Autor: Márcio Guariba

Letra traduzida de Ordinary Love

Letra traduzida de Ordinary Love

Amor Comum

O mar quer beijar a costa dourada
O sol aquece a sua pele
Toda a beleza que fora perdida
Quer nos encontrar novamente

Eu não posso mais lutar com você
É por você que eu estou lutando
O mar nos joga rochas
Mas o tempo nos deixa pedras polidas

(Refrão)
Nós não podemos cair mais profundamente se
Não conseguimos sentir o amor comum
Não conseguiremos ir mais alto
Se não soubermos lidar com o amor comum

Pássaros voam alto no céu de verão
E descansam na brisa
O mesmo vento que cuidará de nós
Construiremos nossa casa nas árvores

Seu coração está na minha manga
Você o colocou lá com uma ‘tinta definitiva’
Por anos eu acreditaria
Que o mundo não poderia apagá-la

(Repete refrão)

Você é durão o bastante para o amor comum?

(Repete refrão)

Zooropa Especial 20 anos

Zooropa Especial 20 anos

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O lado B consegue ser ainda mais difícil que o anterior, porém, com uma angústia quase Joy Division. Pós-Punk e industrial.

Já na abertura, com a bluesy ‘Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car’ (outra que nasceu das jam sessions durante as passagens de som), nos sentimos dentro do palco da ZOO TV. Sob uma introdução sampleada das fanfarras preferidas de Lênin e uma bateria marcial, perfeita para um desfile de soldados marchando, Bono versa sobre a imaturidade de um viciado como um demônio convencendo alguém a pular de um precipício. O mesmo vale para a seguinte, ‘Some Days Are Better Than Others’, com uma linha de baixo matadora de Adam Clayton e uma guitarra que mais parece um zunido do que aquele velho instrumento de cinco cordas. Edge está totalmente a vontade com um novo universo nas suas partes. Ele não está ali como um Guitar Hero. Quando aparece, são para intervenções, barulhos dissonantes. A letra é ainda mais cínica: “Alguns dias você se sente um pouco bebê procurando por Jesus e sua mãe. Alguns dias são melhores do que outros”. Na melhor linha Lou Reed.

Durante sete faixas, o narrador desconfia do mundo e o rejeita. Faz amor e fica entorpecido pela televisão. Alcança o cume de sua arrogância e cai de joelhos do seu pedestal e, como um anjo caído, brinca com a fossa dos outros. Chegou então a hora do arrependimento.

Na sua parte final, a temática é autocontida. O personagem que afirmava e questionava agora se mostra arrependido e quer voltar para casa, em uma jornada de autopunição. A tríade ‘The First Time’ (que originalmente se chamava “The Prodigal Son” e foi escrita como um tema Soul para Al Green, grande expoente da música negra americana e uma das maiores influências de Bono), ‘Dirty Day’ e ‘The Wanderer’ fecham esse disco com chave de ouro. “´The First Time` é uma música muito especial” explica Bono na biografia “U2 by U2”. “Me parece muito certo que bem no meio de todo esse caos e luzes ofuscantes haveria um momento muito simples, poético. É a história do filho pródigo, mas nela o filho pródigo decide que não irá mais retornar. É sobre perder a sua fé. Eu não tinha perdido a minha fé, mas eu era muito simpatizante com as pessoas que tinham a coragem de não acreditar. Eu vi várias pessoas perto de mim terem experiências ruins com a religião, sendo tão maltratados que eles sentiram que não podiam mais ir lá, o que é uma vergonha.

Já ´Dirty Day` é uma música sobre pai e filho. “´It´s a dirty day` (É um dia sujo), era uma expressão que o meu pai costumava usar e tem muito dele nessa música, mas também foi influenciada pelo Charles Bukowski, o grande escritor americano e bebedor”, comenta Bono. “O seu apelido era Hank e eu uso essa frase no final da música, O Hank diz que os dias passam como cavalos sobre as colinas. A música é sobre um sujeito que deixa para trás sua família e que anos depois reencontra o filho abandonado. Não é sobre o meu pai, mas eu uso algumas das atitudes do meu pai nessa música. ‘Eu não conheço você e você não conhece metade disso’. ‘Nenhum sangue é mais grosso do que tinta’. ‘Nada tão simples quanto você pensa’, são todas coisas que o meu pai dizia. ‘Isso não dura o tempo de um beijo’ é outra do meu pai, a forma que ele dispensava alguma coisa que achasse transitória,” complementa.

Já sobre “The Wanderer”, talvez uma das melhores coisas que o U2 fez em todos os tempos, ele comenta: “Eu tive muitas figuras paternas na minha vida. Que lista isso daria! Mas em algum lugar no topo dessa lista tem que estar Johnny Cash, para quem nós escrevemos uma música e o persuadimos a vir e cantá-la conosco, para fechar o álbum, ‘The Wanderer’. Eu escrevi essa letra baseado no livro de Eclesiastes do Velho Testamento, o qual em alguma tradução é chamado de O Pregador. É a história de um intelectual com sede por viagens. O pregador quer encontrar o sentido da vida e para isso ele tenta um pouco de tudo. Ele tenta viajar, tem todas as visões, mas não é nada disso. Ele tenta vinho, mulheres e música, mas não é isso. Tudo, ele diz, é orgulho, orgulho de bobagens, se esforçando atrás do vento.”

