Especial: PopMart Tour

Especial: PopMart Tour

A PopMart Tour teve início no dia 25 de abril de 1997 em Las Vegas, ou seja, está completando 15 anos. Por isso, resolvemos fazer uma reportagem especial sobre esta turnê que trouxe o U2, pela primeira vez, ao Brasil.

Paul: “A PopMart foi uma produção espetacular. Nós estávamos preparados pra comprar qualquer tecnologia que estivesse às nossas mãos. Willie Wiliams veio com aquela tela assimétrica gigante, que foi desenvolvida por alguns gênios em Montreal. Nós tínhamos uma espaçonave em forma de limão espelhado, onde a banda chegaria ao palco. O palito gigante de coquetel e o arco amarelo estilo do McDonald´s eram pra ser engraçados à seriedade do rock´n´roll e ironicamente zombando da superficialidade da cultura pop.”

Mas as coisas não saíram como foram imaginadas. Os prazos apertados fizeram com o que o disco Pop fosse lançado sem ser completamente terminado pela banda. E mesmo assim, algumas datas da turnê também já estavam marcadas. (Você encontra os vídeos da coletiva de imprensa da Popmart, na K-Mart, no canal da UV no youtube: http://www.youtube.com/user/VideosUltravioletU2). Com essa falta de tempo, o U2 não conseguiu se preparar e ensaiar como gostaria para a noite de abertura.

Adam: “O telão chegou bem tarde. As roupas do show chegaram na noite anterior da apresentação. Nós estávamos ainda imaginando como tocar aquelas músicas. Aquele material tinha sido produzido em um ambiente de estúdio e nós realmente não tínhamos ideia de como trabalhar aquelas músicas ao vivo. Ao mesmo tempo, nós estávamos lutando com o novo conceito do PA, que estava em cima das nossas cabeças e que produzia todos os tipos de problemas físicos de som, porque você tem ecos estranhos. O primeiro show foi bem ruim. Nós realmente tropeçamos durante o set”.

Além disso, a recepção americana a este novo trabalho do U2 não foi tão boa também, no início. A venda dos ingressos, em alguns lugares, ficou muito abaixo do esperado. Literalmente, sobrou muito lugar na plateia.

Edge: “Houve noites maravilhosas na PopMart. Mas ao mesmo tempo, teve outras que eu gostaria de apagar da minha memória. É um pouco de uma experiência séria tocar para metade do estádio lotado… ou menos! (…) A pior de todas foi em Tampa, na Flórida, 20.000 pessoas em um estádio construído para 75.000. O sul foi particularmente ruim para a turnê, porque é um território de rock pesado. Algumas críticas reclamavam que o U2 veio com a disco e para muitos americanos durante um período em que a disco era o inimigo. Nós tivemos o mesmo problema na Alemanha. As datas europeias foram fantásticas, 91.000 pessoas em duas noites esgotadas em Rotterdam nos shows de abertura. E então, nós fomos para Colônia e havia 29.000 pessoas num estádio com capacidade para 60.000. Obviamente 29.000 é muita gente, mas não parece quando eles lotam a frente mas os assentos do estádio ficam vazios.”

Um dos pontos altos e inesquecíveis da PopMart, com certeza, foi o show em Sarajevo em 23 de setembro de 1997. O U2 se tornou o primeiro grande artista a realizar um concerto na Bósnia, depois do final da guerra. A relação da banda com Sarajevo já vinha da época da Zoo TV, quando, durante os shows, o grupo fazia links ao vivo com transmissões via satélite.

Pra ter uma noção da importância, o show foi até notícia no Jornal Nacional:

Larry: “Havia centenas de soldados de paz NATO em todos os lugares. O estádio era velho e estava danificado. Nós fomos para um bunker bem escuro, subterrâneo, que era agora o nosso camarim. A atmosfera era estranha. O estádio tinha sido usado como necrotério durante o cerco. No outro lado do estádio, havia sepulturas incluindo um cemitério de crianças. Conforme o dia foi passando, nós fomos ouvindo histórias sobre este lugar e foi ficando cada vez mais horripilante. A hora do show chegou e nós subimos no palco. Havia centenas de soldados do lado esquerdo do estádio. O resto da multidão era formada por croatas e servos, que tinham viajado para o show por trens que não circulavam desde o começo da guerra. As pessoas viajaram de todas as regiões para ver o show. Estas mesmas pessoas estavam se matando um ano antes. Aqui elas estavam juntas para um show do U2. Que coisa maravilhosa”.

