais espontâneo, o que foi meio que burilado na 360, com o resgaste de algumas suspresas nos shows, principalmente, na última parte da turnê. Como sou a favor dos shows em lugares menores, com menos histeria, sem grandes produções, acho que seria a salvação da banda. Vamos lembrar que são senhores cinquentões ali, não dá mais pra ficar fazendo beicinho e tocando hits… Senão vira Stones! Vejo artistas como Bruce Springsteen e Dylan fazendo algumas das melhores perfomances de duas vidas agora e acho que o U2 deveria caminhar pra esse lado…

    1. Eu não acho uma loucura mudarem o set todos os shows… Acho extremamente saudável pra vida criativa de uma banda… Apesar de ser fanático pela ZOO TV, onde esse set list mais engessado se firmou, acho que a banda está gritando por algo mais espontâneo, o que foi meio que burilado na 360, com o resgaste de algumas suspresas nos shows, principalmente, na última parte da turnê. Como sou a favor dos shows em lugares menores, com menos histeria, sem grandes produções, acho que seria a salvação da banda. Vamos lembrar que são senhores cinquentões ali, não dá mais pra ficar fazendo beicinho e tocando hits… Senão vira Stones! Vejo artistas como Bruce Springsteen e Dylan fazendo algumas das melhores perfomances de duas vidas agora e acho que o U2 deveria caminhar pra esse lado…

      Caro Márcio,

      para fãs mais antigos como nós, seria o paraíso se o U2 apresentasse-se em lugares menores e tocasse vários lados B… pensava como você.
      Apresentando-se em um Morumbi lotado, o U2 ainda deixa milhares de fãs do lado de fora. Como negar o U2 tocando seus maiores hits para milhares de fãs que nunca ouviram “One” ou “Pride” ao vivo e estão assistindo a um show da banda irlandesa pela primeira vez?

      A cada dia, várias pessoas viram fãs do U2 em todo o planeta. Para elas, estas chances são únicas. O ideal é mesclar o setlist.

      1. Eu ainda acho possível sim… Quantos daqueles ‘milhares’ de fãs realmente são fãs? Quantos não estão ali por ‘oba-oba’, ou pelo ‘maior palco do mundo’? Quantos vips de ‘caras’ estão ali enchendo linguiça? Quantas pessoas que estão ali sabem mais que 10 músicas da banda? É desse tipo de fã que eu acho que a banda não precisa mais… Lembra do começo da ZOO TV? O U2 voltou a tocar em arenas para 10, 15 mil pessoas… Em um entrevista, famosa até, para a CNN se não me engano, Bono diz que eles poderiam perder alguns dos ‘Pop Kids’, mas ‘We don’t need them’… Lógico que ele mudou muito daquela época (até porque, estava em uma ‘personagem’), mas acho que esse é um caminho digno para uma banda do porte e do brilhantismo do U2… Abraçar os FÃS! Veja o Pearl Jam, o Bruce Springsteen, até o Metallica, notória por esnobar seus fãs (vide o caso napster), está fazendo fazendo coisas mais voltadas pros fãs…

        Convenhamos, o U2 hoje não vende como vendia (e quem vende?), então, o público dos shows é ilusório. Todos compram o ‘espetáculo U2’, um padrão visual que a banda vende há mais de 20 anos. É como uma atração de circo, um ponto turístico… Poucos compram a ‘música’ U2. Poucos compram o ‘artista’ U2. Quantos ficaram parados durante “Zooropa” na 360? E gritavam e esperneavam durante “With or Without You”, “Sunday Bloody SUnday” etc…?

        O próprio “No Line On THe Horizon” sofreu com isso, porque é um disco para FÃS! Reais, que entendem o processo atual da banda… O disco era pequeno para o tamanho dos shows…

        Bom… É isso… Espero não ser muito apedrejado…rss

        1. Eu ainda acho possível sim… Quantos daqueles ‘milhares’ de fãs realmente são fãs? Quantos não estão ali por ‘oba-oba’, ou pelo ‘maior palco do mundo’? Quantos vips de ‘caras’ estão ali enchendo linguiça? Quantas pessoas que estão ali sabem mais que 10 músicas da banda? É desse tipo de fã que eu acho que a banda não precisa mais… Lembra do começo da ZOO TV? O U2 voltou a tocar em arenas para 10, 15 mil pessoas… Em um entrevista, famosa até, para a CNN se não me engano, Bono diz que eles poderiam perder alguns dos ‘Pop Kids’, mas ‘We don’t need them’… Lógico que ele mudou muito daquela época (até porque, estava em uma ‘personagem’), mas acho que esse é um caminho digno para uma banda do porte e do brilhantismo do U2… Abraçar os FÃS! Veja o Pearl Jam, o Bruce Springsteen, até o Metallica, notória por esnobar seus fãs (vide o caso napster), está fazendo fazendo coisas mais voltadas pros fãs…

