Entrevista com Larry Mullen Jr

Entrevista com Larry Mullen Jr

Larry Mullen, baterista do U2, fez sua estreia no cinema, ao lado de Donald Sutherland, como ator, produtor e supervisor da trilha sonora. Confiram a entrevista com o músico:

Tribeca: Parabéns pela sua estreia! Certamente, você sempre foi um homem criativo. Quando você percebeu que tinha interesse em atuar, e havia algo especial que o motivou a enfrentar este desafio?

Larry Mullen Jr: Eu sempre tive interesse em fazer algo fora da minha zona de conforto. Eu acho que é como você se imaginar mergulhando com tubarões ou pulando de bungee jumping de uma ponte alta. Eu acho que atuar é algo muito interessante de se fazer – Eu estou acostumado a ficar sentado e no fundo e eu tenho gostado de fazer isso por muitos e muitos anos. Mas eu meio que brinquei com a ideia por um tempo, nunca acreditando que nada viria a acontecer.
Então, eu corri até Mary McGuckian e conversamos sobre fazer seus filmes. E ela disse pra mim “Se você está interessado em cinema, você tem que assistir a este filme,” que era o original de Man On The Train, a versão de Patrice Leconte. Então eu dei uma olhada e adorei, e pensei “Bom, seria legal se alguém re-filmasse esse filme e eu poderia fazer uma pequena parte dele e isso seria uma ideia ótima.” Pra encurtar, Mary disse “Olha, se nós vamos fazer isso, vamos criar uma parceria.” E assim fizemos e eu me envolvi na produção – tentando obter os direitos, etc – e eu adorei isso.
E, finalmente, quando conseguimos os direitos do filme, falaram pra mim “Bem, você terá que desempenhar o papel do “The Man”. E eu disse “Que porra é essa?”. Eu fui forçado a isso, mas eu não era totalmente um participante relutante. Foi uma decisão bem grande de ser tomada. E claro, quando Donald Sutherland assinou, parecia que eu tinha feito a coisa mais idiota da minha vida (risos). Acabei trabalhando com Sutherland por 17 dias em Toronto e foi uma experiência muito diferente pra mim, eu confesso.

Tribeca: O que te atraiu nessa história? O que você gosta do filme original e o que você e a Mary fizeram diferente nesta versão?

Larry: Eu acho que a razão pela qual Mary me mostrou foi por causa do qual difícil é para uma pessoa na música, em particular, fazer essa mudança (de atuar). Há uma longa lista de pessoas que tentaram e não conseguiram – não porque elas não são talentosas, mas porque é difícil de ser acreditado pelos outros quando você é conhecido como uma coisa e decide fazer outra.
A observação de Mary era que Johnny Hallyday (músico francês) tinha feito vários filmes e não tinha sido bem sucedido, e então encontrou este filme. E foi uma transição de muito sucesso e ela disse que é assim que pode ser feito: com uma grande história, um grande diretor e assim por diante.
Johnny não era conhecido como um grande ator e acaba neste filme, e era o filme perfeito para ele, e ele está maravilhoso. Então, é assim que começou.

Tribeca: Você achou alguma semelhança em atuar como músico?

Larry: Eu acho que há algumas semelhanças, mas falando genericamente, quando você é músico, você está tocando pra você mesmo: é sobre você e é uma experiência pessoal. Eu acho que atuar é meio que o oposto disso de alguma forma. É sobre o “não pessoal” se tornando “pessoal” – você está interpretando outra pessoa. Eu acho que para atores jovens, pessoas que nunca atuaram antes, a maior lição é que as vezes são as coisas que você não sabe que realmente vão te beneficiar.
Isso realmente foi importante pra mim, eu tenho que dizer, quando eu estava trabalhando com pessoas como Sutherland. Eu não sabia de nada, eu não sabia qual protocolo era pra ser. Eu tive sucesso e fracassei ao mesmo tempo, eu não tinha expectativas comigo mesmo, eu não sabia se eu poderia fazê-lo. Então, eu continuei tentando o que eu achava que era a coisa certa.
Eu imagino que se eu soubesse um pouco mais, a perspectiva de trabalhar com uma pessoa como Sutherland teria sido demais. Ele é um ator extraordinário, mas ele também é um estadista mais velho. Foi só na metade do filme que eu realmente percebi como era difícil pra ele, eu acho, de trabalhar como um estreante como eu, mas nessa etapa eu não me importei…

Tribeca: Você já estava mergulhado nisso…

Larry: Eu já tinha pulado com tudo. Não tinha nada que eu pudesse fazer, não havia pára-quedas. Mas Sutherland foi muito generoso, ele não me ofereceu um monte de conselhos e tentou me ensinar. Ele só ficou fora do meu caminho. Ele me deixou fazer. E eu acho que esse foi o grande presente que ele me deu. Eu sou muito agradecido a ele porque eu acho que não deve ser fácil de me ver confuso em várias cenas, errando as falas e não fazendo as coisas certas. Não deve ter sido fácil pra ele ver isso, mas ele não interferiu. Ele não interferiu e me permitiu ascender e cair.

