Fonte: Folha Online
Venda de lugares na fila, cambistas, sistemas fora do ar, polícia e muita briga. O primeiro dia da venda de ingressos (nada baratos) para o show do U2 em São Paulo, que acontece no dia 20 de fevereiro no estádio do Morumbi, foi marcado pela completa desorganização. Em todos os pontos de venda no país, localizados em 12 lojas do Pão de Açúcar (dez em São Paulo e duas no Rio de Janeiro), fãs dormiram na fila ou madrugaram para garantir um lugar e conferir de perto a banda irlandesa, que não vem ao país desde 1998. Mas nem isso adiantou. “Passei a noite aqui e tinham 80 pessoas na minha frente. Agora são mais de 150. Alguma coisa está muito errada”, reclama o crítico de cinema Luis Henrique, 35, um dos que acionaram a polícia na loja Borba Gato (avenida Santo Amaro).
A Polícia Militar foi chamada depois que os seguranças que cuidavam da bilheteria e do início da fila alegaram não ser de responsabilidade deles “evitar abusos”, como ouviu a reportagem da Folha Online. Ele se referia aos cambistas e àqueles que “furavam fila”. Além da loja Borba Gato, em pelo menos outros três locais foi registrada a presença policial, Santana (rua Voluntários da Pátria), Villa Lobos e Copacabana (Rio de Janeiro). Neste dois últimos pontos, aliás, a organização chegou a suspender as vendas por alguns minutos, por conta do tumulto.
Filas
Ainda sobre as imensas filas, todos já esperavam —como em todos os países pelos quais passa a banda liderada por Bono Vox. Mas conter a irritação fica difícil ao se presenciar, por exemplo, a venda de lugares. Uma criança negociava em Santo Amaro, nesta manhã, um “pacote” de dez lugares na fila por R$ 170 ou dois por R$ 40 —o menino disse ao “cliente” que dormiu no local porque precisava de dinheiro para arrumar sua bicicleta. “Tenho sete cadeiras lá, mas se apertar cabem dez”, falou o menino. Mais tarde, a Folha Online flagrou o garoto junto com outros três homens, que continuavam na fila ao lado dos “clientes”. Quem estava na fila desde cedo reclamava ainda da venda preferencial para idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo. “Tudo bem que é lei, mas as pessoas chegam na maior cara de pau e passam na frente de todo mundo. Não há um guichê só para eles e a fila geral simplesmente não anda”, reclama a estudante Fernanda Fortino, 22.
Sistema
Mas a irritação de quem aguardava (e ainda aguarda) a compra de ingressos vai além. Em alguns locais, nem todos os guichês estão funcionando —de seis montados, apenas quatro estavam abertos em Santo Amaro. De acordo com o gerente da unidade, trata-se de um problema “operacional”. A loja explicou que há pessoal e máquinas de cartões de débito e crédito disponíveis, mas que, na prática, não cabem as pessoas dentro do local. Mas explicar como uma empresa que traz ao país um dos maiores shows do mundo consegue tal façanha, ele não conseguiu. Somam-se à demora do atendimento “humano”, os famosos “problemas no sistema”. Quem opta por pagar com cartão de débito, por exemplo, espera muito mais de quem paga em dinheiro. Em alguns momentos, ambos os grupos esperam muito, porque o sistema que contabiliza os ingressos vendidos também sai do ar de tempos em tempos.
Internet
Na internet, o site da Ticketronic, único responsável pelas vendas on-line, também enfrenta problemas. Nesta tarde, a página limitou mais ainda o acesso: está restrito a 2.000 usuários simultâneos, um quinto da capacidade anunciada pelo empresário Alexandre Accioly, um dos produtores do evento. Mais cedo, o limite de 10.000 já havia sido reduzido para 5.000. O número, aliás, muda constantemente. Há quem reclame ainda que, mesmo quando o site aparece disponível, a compra não é efetuada. “Estou desde as 10h conectado e já são 16h. Na hora de realizar a compra, ele diz ou que os ingressos só serão vendidos a partir das 10h, sendo que já passou desse horário há horas”, afirma o engenheiro Eduardo Christiano, 28. Segundo ele, se na busca do site se coloca “U2”, aparece como resposta que não há resultado. O mesmo tipo de problema ocorreu no Chile, onde a banda toca em 26 de fevereiro, no estádio Nacional. A empresa responsável pela venda de ingressos naquele país registrou panes nos sistemas de venda de ingressos por internet e telefone.
Sem explicações
Procurada pela Folha Online durante toda a tarde, em celulares e telefones fixos, a assessoria de imprensa do Pão de Açúcar não se manifestou sobre as confusões. Aliás, confusões que começaram antes do início da venda. Como a própria Folha Online divulgou na última sexta-feira, foi informado à imprensa que cada pessoa poderia adquirir apenas seis ingressos —na verdade, o limite é de dez entradas por pessoa. Também “esqueceram” de divulgar um dos pontos de venda em São Paulo, na avenida Washington Luiz.