          Convenhamos, o U2 hoje não vende como vendia (e quem vende?), então, o público dos shows é ilusório. Todos compram o ‘espetáculo U2’, um padrão visual que a banda vende há mais de 20 anos. É como uma atração de circo, um ponto turístico… Poucos compram a ‘música’ U2. Poucos compram o ‘artista’ U2. Quantos ficaram parados durante “Zooropa” na 360? E gritavam e esperneavam durante “With or Without You”, “Sunday Bloody SUnday” etc…?

          O próprio “No Line On THe Horizon” sofreu com isso, porque é um disco para FÃS! Reais, que entendem o processo atual da banda… O disco era pequeno para o tamanho dos shows…

          Bom… É isso… Espero não ser muito apedrejado…rss

          Realmente muitos que vão aos shows do U2 não são fãs de verdade, mas isto não significa que muitos fãs de verdade fiquem de fora.

          Também tive a mesma sensação que você quando o U2 tocou Zooropa. Senti desgosto também no show de 2011. Enquanto na última turnê 90% das pessoas preocupavam-se em filmar o show, eu fazia parte dos 10% que estavam apreciando o show. Muito diferente da Vertigo Tour em que a maioria queria curtir o show em si.

          Por mim, seria ótimo um show só com bsides. Mas acho que a banda tem que pensar nos antigos e novos fãs.

          1. Eu ainda acho possível sim… Quantos daqueles ‘milhares’ de fãs realmente são fãs? Quantos não estão ali por ‘oba-oba’, ou pelo ‘maior palco do mundo’? Quantos vips de ‘caras’ estão ali enchendo linguiça? Quantas pessoas que estão ali sabem mais que 10 músicas da banda? É desse tipo de fã que eu acho que a banda não precisa mais… Lembra do começo da ZOO TV? O U2 voltou a tocar em arenas para 10, 15 mil pessoas… Em um entrevista, famosa até, para a CNN se não me engano, Bono diz que eles poderiam perder alguns dos ‘Pop Kids’, mas ‘We don’t need them’… Lógico que ele mudou muito daquela época (até porque, estava em uma ‘personagem’), mas acho que esse é um caminho digno para uma banda do porte e do brilhantismo do U2… Abraçar os FÃS! Veja o Pearl Jam, o Bruce Springsteen, até o Metallica, notória por esnobar seus fãs (vide o caso napster), está fazendo fazendo coisas mais voltadas pros fãs…

            Convenhamos, o U2 hoje não vende como vendia (e quem vende?), então, o público dos shows é ilusório. Todos compram o ‘espetáculo U2’, um padrão visual que a banda vende há mais de 20 anos. É como uma atração de circo, um ponto turístico… Poucos compram a ‘música’ U2. Poucos compram o ‘artista’ U2. Quantos ficaram parados durante “Zooropa” na 360? E gritavam e esperneavam durante “With or Without You”, “Sunday Bloody SUnday” etc…?

            O próprio “No Line On THe Horizon” sofreu com isso, porque é um disco para FÃS! Reais, que entendem o processo atual da banda… O disco era pequeno para o tamanho dos shows…

            Bom… É isso… Espero não ser muito apedrejado…rss

            Realmente muitos que vão aos shows do U2 não são fãs de verdade, mas isto não significa que muitos fãs de verdade fiquem de fora.

            Também tive a mesma sensação que você quando o U2 tocou Zooropa. Senti desgosto também no show de 2011. Enquanto na última turnê 90% das pessoas preocupavam-se em filmar o show, eu fazia parte dos 10% que estavam apreciando o show. Muito diferente da Vertigo Tour em que a maioria queria curtir o show em si.

            Por mim, seria ótimo um show só com bsides. Mas acho que a banda tem que pensar nos antigos e novos fãs.

            Não acho que precisamos de um show só com b-sides, não sou radical, mas acho que  banda precisa sair um pouco do molde que ela criou para si mesma. Está engessado. Preso a um formato… E isso é a morte de um artista. Vira cover de sí mesmo…

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