A África é um continente em chamas por causa da miséria da dívida, da pobreza e das doenças, e as nações ricas do Ocidente deveriam, para seu próprio bem, oferecer mais ajuda para apagar o incêndio, disse o roqueiro irlandês Bono Vox no sábado.
Em entrevista à Reuters, Bono elogiou seu companheiro de viagem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O’ Neill, e demonstrou sua determinação em pressionar por mais ajuda aos países assolados pela Aids, como a África do Sul, e para países afundados em dívidas.
“Gosto muito do secretário O’Neill, pessoalmente. Não gosto do fato de que os Estados Unidos não estão contribuindo muito nos últimos 10 ou 20 anos, assim como outros países”, disse Bono.
A dupla insólita está no meio de sua viagem de 11 dias por quatro países africanos, parte missão investigativa e parte missão de divulgação da dimensão arrepiante dos problemas que devastam a África.
Mesmo na África do Sul, o país mais rico da região, estatísticas oficiais dizem que 29 por cento da população não tem emprego. Estimativas independentes colocam a cifra em quase 40 por cento.
Bono, como sempre trajado informalmente e usando óculos escuros, disse que continua envolvido em negociações com O’Neill e afirmou que compreende o ceticismo norte-americano em ceder ajuda por causa de fracassos nos passado no uso dessa ajuda.
Mudando o mundo
“Então estou dizendo: bem, se puder mostrar onde a ajuda seria bem gasta, os senhores iriam lá? E ele está respondendo sim, o presidente Bush (dos EUA) está dizendo sim no momento, o Congresso está dizendo sim no momento… então, estou aqui, e é disso que se trata”, disse Bono.
Ele defende a idéia de que mais ajuda representa maior estabilidade em uma região que poderá ficar desestabilizada se não receber apoio. “É mais barato prevenir incêndios do que apagá-los”, disse o astro da banda U2.
“Não posso mudar o mundo, mas estou me engajando com pessoas que podem”, disse, em alusão à sua relação com poderosos de Washington, Londres e outros países.
Bono e O’Neill se encontraram cerca de um ano atrás – depois de hesitação inicial do secretário, que duvidava dos motivos do cantor – e decidiram viajar à África juntos.
Desigualdade
Bono disse que o Ocidente “estuprou e pilhou este continente”, mas tem agora uma chance de se redimir por meio do perdão da dívida e de ajuda generosa. Ele deplorou ações recentes dos EUA, como a ajuda de bilhões de dólares em subsídios extraordinários para agricultores norte-americanos.
“Dizemos aos africanos que eles não podem receber subsídios comerciais, caso queiram empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, e então damos subsídios para proteger nossa própria agricultura”, reclamou.
“Não tenho nada contra proteger fazendeiros norte-americanos – só não diga aos outros que não podem fazer o mesmo.” Ele e O’Neill vão para Uganda no domingo e fecharão a viagem na Etiópia, no final da semana que vem.
Reuters