A canção, que originalmente se chamava “The Ellis Island” (a ilha onde está a estátua da Liberdade, em Nova Iorque), é uma resposta à pergunta feita no início do disco, na faixa-título. A redenção a danação: “A música é o antídoto para o manifesto de incertezas de Zooropa”, Bono comenta. “Mesmo se o álbum começasse com Eu não tenho uma bússola, eu não tenho um mapa – em outras palavras, Eu não sei, mas eu aceito esse estado de incertezas – ´The Wanderer` apresenta uma solução possível. Em linhas gerais sobre o álbum, a chave é aprender a viver com as incertezas, mesmo que seja preciso permitir que a incerteza seja o seu guia. Eu me lembro de tentar ordenar alguns problemas com as frases da música e o Johnny me interrompendo e dizendo, ‘Não, eu gosto quando o ritmo é irregular. Eu quero fazer o inesperado’. Outra lição de um mestre. Mas escutar a voz de um marinheiro ancião cantando sobre sons eletrônicos era um pouco de justaposição e uma das melhores coisas que nós já fizemos”, finaliza.

A banda se lançou na turnê europeia durante a finalização e o lançamento do disco. Várias faixas foram tocadas ao vivo em um primeiro momento e, outras, somente quando a turnê chegou a Ásia e a Oceania, onde a banda fez o registro definitivo dessa fase, com a gravação do show em Sidney, na Austrália. No bis, Bono entrava travestido como o personagem MacPhisto, uma brincadeira, misturando o tradicional nome ‘Mac’, muito comum no Reino Unido, com o anjo caído Mefistófeles. “Para esse personagem, nós viemos com a ideia de um velho diabo inglês, um pop star com um passado primoroso, retornando regularmente à cada estação a Las Vegas e alegrando qualquer um que escutasse suas histórias dos bons e maus dias”, comenta Bono. Nesse momento do show, entre a apresentação de “Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car” e “Lemon”, Bono fazia um melancólico discurso, reclamando de algum tema, ora fútil, ora cheio de segundas intenções e, invariavelmente, ligava ao vivo para um dos citados. Se na primeira parte da turnê, o alvo invariavelmente era a Casa Branca, na fase “Zooropa”, Bono ligou para personagens díspares como Salman Rushdie, Luciano Pavarotti e até políticos com péssimo histórico, como o francês Jean-Marie Le Pen e Alessandra Mussolinni, neta do ditador italiano. Sobre isso, Bono comentou; “Eu liguei para a Alessandra Mussolini, a neta do ditador italiano, que estava começando a se envolver na política e nós tínhamos setenta mil pessoas cantando, ‘Eu apenas liguei para dizer que eu te amo’ na sua secretária eletrônica. Eu liguei para o arcebispo de Canterbury e disse para ele que eu adorava o que ele estava fazendo e que era maravilhoso que a igreja não parecia tomar partido de nada. Isso foi a morte, querido! Durante os nossos shows na Itália, em um momento de performance artística, eu me filmei andando pela praça do Vaticano. Nesse momento o MacPhisto desenvolveu uma maneira de andar mancando, e eu tinha uma bengala e ia enxotando os pássaros, vestido como o diabo, andando pela praça do Vaticano, murmurando ‘Um dia, tudo isso vai ser meu. Ah não, eu esqueci, isso é meu’”, finaliza.

O disco foi extremamente bem recebido pela crítica, apesar das vendas não terem sido tão expressivas para os padrões da banda até então. Muitos chegaram a elegê-lo como um dos melhores do ano e a banda ganhou um Grammy como “Melhor disco alternativo”, o que parece surreal.

Praticamente todo o material do disco foi descartado após o término da “ZOO TV”. “Stay” é a única que foi mais regularmente tocada nas turnês subsequentes. “The First Time” apareceu em alguns shows da turnê “Vertigo”, entre 2005 e 2006 e, depois de dezoito anos, “Zooropa” foi finalmente tocada completa, e sua primeira apresentação foi exatamente aqui no Brasil, no segundo show da turnê “360°”, em uma performance tão arrasadora que foi mantida até o final da gira.

Infelizmente, a banda não valoriza o disco como deveria. “Eu nunca pensei no Zooropa como algo mais do que um intervalo”, comentou Edge. “Mas um bom intervalo. De longe, o nosso mais interessante.”.

Bono complementa: “Na época eu imaginava o Zooropa como um trabalho de gênios. Eu realmente achava que a nossa disciplina pop estava se encaixando na nossa experimentação e esse era o nosso Sgt. Pepper. Eu estava um pouco enganado em relação a isso. A verdade é que a nossa disciplina pop estava nos deixando para baixo. Nós não criamos hits. Nós praticamente não entregamos as músicas. O que seria de Sgt. Pepper sem as músicas pop?”

A banda ainda manteve o pé na experimentação por mais alguns anos. O projeto “Passengers: Original Soundtracks One”, lançado em 1995, e o controverso álbum “Pop”, de 1997, que junto da sua turnê “Popmart”, quase quebrou a banda.

Mas isso fica pra depois.

