Especial U2 Show – Parte 11

Especial U2 Show – Parte 11

STEPHEN RAINFORD

Continuando então, com trechos do artigo de Stephen Rainford, que trabalhou como técnico de guitarras para o U2 e o Edge em particular, de 1983 a 1986. Ele havia trabalhado antes para o roqueiro irlandês Rory Gallagher, junto com Joe O´Herlihy. Quando soube, na época da War Tour, que o U2 precisava de um guitar tech ele se ofereceu pra trabalhar com eles.

O trecho onde ele fala das gravações do Live at Red Rocks é muito legal, vejam só:

Um dos meus shows preferidos foi em Red Rocks, no Colorado. Nós tínhamos desafios diferentes: só pra carregar o equipamento já foi difícil, porque tínhamos que subir uma colina por uma estrada com muito vento; eles tinham alguns pequenos caminhões-prancha pra levar as coisas da área de estacionamento para cima. Mas assim que chegamos lá nos pareceu um lugar muito bonito, e nós estávamos apreciando estar lá. Então as condições do tempo mudaram e as nuvens se derramaram. Não estava quente e úmido, estava frio e com neblina. Durante o show, tínhamos helicópteros voando baixo com câmeras e luzes de spot neles – você sabe, era como “O quão perigoso você quer que isso seja? Você gostaria de acender uma fogueira no alto da colina? Okay!” Havia muita tensão. Aquele era um grupo muito pequeno – talvez oito ou dez de nós na equipe. Não era exatamente seguro: com tudo tão molhado, a rede elétrica do palco estava, literalmente, eletricamente viva naquela noite. Aquela foi uma noite mágica, mágica noite. Todos sabíamos que havia muita coisa em jogo, e nos dedicamos pra conseguir. Naqueles dias eu ficava com eles no palco. Bem lá.”

Um pequeno trecho sobre as gravações do Joshua Tree, onde ele trabalhou em Danesmoate, na casa que eles alugaram pra iniciar a produção do disco:

Eu trabalhei em todas as gravações demo para o álbum The Joshua Tree, até que eles foram para Windmill Lane. Eu trabalhava 24 horas por dia, às vezes. Bono podia ficar por lá até à 1:30 h da madrugada, improvisando em algo, e então ele aparecia de novo às 8:30 h da manhã e queria tocar blues por algumas horas, antes que os demais aparecessem. Bono me deixava pirado algumas vezes, ao aparecer tão cedo. Ele não fazia isso todo dia, mas alguns dias por semana ele vinha bem cedo e eu procurava facilitar as coisas pra ele. Um dia ele chegou e começou a tocar música clássica no piano. Eu disse “Meus Deus – de onde você tirou isso?” Ele disse que alguém havia mostrado algumas coisas pra ele, e ele estava literalmente inventando, mas ele estava compondo em um gênero que alguém tinha apenas lhe mostrado, lhe dado uma idéia a respeito. Ele fazia o mesmo com o blues naquela época. Eu acho que todo o relacionamento com o B.B.King nasceu da perspectiva dele sobre o blues e a cultura norte-americana.”

E finalmente, o que ele diz sobre o Edge no último parágrafo:

O que o Edge tem de diferente como guitarrista? Bem, ele nunca tentou imitar o som de outros guitarristas. Eu acho que tem a ver com o seu senso de ritmo, ele é ótimo nesse aspecto, com certeza. Ele abraça toda e qualquer inovação e isso o faz completamente único como guitarrista. E ele canta muito bem também.”

DALLAS SCHOO

Uma pequena parte do artigo do Dallas Schoo, que assumiu como guitar tech do Edge desde 1987 e nunca mais saiu. Figura conhecida entre os fãs do U2 pela simpatia com o público, ele mostra sua enorme admiração pelo “boss” em seu artigo no livro. Alguns trechos:

Edge espera que eu cuide de suas guitarras com tanta responsabilidade como se ele mesmo estivesse encarregado disso. Nem mais, nem menos. Edge quer coerência, mas ele também quer que você saiba o catálogo de músicas do U2 bem o suficiente para, se eles decidirem tocar uma música que não estava no setlist daquela noite, você seja capaz de saber qual guitarra em qual afinação, e que efeito de guitarra será necessário para a música. É confiança e entendimento, e é algo que tem sido desenvolvido ao longo de muitos anos em que temos trabalhado juntos. É claro que eu aprendi, depois de tantos shows, quando ele precisa de ajuda no palco, quer seja algo com a guitarra ou com seu monitor. Às vezes eu erro, mas não mais com tanta frequência.”

Ele nunca vai dizer que tudo está certo, tudo está bom. Quero dizer, se está bom você nunca vai ouvir isso dele. Se não está bom, aí ele vai pedir por ajuda. Edge usa tantos efeitos de guitarra e tanta coisa, o que é fantástico, e o som dele é fantástico, mas isso tudo tem um preço. O potencial para falhas eletrônicas ou mesmo um colapso é inacreditável, e é inacreditável também que não tenhamos muitos problemas. Meu trabalho é muito intenso, porque o U2 pode ser muito intenso.”

Ele é o Edge, e ele tem o jeito dele, e eu tenho o meu. Sabe, eu sou um atleta e eu gasto os meus dias nadando em piscinas por esse mundo afora tentando permanecer em forma e combater essa tardia jornada de trabalho no rock´n´roll. Isso é o que faço. Já o Edge, bem, ele vai falar com você quando estiver pronto. Sem papo furado e conversa fiada. O que eu acho é o seguinte: o homem gasta 2 1/2 horas por noite tocando em shows, e mais 2 horas com passagem de som, ensaios, e fazendo o reconhecimento sonoro do estádio ou arena onde vão tocar. Ele é o guitarrista principal; pra mim, ele é o diretor musical dessa banda. Ele não tem tempo pra “tudo está indo muito bem” ou talvez “meu chapéu não tá legal pro show dessa noite.”. Mas Edge é meu amigo e meu chefe.”

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