Outro fato marcante foi o suicídio do vocalista do INXS, Michael Hutchence. Bono era seu amigo pessoal e sentiu o choque. A partir daí, a música “Gone” foi dedicada a ele nos shows da PopMart.

Em 1998, o Brasil recebeu pela primeira vez uma turnê do U2. No dia 27 de janeiro no Rio e nos dias 30 e 31 em São Paulo.

Edge: “Nós levamos PopMart ao Brasil, Argentina e Chile. Se Tóquio foi a capital da Zoo TV, então o Rio foi provavelmente a capital do Pop. O público na América do Sul era muito apaixonado, os shows foram inacreditáveis”.

Com certeza, foram mesmo. Não dá pra não se emocionar lembrando do Bono dizendo: “E aí galera, beleza?” Ou “Eu tô maluco!” Ou ainda: “Saio (seu) país é lindo. Saio (seu) povo é lindo. Suas vozes são lindas. Não esqueceremos vocês.” Uma pena a confusão que houve no Rio, aquele congestionamento gigantesco que impediu muitos fãs de conseguirem chegar ao Autódromo de Jacarepaguá. A banda sentiu muito por isso, tanto que depois voltou à cidade para um pocket show anos depois. Apesar de tudo, o show rolou tranquilamente com direito até de uma participação de escola de samba em “Desire”. Em São Paulo, a estrutura foi melhor e os shows ocorreram sem problemas, contribuindo para a boa imagem que a banda levou do Brasil.

Esse final da turnê parece que foi, realmente, emocionante. No Chile também, o show foi televisionado porque os ingressos eram caros demais e já que a banda iria se apresentar para o país todo, decidiram tocar a música “Mothers of the Disappeared” e convidaram as mães para estarem no palco.

Bono: “Então, todas aquelas mulheres que tinham perdido alguém da família para os excessos do General Pinochet e suas forças de segurança vieram ao palco. E nós levamos cinco minutos para que cada mulher mostrasse uma foto e dissesse o nome de seu filho ou filha desaparecida”.


Depois da Austrália e Japão, a PopMart encerrou em Johanesburgo, na África do Sul, em grande estilo.

Bono: “Nós fomos a primeira banda convidada pela ANC para tocar na nova África do Sul depois do fim do apartheid, mas não pudemos aceitar o convite deles. Foi ótimo ir até lá. Nós passamos um tempo muito precioso com o Arcebispo Tutu.(…) Ele é um homem extraordinário”.

Edge: “Tendo começado com tantas dificuldades, tudo acabou em alto nível, o que foi um sentimento maravilhoso”.

Larry: “Eu estava bastante feliz com o jeito que terminou. Eu estava mais feliz ainda que tinha terminado.”

Adam: “Realmente, foi uma turnê bem sucedida. Nós entramos para o Guinness Book, o livro dos recordes, por ter o maior público, quase três milhões de pessoas em 93 shows. Nós vendemos sete milhões de álbuns, o que não é tão ruim para algo que é considerado um de nossos pontos baixos”.

Citações retiradas do livro U2 BY U2

3 Replies to “Especial: PopMart Tour”

  1. Parabéns pelo texto Fê, ficou bem legal.

    Uma pena uma tour tão boa ter o seu início apressado pelos prazos. A falta de ensaio era nítida no início.
    E ainda tinha o problema com a voz do Bono.

    Apesar de tudo, gosto mais da PopMart do que da Elevation, por exemplo. sorriso

  2. Obrigada Fly!
    Eu também acho que se tivessem mais tempo, o álbum poderia sair do jeito que eles queriam, a turnê começaria do jeito que eles queriam também… Mas depois tudo foi se ajeitando.
    Aproveito pra te agradecer em público pela ajuda de sempre nas imagens. aprovado

  3. Outro problema foi a ausência do Larry em boa parte da produção do álbum. Enquanto o cara esteve ruim das “paletas”, Howie B e as drum machines faziam a parte percussiva. Aí, desceu de para-quedas no meio da gravação. Até ele reproduzir o que já tinha sido concebido, tentar colocar alguma ideia dele, além da pressão de executar tudo ao vivo em curto prazo, deu no que deu…

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