O que sobra, e o que deve ser sempre lembrado, é esse grande disco, de uma banda que tinha tudo para ser muito mais que produtores de hits radiofônicos. Se existe arte no trabalho do U2, ele foi todo comprimido nesse pequeno, esquisito e torto disco de dez faixas lançado há vinte anos.

Uma pena que será esquecido…

Por Márcio Guariba

Zooropa Especial 20 anos – “Seja tudo o que puder ser”

Zooropa Especial 20 anos – “Seja tudo o que puder ser”

Será que um mero compositor de canções radiofônicas tem nível intelectual para, em pouco mais de 40 minutos, discorrer sobre temas que grandes escritores como William Gibson, Anthony Burgess e Charles Bukowski passaram suas vidas versando em dezenas de livros e textos?

Isso sim é que é ambição! Isso sim podemos chamar de megalomania!

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O ano é 1992 e o U2 está no topo do seu jogo. A turnê ZOO TV estava decolando, lançando um inédito conceito transgressor na relação ‘arte/música’, integrando a tecnologia de ponta da época ao showbizz. Até então, telões eram meros rebatedores de imagem, ampliando o tamanho daqueles homenzinhos na multidão, para que o pobre coitado lá de trás pudesse pelo menos entender o que se passava no palco. Mas a banda e, especialmente, Bono queriam mais. Queriam transformar a experiência toda. E o momento era perfeito. “O conceito do Bono para um show audiovisual, era onde ele pudesse interagir com o que estava passando no telão, com imagens ao vivo e pré-gravadas e misturar tudo isso.”, disse Adam na biografia “U2 by U2”. “Nós realmente queríamos fazer algo que nunca tinha sido visto antes, usando TV, texto e imagens. Era um projeto muito grande e caro pra ser posto em prática. Nós nos permitimos ser levados por novas tecnologias.”, completa Larry.

E esse monstrengo começou pequeno e cauteloso. Espaços menores para testar todo o processo, que nem eles mesmos, sabiam se iria dar certo. Acredite o primeiro show da turnê em Lakeland, na Flórida, foi ‘somente’ para quinze mil pessoas!

Para Edge, ‘A Zoo TV não era uma apresentação, era um estado de alma”.

A banda foi para a Europa, também em pequenos ginásios e voltou para a América para levar seu monstro aos estádios. Com o subtítulo de ‘Outside Broadcast’, a turnê se revigorou e ganhou novos contornos fantásticos, os elevando a um patamar jamais visto.

Paul McGuinnes, o ‘quinto U2’, fala sobre isso na biografia da banda; “A Zoo Tv foi entendida mundo afora como uma nova categoria de apresentação. Foi o surgimento do vídeo como um elemento criativo, muito mais do que nós chamávamos de i-mag, magnificação da imagem. Os críticos de arte e de arquitetura estavam escrevendo sobre nós. Era muito engraçado. Psicologicamente, isso elevou o U2 a um grupo de elite que incluía apenas Pink Floyd e The Rolling Stones. Eu me lembro de assistir a um dos shows com o Mick Jagger. Ele se virou para mim e disse, “Isso vai ser como o ‘Guerra nas Estrelas’. Se você faz alguma coisa tão grande quanto isso, nós teremos que fazer ainda melhor”. De certa forma ele estava certo, porque a partir daí o público não iria aceitar uma banda em uma caixa preta com um pouco de aço e uma lona sobre as suas cabeças e painéis brancos com algumas imagens ao lado do palco. Essas três produções, Pink Floyd, The Rolling Stones, e acima de tudo, o U2, elevou o nível para todo mundo.

Porém, quando a banda terminou essa parte da turnê e resolveu voltar para a Europa levando um show já encorpado e definido aos estádios de lá, os faniquitos de Bono começaram a tilintar…

“Nós estávamos indo para o nosso segundo ano na estrada. Aí surgiu a ideia, ‘Nós vamos ter algum tempo de folga. Ainda temos algumas ideias do último álbum, vamos fazer um EP, talvez umas quatro novas músicas para dar um tempero a mais para próxima fase da turnê. Um item de colecionador. Vai ser legal’”, comenta Edge. “Então nós fomos para o The Factory Studio em Dublin durante algumas semanas em fevereiro de 1993. Mas, na metade do processo de produção desse material, o Bono, um eterno otimista, disse, ‘Se nós vamos ter todo o trabalho de fazer um EP, vamos nos esforçar e ver se conseguimos fazer um álbum completo’. Eu estava lutando na época para dar alguma forma à musica, e não fiquei muito entusiasmado com a ideia no começo. Mas aí eu vi que era um grande desafio, um pouco impressionante. Conseguiria o U2 fazer um álbum em doze semanas, que era todo o tempo que nós tínhamos, ou nós nos tornamos tão mimados pelos orçamentos sem fim das gravações que nós precisamos de um ano para fazer um álbum?”

Foi ai que, imersos em um universo completamente diferente do já haviam experimentado, o ‘estado de espírito’ da ZOO TV os contaminou. Os contaminou não só para desafiarem-se logisticamente, mas também, musicalmente. Porque não tentarem ir onde nunca estiveram?

“Nós tínhamos (os produtores) (Brian) Eno (ex-Roxy Music) e o Flood (Depeche Mode e Nine Inch Nails), o que já era uma grande ajuda, mas por causa do problema do tempo, nós tínhamos que nos dedicar muito. Não havia nenhuma oportunidade para bagunças ou mesmo segundas opiniões, nós tínhamos que escrever, produzir e gravar e só”, comentou Edge.