Tribeca: Eu acho que é uma honra ele te respeitar e te deixar fazer as coisas.

Larry: Com certeza. É exatamente assim que eu vejo. Eu vejo isso como uma coisa incrivelmente generosa pra ele fazer por mim, realmente “saindo do meu caminho”. Porque eu já estava pegando o meu jeito.

Tribeca: As notícias na imprensa diziam que Mary via o filme como um western urbano contemporâneo. Com isso em mente, como você se preparou para o personagem e o cavanhaque fazia parte dessa transformação ou era uma coisa que você já estava pensando?

Larry: Sabe, eu folheei o livro de Stanislavski sobre o método de atuar alguns anos atrás, mas isso não significava nada pra mim porque eu não tinha atuado antes. E quando Mary e eu decidimos que nós iríamos pra frente com isso, parte do problema pra mim era “Bem, o que eu faço? Como eu me preparo pra isso?” Ela tinha uma ideia bem clara sobre como eu me prepararia para isso e ela já trabalhou como “não-atores” antes, então eu tinha uma espécie de fichário de com todas as cenas nele, e eu tinha que construir meu personagem. Eu deixei crescer o cavanhaque e eu acho que usei uma forma de método, mesmo sem saber. Eu entrei nessa zona, com 5 ou 6 pessoas que eu conhecia e meio que eu os coloquei todos juntos para criar o personagem.

Tribeca: Você entrou em um espaço mental diferente ou foi realmente mais as aparências externas? Como foi o processo?

Larry: Muito disso veio do exterior, mal-humorado, um cara difícil, rude e a transformação num “cara” (para o personagem do Sutherland, um professor) foi um caminho agradável. Porque eu não estava interpretando o mesmo cara durante todo o filme: eu tinha a oportunidade de me comprometer com o professor.
Mas a medida que o filme ia sendo rodado – não era cena um para cena dois, etc. Era gravado em sequências diferentes: ao ar livre, dentro do estúdio… Então, foi um belo desafio. De manhã, por exemplo, eu poderia estar assaltando um banco. De tarde, eu poderia estar conversando com o professor durante o jantar como o cara é maravilhoso. Era um desafio estar tentando imaginar que tipo de sujeito eu seria naquela determinada hora. (risos)
Eu consegui? Tive sucesso em algumas partes. Estava convincente o tempo todo? Têm suas falhas, eu quero dizer que não sou um ator, mas certamente é algo que eu gostei de fazer.

Tribeca: Eu acho que você vê as falhas mais do que qualquer um… Mudando de assunto, você usou chapéus no filme: você é produtor e ator e produziu a trilha. O que você achou mais desafiador? E produzir te surpreendeu?

Larry: Sim. Quando você está no ramo da música, tudo é muito pessoal porque você está investido em tudo, há um apego muito profundo e pessoal à sua música. Quando você está fazendo um filme, é diferente. Eu acho que como um diretor que escreveu uma peça, eu posso entender como você se sentiria muito pessoal com isso, (mas pra mim) não era um desafio pessoal, era um filme. E a parte de produção foi muito prosaica, a resolução de problemas de uma forma básica: como você lança o filme, como você faz o financiamento, quem vai lançá-lo, e por aí vai. Eu gostei muito desse processo. Eu acho que era melhor, de um modo engraçado, do que atuando. Atuar foi realmente bem desafiador pra mim, embora tenha achado muito libertador. Foi a experiência mais agradável da minha vida? Não, mas eu fiz algo que não esperava.
E na medida em que a trilha era concebida, isso veio por acaso. Eu não era pra fazer a trilha e eu nem queria, mas nós estávamos sem tempo. Mary sugeriu que eu deveria me juntar com Simon Climie, que Mary conhece há muitos anos; eu nunca tinha o encontrado. Ele é um grande músico. Então, eu e ele trabalhamos por uns dias e surgiu alguma coisa. Nós não tivemos muito tempo pra isso. E, eu tenho que dizer, que de todas as coisas, essa foi a mais difícil – Eu estou acostumado com projetos musicais, para acessar pesquisas rápidas e conseguir o que (eu) quero e isso não foi assim. Foi muito difícil, foi um desafio. Mas nós fizemos o que fomos incumbidos de fazer. Poderia ter sido bem diferente e provavelmente poderia ter ficado bem melhor. E é uma música usada durante o filme, eu adoraria se fossem duas ou três partes – mas nós não tivemos tempo pra isso.

Tribeca: Então, qual é o veredicto? Você acha que vai atuar novamente ou você saiu correndo gritando desse mundo louco do cinema? Qual é o seu plano?

Larry: Bem, meu batismo foi um batismo de fogo. Não me senti humilhado, e não acho que eu falhei, como pensei que poderia. Eu não sei como isso seria. Eu sinto que fiz do meu jeito, eu absolutamente gostaria de fazer mais cinema. Eu não sei se sou qualificado para isso… É difícil para um diretor ou um diretor de elenco encontrar algo que eles achem que eu possa fazer. Para responder essa questão diretamente, eu gostaria sim de atuar mais.

Fonte: Tribeca Film

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