Especial U2:Show – Parte 6

Especial U2:Show – Parte 6

RENE CASTRO

Mais um pequeno trecho do livro que me chamou a atenção, é sobre Rene Castro falando de sua experiência trabalhando com o U2. Ele é um artista plástico chileno que trabalhou com eles no final dos anos 80/início dos 90, criando o design de palco da Lovetown tour (falamos sobre isso no podcast sobre a Lovetown), e mais tarde pintando Trabants para o palco da ZOO TV. Um trecho do artigo dele no livro que achei interessante diz mais ou menos o seguinte:

Tenho trabalhado com músicos por toda a minha vida, mas essa banda é diferente. Bono é realmente um animal político e provavelmente isso é o que cresceu conosco, o quão inteligente ele é, e com ele a discussão não acaba nunca. O U2 anda por uma linha realmente muito tênue. É muito difícil fazer isso. Eles pertencem ao mainstream. Quanto mais você se expõe, mais você fica aberto às críticas. Mas se isso afeta a música e a mensagem, essa é a linha tênue, porque eles são um dos melhores grupos de rock´n´roll no mundo, sem dúvida alguma. Agora, será que eles precisam sacrificar essa posição por serem politicamente corretos? Eu acho que não. As pessoas precisam fazer aquilo pelo qual são apaixonadas. Eu acho que Bono é realmente um apaixonado. Ele realmente pensa muito sobre a dívida desses países, sobre a mecânica da coisa, sobre equações econômicas, e ele sabe porque as coisas não funcionam, então ele passa sua mensagem adiante. Algumas pessoas me perguntam “Rene, porque você faz essas coisas, e luta por elas? e eu digo “eu preciso fazer isso, essa é a minha conexão, é o que eu faço.” E o jeito como faço as coisas não é formal. Eu não sou um designer de shows, eu sei disso. A situação é diferente, a experência é diferente. Nos anos 60, meus ídolos eram Che Guevara e Fidel Castro. Hoje em dia, Che Guevara continua sendo meu ídolo. Já Fidel Castro, todo mundo tem perguntas demais sobre a situação em Cuba, incluindo eu mesmo, então é diferente. O mundo se transformou numa commodity, e você tem que ser inteligente o bastante pra entender todas essas mudanças. Quanto mais velho você fica, você tem que saber disso melhor ainda. Você precisa ter uma resposta. E essa é uma tarefa enorme. Bono tem corrido o risco. Ele é um homem que se arrisca.”

MARK FISHER

Outra coisa legal que achei foi no artigo de Mark Fisher, arquiteto e parceiro de Willie Williams na concepção e design da ZOO TV, PopMart e Elevation. Ele compara seus trabalhos anteriores, com os Rolling Stones, com o U2, especificamente na questão do design do palco da Elevation tour. Vejam só o que ele diz:

Toda banda de sucesso tem consciência de sua própria identidade, algo que você pode caracterizar como a sua marca. Você pode entender isso imaginando se Mick e Keith (dos Stones) teriam sido felizes no palco da Elevation tour. E a resposta é não, absolutamente. Eles jamais chegariam perto disso. Mas para o U2, ter um símbolo que era controvertido – controvertido porque seu significado era tão banal e tão absolutamente, inquestionavelmente inocente – era altamente provocativo. Porque o que você pode dizer de ruim sobre os valores do coração? Okay, é banal, mas e daí? O que há de banal em amar as pessoas? Isso te leva de volta direto a John Lennon e os movimentos pela paz e, você sabe…qual é exatamente o seu problema com a idéia de que as pessoas deveriam se amar umas às outras? É daí que vem o U2. Para os Stones, ter esse montante de ideologia sobre seu pés seria altamente preocupante. Os Stones ainda querem parecer durões, eles não querem parecer que gastaram um monte de dinheiro, mas querem definitivamente algo que mostre sutis sinais de poder.”

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