E dessa ‘pressa’, nasceu o clima errático do disco. O conceito era falar sobre o futuro através do presente, como um álbum conceitual. Imaginar um homem tão maravilhado com esse lugar que estava disposto a renegar tudo o que acreditava.

Sobre esse período, Bono comentou; “Foi muito intenso, uma época de muita criatividade. Nós estávamos perdidos no nosso trabalho e na nossa arte e na nossa vida, tudo parecia ter se misturado em apenas uma coisa. As calças de plástico estavam ficando cada vez mais difíceis de serem tiradas após os shows”.

Cada faixa não foi realmente pensada para um disco conceitual, porém, tudo acabou se encaixando de forma quase sobrenatural. “Era a nossa chance de criar um mundo ao invés de apenas música, e um mundo lindo.”, completa.

Já na abertura, a faixa-título (que é dividida em duas partes; ‘Babel’ é a introdução hipnótica enquanto ‘Zooropa’ começa no mantra da guitarra de Edge, e nasceu em uma passagem de som durante a turnê), já tínhamos uma surpresa. O U2, famoso pelos seus refrões para estádios, começava no rebento sem um deles. “É o nosso novo manifesto”, disse Bono. “ ‘Eu não tenho nenhuma bússola, eu não tenho mapas, e eu não tenho nenhuma razão para voltar’. O Brian Eno estava na sua ‘área’ aqui. O estúdio se tornou um instrumento, um parque de diversões, vários ataques plásticos com os seus teclados DX7, várias levantadas de sobrancelha do Larry e do Adam. A faixa de abertura era o equivalente em áudio do visual de Blade Runner (Caçadores de Vampiros). Se você fechar os seus olhos, você pode ver o neon, o LED gigantesco advertindo sobre todas as maneiras de efemeridade. Eu queria me livrar do peso que eu estava carregando. Eu queria voar. Tinha muita melancolia a nossa volta. ‘E eu não tenho religião, Eu não sei o que é isso’. Há uma linha no Novo Testamento que diz que o espírito se move e ninguém sabe de onde ele vem ou para onde ele está indo. É como o vento. Eu sempre senti isso sobre a minha fé. A religião geralmente é inimiga de Deus porque ela nega a espontaneidade e a quase anárquica natureza do espírito”.

E é assim, questionando a sua fé, que ‘Zooropa’ começa. E o mais estranho nisso tudo, é que mesmo os fãs mais quadrados compraram a ideia. ‘Deslizaram sob a superfície das coisas’, como a banda gostava de mencionar. Só que dessa vez, a superfície escondia sim muito conteúdo mergulhado em estranheza.

Não acredita? Pegue ‘Babyface’, a segunda faixa. Em uma melodia eletronicamente doce, Bono versa sobre o sexo com uma imagem na televisão. Famosa pela religiosidade, em duas canções a banda consegue ir até mais longe do que antes, negando a sua religiosidade e exaltando o sexo via satélite. Detalhe, muito antes das Web Cams dominarem o mundo.

“Numb”, escolhida pela banda para ser o primeiro single do álbum, é a antítese do que foi escolhida para ser. Não tem refrão, paixão, explosão… Nada! Originalmente um demo que sobrou do álbum ‘Achtung Baby’ chamada ‘Down All The Days’ (que recentemente viu a luz do dia no box comemorativo de vinte anos do álbum lançado em 2011) e cantada pelo guitarrista The Edge, a faixa retrata um homem sem vida e sem vontades, totalmente absorto na programação vinte quatro horas da televisão. O sensacional vídeo dirigido por Kevin Godley costurou o conceito audiovisual da banda ao extremo, mostrando Edge olhando nos nossos olhos como um robô saído de ‘2001 – Uma Odisseia no Espaço’ enquanto a vida acontece à sua volta. “É um retrato cruel do que ele estava sentindo naquele momento e o que muitas pessoas estavam sentindo no mundo sobre a mídia. Ele estava bem nesse meio, mas se tornou uma grande metáfora para a mídia a incapacidade dessa geração de sentir qualquer coisa pelas imagens que você vê.”, comentou Bono.

Depois dessa tríade de abertura, já poderíamos esperar qualquer coisa e o hino “Lemon” só reforçou a estranheza. Totalmente cantado em falsete por Bono, que versa sobre a memória mais antiga de sua mãe, Iris, morta quando ainda era criança.

“Eu tenho poucas lembranças da minha mãe porque o meu pai nunca falava sobre ela depois que ela morreu”, conta ele. “Então foi uma experiência muito estranha receber pelos correios, de um parente muito distante, um filme Super 8 da minha mãe ainda nova, com 24 anos, mais jovem do que eu, participando de um jogo em câmera lenta. Essa linda e jovem garota irlandesa, com uma cintura bem fina, curvilínea e com cabelos negros como de uma cigana. O filme era em cores e parecia extraordinário. Era um casamento, onde ela era a dama de honra vestida em um lindo vestido cor de limão. Eu cantei com a minha voz de Fat Lady, mas havia uma aspereza na letra. Havia duas coisas acontecendo, memória e perda, o retrato de uma garota em um vestido limão cintilante, que a deixava sexy e alegre e o fato de um homem se separar das coisas que ele ama. Eu realmente senti pelo Edge naquele momento, porque ele teve que se mudar de casa. A sua primeira esposa, Aislinn, era uma garota muito especial e ele era muito próximo da sua família. ‘Lemon’ é sobre deixar a casa, ou não deixar a casa”, complementa.

