CLAUDIA ASSEF
da Folha de S.Paulo
George Washington é implacável com os brasileiros fãs de música pop. No começo do ano, com o dólar mais ou menos sob controle, você tinha engatilhados shows inéditos e grandalhões, do naipe de Pearl Jam, Lenny Kravitz, Radiohead…
Agora, com o dólar encostando nos R$ 3 e festivais como o Kaiser Music a um palmo do fundo do poço, você tem confirmados A-ha, B.B. King e Concrete Blonde até o final do ano. E dê-se por feliz.
Só o Kaiser Music, projeto que botou o pé em 2002 cheio de pompa, prometia trazer oito grandes nomes do pop rock ao Brasil até o final do ano.
Com esquema de escolha dos artistas por votação na internet, a empresa anunciou uma lista de 16 prováveis, entre eles Oasis, Lenny Kravitz, Pearl Jam, Radiohead, U2, Stone Temple Pilots etc.
Para colocar essa maravilha em prática, a Kaiser se uniu à Clear Channel, maior empresa da área de entretenimento do mundo. Só assim, com o know-how de uma gigante do ramo, o Kaiser Music teria como decolar.
Parecia sonho? E era. A Folha apurou que a Clear Channel rompeu contrato com a cervejaria e por hora estuda se continuará mantendo um escritório no país.
Após insistentes pedidos de entrevista com algum responsável pelo projeto, a assessoria de imprensa da cervejaria informou que ninguém falaria. Apenas o seguinte e-mail foi enviado: “A Kaiser garante a continuidade do Kaiser Music nos moldes anunciados anteriormente. Seguindo as etapas do festival nas cidades programadas. O KM continuará trazendo grandes nomes da música mundial ao Brasil”.
Ok, mas nem tudo bate nessa história. A começar pelo “nos moldes anunciados anteriormente”. Poxa, Kaiser, essa história de via internet nunca saiu do papel.
A própria empresa se desculpou pela mancada em seu site, em maio deste ano. Dizia o texto: “A Kaiser lamenta não poder atender à vontade de seus consumidores, que votaram pelo site…”.
Falando em site, dê uma passada em www.kaiser.com.br e confira as próximas atrações do Kaiser Music. Como assim? Não achou nenhuma? Nem eu.
Ali estão listados apenas os shows que o projeto efetivamente promoveu: Roger Waters, Gloria Gaynor, Chuck Berry e Kansas… Sem querer desmerecer ninguém, mas a empresa não tinha falado em maiores nomes da música mundial?
A Via Funchal, casa de espetáculos gigantesca de São Paulo que atua como agenciadora de seus próprios shows, também havia anunciado um ano pop gordinho no início de 2002.
Entre as maiores atrações, algumas coincidiam com pretendentes do Kaiser Music. Era o caso de Pearl Jam e Lenny Kravitz.
Fala Jorge Maluf, diretor da casa: “Anunciamos que traríamos as duas atrações, com previsão de apresentação até o final deste ano. Mas as apresentações não acontecerão este ano, e não há previsão de que elas venham a acontecer”.
O furo se deve a três fatores, que explicam a magreza de shows internacionais em geral: alta do dólar, crise no mercado publicitário e a situação econômica da Argentina -já que boa parte dos shows gringos se viabilizava ao dar uma esticada até o país.
A primeira baixa importante, que tinha datas confirmadas, é Bryan Ferry. O ex-Roxy Music viria ao Brasil trazido pela CIE, megaprodutora de shows internacionais. E como a CIE vai atravessar a crise? Buscando apoio de anunciantes, oras.