Fonte: Reuters

O roqueiro irlandês e ativista defensor dos países pobres Bono assumiu nesta terça-feira o cargo de editor convidado do jornal britânico The Independent. Em um dos editoriais que assinou, o músico citou o Brasil como integrante do grupo de países em desenvolvimento que estão destinados a “herdar a Terra”.

Até 2050 esse grupo (que conta ainda com Rússia, Índia e China) vai ter 40 por cento da população mundial e deve ser a economia dominante do mundo”, escreveu, no editorial intitulado “Um desafio para o Sr. Lula”. E continua: “Dos quatro, o Brasil é frequentemente visto como o mais promissor.”

Na edição especial do jornal, Bono conseguiu entrevistar o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, e o ministro das Finanças do país, Gordon Brown. A secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, concordou em lhe dizer quais são suas dez músicas favoritas. Parte da renda gerada pela venda dos exemplares desta terça-feira será revertida para a luta contra a Aids na África.

Em uma edição recheada de celebridades, a primeira página do jornal, ilustrada pelo artista britânico Damien Hirst, afirmava em uma manchete: “Não há notícias hoje” — exceto pela morte de 6.500 africanos contaminados pelo vírus HIV, da Aids. Blair, que fez da África uma das prioridades de seu governo, disse que o continente “deseja levantar-se com seus próprios pés e que deseja de nós, nesse meio tempo, ajuda para conseguir fazer isso”.

Entre os outros entrevistados de peso da edição de terça-feira estava o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que disse ao Independent sobre o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe: “Ele é meu amigo. Ele foi demonizado demais”. Stella McCartney entrevistou o estilista Giorgio Armani, que afirmou: “A moda exige consumidores para ser consumida. Mas podemos administrar nossas empresas de forma socialmente responsável”.

Até membros do U2 foram convocados para participar da edição. O guitarrista The Edge contou como os músicos de Nova Orleans estavam reconstruindo a cultura e o ganha-pão deles depois de o furacão Katrina ter destruído a cidade. O jornal perguntou se estrelas do rock como Bono e Bob Geldof, que organizou os festivais Live Aid e Live8, conseguiriam mudar o mundo usando sua fama para pressionar os políticos a se mobilizarem na luta contra a pobreza. “Não”, foi a resposta do vocalista, o primeiro a admitir as limitações da fama no palco da política mundial. “Ser célebre é algo ridículo. Mas é uma moeda, e eu desejo gastar a minha de forma sábia”, disse.

Na segunda-feira, Bono lançou um telefone celular vermelho na Grã-Bretanha. As vendas do produto, cujo projeto é o mesmo do cartão de crédito RED American Express, devem levantar centenas de milhares de dólares para a luta contra a Aids na África. Em janeiro, o vocalista participou com Bobby Shriver, sobrinho do presidente John F. Kennedy, da criação da marca Product RED, um esquema para levantar fundos no combate à doença.

Nomes famosos da política e do show business eram encontrados com facilidade na edição de terça-feira do Independent. O jornal pediu a Rice que nomeasse as dez músicas de que mais gostava. Na lista da secretária de Estado norte-americana estavam desde o “Concerto para Piano em Ré Menor”, de Mozart, a “Rocket Man”, de Elton John. Dando uma colher de chá para o editor por um dia, Rice também citou “qualquer uma do U2”.