A faixa é uma canção dançante e cíclica. Quase uma homenagem a grande tecnologia que, em 93, prenunciava mudar o mundo. A reciclagem. Quem não se lembra do Doutor Brown usando lixo como combustível em ‘De Volta Para o Futuro 2’?

“Stay”, construída a partir de uma demo chamada “Sinatra” é a única coisa “quase” U2 tradicional no álbum. Inspirada pelo filme alemão “Tão Longe, Tão Perto” de Wim Wenders, continuação de “Asas do Desejo” e mais conhecido por aqui pela refilmagem americana “Cidade dos Anjos”, ela é quase que como um pedaço de céu, porém, cinza. Melancólico, Bono lamenta sobre a distância das coisas. Sobre a impessoalidade que a tecnologia impõe, ao mesmo tempo que versa sobre anjos caídos, tema central dos filmes. Uma obra prima reverenciada até pela própria banda. “É a principal faixa do álbum”, segundo Edge.

E esse é o lado A. E pensar que era o lado mais fácil do disco.

Por Márcio Guariba

Foto: Ricardo Rocha

Especial War 30 anos – Parte 2

Especial War 30 anos – Parte 2

O lado B do disco é literalmente ‘b’. Todas as canções são mais distantes e menos fáceis. Já na abertura, com ‘The Refugee’, que também segundo a teoria de Niall Stokes no livro ‘The Story Behind Every U2 Song’, é uma tentativa de narrativa sobre o início da sociedade irlandesa, e como todos eram ‘refugiados’ do Egito e do norte da África. Porém, a letra também faz conexão com o exílio político de muitos ativistas cubanos na época, já que Bono começou a tomar conhecimento do assunto na turnê americana, em 1982.

A música é trôpega e estranha. Nem preciso dizer que também permanece inédita ao vivo. Aliás, muito da experimentação que viria dar a tônica no álbum seguinte, ‘The Unforgettable Fire’, de 1984, veio deste lado B.

Depois de tantas faixas densas, a seguinte, ‘Two Hearts Beat As One’ é uma pequena joia romântica. Lançada como single nos Estados Unidos e nos principais mercados europeus, é claramente uma declaração de amor para Ali Stewart, esposa de Bono.

Eu nunca gostei muito de compor canções diretas de amor, porque eu sempre pensei ‘O mundo realmente precisa de mais canções tão tolas assim?’, disse Bono em 1989. ‘Porém, acho que essa é realmente bonita. Estávamos tentando fazer algo mais dançável, e acho que conseguimos aqui. ’.
Foi muito executada ao vivo até o final dos anos oitenta. Desde então, está abandonada. Uma pena.

E depois do pequeno alívio, mais uma faixa experimental. ‘Red Light’ é outra canção que levou a banda aos extremos da sua composição na época, não só pelo seu jeito ‘torto’, mas também pela utilização de mais alguns recursos inéditos até então: metais e vocais femininos.

A ‘Luz vermelha’ do título refere-se ao nome comum dado as zonas de prostituição na Europa e a fascinação e a contradição que aquela liberdade virtual promovia na cabeça de um jovem e religioso irlandês, vindo de regras e conceitos muito fechados sobre a sexualidade.

‘Nós tocamos em Amsterdã (capital da Holanda e muito famosa na Europa pela sua ‘Zona Vermelha’) e eu me lembro de ver aquelas garotas nas janelas, à venda’ recorda Bono. ‘Eu ficava tentando entender tudo aqui, mas nunca as julguei. ’.

A novidade musical da canção foi proporcionada pela banda Kid Creole & The Coconuts, que estava na Irlanda em turnê na época. Saquem só as figuras:

A faixa chegou a ser incluída como b-side em algumas versões de ‘Sunday Bloody Sunday’ e no single alemão de ‘40’, ainda em 1983.

‘Surrender’, penúltima faixa do disco, é um groove militar com letra ambivalente sobre religião e suicídio. Algo assim só seria visto novamente nos anos noventa, nas fortes letras ambíguas de ‘Achtung Baby’ e ‘Zooropa’.  Bono cria uma personagem, a durona Sadie, uma mulher que faz o necessário para sobreviver na dura Nova Iorque do início dos anos oitenta; ‘As ruas de fogo’, como Bono canta na letra. Porém, acredito que apesar da história girar sobre o suicídio dela, penso que na verdade a ‘morte’ é simbólica, sendo parte da sua própria reinvenção.

Esta é mais uma faixa com vocais femininos, também cortesia das ‘Coconuts’.

Fechando o disco, um dos hinos da banda. ‘40’ é uma canção de ninar e é praticamente uma reposta ao início do disco, quando Bono pergunta ‘How long must we sing this song?’ com fúria em ‘Sunday Bloody Sunday’. Aqui ele cria a conexão em uma melodia de paz e resignação, retirando partes do Salmo 40 da bíblia para isso (leia-o aqui). Uma prece para vindouros tempos melhores.

