De banho frio no Haiti a Gwyneth

De banho frio no Haiti a Gwyneth

Bruno Porto

Chris Martin com seus companheiros do Coldplay – Foto: Divulgação

Abram seus olhos”, canta Chris Martin, vocalista do Coldplay, no refrão da pungente “Politik”, que abre o excelente segundo disco da banda, “A rush of blood to the head”. Mais do que uma linda música, ela confirma o crescente engajamento político do grupo. Espelhando-se nos seus grandes ídolos U2 e Radiohead, a banda – formada pelo galês Jonny Buckland (guitarra), pelo escocês Guy Barryman (baixo) e pelos ingleses Will Champion (baterista) e Chris (que além de cantar também toca violão e piano) – tem usado a fama a serviço de causas sociais.

Chris, de 25 anos, letrista e principal compositor do Coldplay, é o mais dedicado. Em fevereiro deste ano, por exemplo, passou uma semana no Haiti divulgando os trabalhos sociais promovidos pela ONG Oxfam. O país tem o menor índice de desenvolvimento humano (IDH) das Américas e ele ficou assustado com a miséria.

– Em alguns momentos quis voltar para a minha bolha de popstar e ter de me preocupar somente com as resenhas dos críticos – admitiu à revista inglesa “Q”. – Mas é claro que é melhor falar da Oxfam do que dar entrevistas sobre a cor das minhas meias.

No Haiti, Chris só tomou banho de água fria, conviveu com policiais armados com submetralhadoras Uzi e cantou “Yellow” (grande sucesso de “Parachutes”) pelo menos uma vez por dia, mas diz que adorou a experiência. Seu engajamento fez com que a imprensa inglesa o comparasse a Bono Vox, que recentemente fez um giro pelo mundo defendendo o perdão da dívida dos países pobres pelas nações ricas. Amigo do vocalista do U2, Chris discordou.

– Só se for um Bono de quarta categoria – brincou. – Saí do Haiti me sentindo um inútil, mas mais bem informado.

Com a penca de belíssimas canções do disco novo – sucessor de “Parachutes”, de 2000, que vendeu cinco milhões de cópias no mundo e 40 mil no Brasil – e comparado em estatura a bandas britânicas como o Oasis, o Coldplay espera conquistar agora o fechado mercado americano. O que não é difícil, porque pérolas como “In my place” são capazes de converter até mesmo fãs de new metal e boy bands.

O endereço virtual da Oxfam <www.oxfam.org>, assim como o de outras ONGs que realizam trabalhos sociais, está impresso no encarte do disco novo. Como o Radiohead (cujo segundo CD, “The bends”, influenciou decisivamente o som do Coldplay), a banda não cogita ser associada a produtos. Ano passado, eles deixaram de ganhar quatro milhões de libras (aproximadamente R$ 18 milhões) ao se recusarem a liberar suas músicas para comerciais. Está tudo muito bem, está muito bom, mas, segundo o tablóide inglês “Daily star”, Chris – que já disse compor estimulado por romances turbulentos e medo da morte e da calvície – estaria saindo com a atriz patricinha Gwyneth Paltrow. Será que ela topa um banho frio no Haiti?

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