Sobre ela, Edge falou no livro ‘U2 by U2’: Havia outra música que nós tínhamos trabalhado e eventualmente abandonado. Ela tinha um baixo muito forte, tinha uns arranjos um pouco pesados com muitas sessões estranhas e trocas de tempo, mas nós falhamos em colocar isso tudo junto em uma música coerente. Alguém disse, “Vamos trabalhar naquela melodia, e ver o que nós podemos fazer com ela.” Decidimos retirar as batidas que não estavam funcionando – literalmente, então o Steve fez rapidamente algumas edições múltiplas e tirou qualquer sessão que parecia não fazer parte da ideia principal. Então no final nós tínhamos um pequeno pedaço de música pouco comum e dissemos, “Ok, o que nós iremos fazer com isso?”, o Bono disse, “Vamos fazer uma passagem do salmo”. Abriu a Bíblia e achou o salmo 40. “É isso. Vamos fazer isso.” E em quatorze minutos nós trabalhamos os últimos elementos da melodia, o Bono cantou e mixamos. E literalmente, após terminar a mixagem, nós saímos pela porta e a próxima banda entrou. ’.

‘40’ foi o quarto single do álbum, lançado já no final de 1983 somente em alguns países da Europa.

Lado B, ‘Under a Blood Red Sky’ e edição de aniversário.


Como as sessões do álbum foram curtas e corridas, pouco sobrou para ser lançado com os quatro singles do álbum. Somente duas faixas acabaram sendo aproveitadas, além de vários remixes de ‘New Year’s Day’ e ‘Two Hearts Beat As One’.

‘Endless Deep’, lançada como lado B dos singles de ‘Two Heart Beat as One’ e ‘Sunday Bloody Sunday’, é uma peça instrumental espacial e calcada no baixo de Adam Clayton. Já ‘Treasure (Whatever Happened To Pete The Chop?)’, lado b de ‘New Year’s Day’, é uma demo datada de 1978, intitulada ‘Pete The Chop’ (daí, a brincadeira no título), que foi retrabalhada nas sessões de 1982. Poderia facilmente ter feito parte de um dos dois primeiros álbuns. Bono desafina horrores na letra do tal Pete, um amigo da banda. Paul McGuinness inclusive gostava tanto da canção que queria ter lançado como single, ainda em 79.

Dos remixes, as versões ‘US Remix’ de ambos os singles são tão boas quantos as versões do álbum. Todas estas versões foram feitas sobre bases não utilizadas nas versões finais, então há vários trechos diferentes de letra, melodia e até linhas de guitarra e baixo. Há inclusive um bootleg fácil de encontrar no You Tube com 13 (!?!?) versões diferentes de ‘Two Hearts Beat As One’.

Todos estes remixes (incluindo os do DJ Ferry Corsten), além das versões ao vivo de ‘I Threw a Brick Through a Window’, ‘A Day Without Me’ e ‘Fire’ foram incluídas no cd bônus da edição de aniversário do álbum, em 2008, ao lado da inédita ‘Angels Too Tied To The Ground’, que aproveitou a base inacabada das sessões do álbum e foi finalizada por Bono e Edge para o lançamento.

Em agosto de 1983, bem no meio da divulgação do álbum, a banda resolveu lançar um vídeo e um EP ao vivo mostrando como a banda era ao vivo. Uma polaroide daquele tempo.Daí veio o filme ‘U2 Live From The Red Rocks’ e o álbum ‘Live – Under a Blood Red Sky’.Aliás, muitos pensam ser a mesma apresentação, quando na verdade, o filme foi registrado no anfiteatro de Red Rocks, no Colorado, as faixas do álbum são vários registros ao vivo nos Estados Unidos e confusão vem devido as capas, que são iguais para ambos os lançamentos.

O filme catapultou a fama de ‘banda ao vivo’ do U2, que cresceu com as intermináveis apresentações nos confins norte-americanos. A banda estava determinada a estourar na América e a fagulha se acendeu ali.

Mas isso é assunto para outro especial de trinta anos… Em 2017 😉

‘War’ é um álbum que, apesar de ter claramente envelhecido na sonoridade, é pródigo em se manter atual nos temas e na espontaneidade que está no som do U2 até hoje. Faixas como ‘Love and Peace Or Else’, do álbum ‘How To Dismantle An Atomic Bomb’ devem muito a esse período. Mesmo o que eles logo mais vieram a fazer, no experimentalismo do álbum ‘The Unforgettable Fire’, brotou ali.

Até porque, não se vai à guerra desarmado. E a arma deles sempre foi a cara e a coragem.

Por Márcio Guariba

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Especial War 30 anos: Os meninos vão à guerra

Especial War 30 anos: Os meninos vão à guerra

Em 1982, o U2 vivia um período de transição pessoal muito forte: Bono se casou, Edge questionou sua fé e o som da banda estava perdido entre o Punk proletário e a experimentação celta.

O single de ‘A Celebration’, feito as pressas para tentar manter a banda nas paradas depois do fiasco de vendas de ‘October’, que não conseguiu emplacar nenhum single, não empolgou ninguém. Inclusive, a própria banda rejeita canção, a excluindo de todas as compilações lançadas posteriormente.

No livro ‘U2 by U2’ (ou ‘A Bíblia’), Edge comentou sobre a canção: “De volta à Dublin, nós gravamos ‘A Celebration’. Ela não era ruim, mas também não era boa o bastante para livrar-nos de encrenca. Nós ainda estávamos inseguros em relação a impasses do álbum, gravar sem ter músicas prontas. Naquele momento a gente precisava de um sucesso. ‘A Celebration’ não era um.”


Mas foi nela que o processo de composição do álbum seguinte começou. Os temas messiânicos seriam deixados um pouco de lado, porém os teclados viriam para ficar. Dessa fusão dos dois álbuns anteriores nasceu ‘War’, que completa trinta anos em 2013.

Durante a turnê do álbum ‘October’, entre 81 e 82, a Irlanda vivia a efervescência do nacionalismo burro, representado pelo exército republicano, os terroristas do IRA. “Algumas coisas estavam acontecendo durante a turnê de October.”, Bono comenta também no ‘U2 by U2’. “Bobby Sands (membro do IRA que tentava uma solução pacífica para os problemas religiosos da região) estava morrendo, numa greve de fome na Irlanda, e as pessoas estavam gritando o seu nome para nós enquanto estávamos no palco. Havia alguns poucos contingentes de ‘Viva o IRA’, que achavam que éramos irlandeses na América, havia um tipo de IRA provisório acontecendo. Eu estava comovido com a coragem do Bobby Sands, e nós entendíamos como as pessoas estavam encorajadas a defendê-las, mesmo que não achássemos que aquela era a coisa certa a fazer. Mas estava claro que o Movimento Republicano estava se tornando um monstro a fim de derrotar outro monstro. Aqueles foram tempos muito perigosos na Irlanda – o nacionalismo estava ficando feio. Então preferimos ficar contra a ‘tricolor’ (a bandeira Irlandesa), e quando ela era jogada no palco, eu “desmontava” ela. Eu tirava a parte verde, e a parte laranja e só restava a parte branca do meio, e ela se tornava a bandeira branca. Um gesto simples, mas poderoso naquele tempo. Então, quando estávamos nos preparando para o álbum ‘War’, nós começamos a pensar em como era ser um irlandês. Nós tínhamos que examinar algumas dessas questões. Você realmente acredita em não-violência? Em que ponto você protegeria a si mesmo? Essas não são questões fáceis de resolver.”
Deste processo de envolvimento político de Bono, de um amadurecimento de conceitos pessoais, partiu o embrião do álbum. Irlandês até a medula. Politizado e emocional. Marcial e livre. Um disco importantíssimo e que fechou um ciclo na carreira do U2, porém, marcou-os para sempre.

E nada melhor que começar um disco assim definindo o que virá após. A faixa símbolo. Seu hino. Abrir o disco com ‘Sunday Bloody Sunday’ era muito representativo. De repente, aquela banda que falava sobre suas questões de adolescência em ‘Boy’ e sobre sua experiência com a religião em ‘October’ estava colocando o dedo na ferida de umas das questões mais importantes em seu país natal. Batida marcada e guitarra cortante como uma navalha.

Sobre a composição, Edge disse: “O primeiro esboço de ‘Sunday Bloody Sunday’ foi feito durante um dia particularmente depressivo, naquela pequena casa à beira do mar. Eu estava sozinho, nada estava dando certo e eu tinha brigado com a minha namorada porque eu estava trabalhando enquanto todo mundo estava de férias, então talvez eu devesse tirar férias também, ao invés de desperdiçar meu tempo tentando me tornar um compositor, já que, obviamente, eu não era bom nisso. Eu fiz a única coisa na qual podia pensar, que foi transferir todo meu medo, frustração e pena de mim mesmo para um pedaço de música. Eu peguei minha guitarra e deixei tudo isso se manifestar. Era apenas um esboço, um contorno, eu não tinha um título, um refrão ou uma melodia, mas eu tinha um estilo de composição e um tema. Se eu me lembro bem, minha linha de abertura era ‘Don’t talk to me about the rights of IRA, UDA’ … Era uma canção completamente antiterrorista.”


Bono desenvolveu a letra, lembrando-se de tudo que havia ocorrido não só no ano anterior, mas também sobre o famoso ‘Domingo Sangrento’, um confronto entre manifestantes católicos e nacionalistas e o exército inglês ocorrido em DerryIrlanda do Norte, no dia 30 de janeiro de 1972. O movimento teve início com uma passeata de dez mil manifestantes que pretendiam, saindo do bairro de Creggan em marcha pelas ruas católicas da cidade, chegar até a Prefeitura. Antes disso, entretanto, os soldados ingleses partiram para ofensiva e disparam contra os manifestantes deixando 14 ativistas católicos mortos e 26 feridos.

A faixa foi o segundo single do disco, lançada somente em alguns países da Europa.

Se o tema era a Irlanda na primeira faixa, na segunda, o medo e a ideia de paz passavam a ser globais. ‘Seconds’, pela primeira vez, com vocais principais de Edge. Aliás, é nesse álbum que ele começa a assumir deliberadamente a função de ‘cérebro’ da banda. Larry comentou sobre isso: “As músicas deixaram de ser vagas e pareciam estar um pouco mais concisas. Edge tinha realmente assumido o papel de diretor musical e Steve Lillywhite entendeu a proposta e parecia mais seguro como produtor, o que não quer dizer que tenha sido fácil.”


A faixa é nitidamente uma abertura de leque na carreira da banda. Depois dos teclados, introduzidos massivamente em ‘October’, Edge resolveu experimentar com outros instrumentos e o violão ganhou força aqui. Até os famigerados samples (utilização de pedaços de outras canções ou filmes) foram um recurso, aqui, retirados do documentário ‘Soldier Girls’.

Durante os anos 60 e 70 e, finalmente, no início dos 80, a guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética (atual Rússia) manteve o mundo em suspensão, a espera por uma iminente guerra nuclear. E esse conceito de medo permeou a cultura pop. Dezenas de filmes e músicas foram feitos a respeito. ‘It takes a second to say good-bye. Push the button, pull the plug… Say good-bye!’


A música foi muito tocada ao vivo na turnê do álbum e posteriormente, na ‘Unforgettable Fire Tour’, porém, abandonada desde então. Uma das minhas preferidas até hoje.

Lançada como single no dia de ano novo de 1983, a terceira faixa do álbum, ‘New Year’s Day’, representou não só um clássico tocado até hoje nos shows da banda, mas deu também o primeiro hit nos Estados Unidos.

E tudo nasceu de uma tentativa de cover…

Sim!

Adam Clayton comentou sobre isso: “‘New Year’s Day’ começou como uma sessão de checagem de som. Eu basicamente estava tentando tocar ‘Fade To Grey’ do Visage, e tentando encontrar o intervalo correto. Algumas vezes nossos erros são nossos melhores trunfos…”


Não conhece o Visage? Veja:

Essa é pra quem acha que a música eletrônica só entrou na vida da banda muito tempo depois…
Aliás, para o single de ‘New year’s Day’ vários remixes foram encomendados para que a música fosse bastante executada pelos DJ’s. Lembro-me que no início dos anos noventa, quando eu comecei a sair, ela era obrigatória.

Porém, apesar de tudo isso, o tema da canção também era político. Ou pelo menos, de imagens políticas. “A letra da música circula em torno de imagens. Eu estou pensando em Lech Walesa, o líder da Solidariedade Polonesa,” segundo Bono.  “A imagem dele, em pé sobre a neve, um sentimento de que tendo abandonado a banda por Deus, nós queríamos começar de novo. E nós começaríamos mais uma vez, de um modo diferente, repetindo um lema que nós continuaríamos pelo resto das nossas vidas. ‘I will begin again. I will begin again’. A neve como uma imagem de rendição e cobertura e esses pequenos vislumbres de narrativa, na verdade, eram apenas desculpas para o tema que era Lech Walesa sendo preso e sua mulher sendo impedida de vê-lo. Depois, quando nós tínhamos gravado a música, eles anunciaram que a lei marcial seria suspensa na Polônia no Dia de Ano Novo – incrível!”



Mais recentemente, o DJ Ferry Corsten remixou a música e as versões acabaram inclusive na edição de aniversário de vinte e cinco anos do álbum, lançada em 2008.

‘Like a song…’, quarta faixa do disco, é quase que um pequeno pedaço do álbum ‘Boy’ neste disco. Um punk celta rápido e melodioso.  A canção é um grande ‘dedo do meio’ para o que acontecia na cena musical da época, cheia de pose e com pouca atitude. Pose que a banda acabou abraçando nos anos noventa, aliás.

O detalhe desta canção, assim como algumas outras do álbum, é que nunca foi tocada ao vivo…
‘Drowning Man’, quinta faixa e mais uma nunca executada ao vivo, é outra demonstração de evolução de Edge como compositor.  Violões e violinos conversam enquanto Bono constrói seu tema sobre as escrituras. Uma das mais lindas músicas escritas pela banda. No meu top 20 de todos os tempos. Sobre ela, Bono disse:“É uma faixa do Edge e uma parte do baixo do Adam. Ela tem um ritmo meio obscuro, como um 5/8, e eu improvisando à la Van Morrison, gemendo conforme as Escrituras. As letras das músicas ainda eram uma luta. Eu realmente não estava gostando de escrever em um caderno. Eu acordava na cama em posição fetal, e Ali dizia: ‘O que está errado?’ Eu respondia para ela, ‘Eu não quero levantar da cama. ’ E ela falava, ‘Você não quer escrever, é o que você quer dizer.’ Eu ainda não tinha me apaixonado pela palavra escrita. Eu estava me forçando a escrever, mas não estava fazendo um trabalho muito bom, porque eu meio que me rebelava contra isso. Ali estava literalmente me botando para fora da cama de manhã, colocando a caneta na minha mão.”


No livro ‘The Story Behind Every U2 Song’, de Niall Stokes, Edge disse “Muitas de nossas canções poderiam ser regravadas. Porém esta é perfeição…“


Eu concordo plenamente…

(Continua na Parte 2)


Márcio Guariba


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Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 3

Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 3

Olá UV’s!
Vamos a mais um texto sobre as citações e covers feitas pelo U2 através dos anos.

Uma das canções mais tocadas (um total de 94 vezes, entre versões completas e citações) pela banda é ‘People Get Ready’, do grupo vocal de Soul The Impressions e gravada por vários outros artistas, como Aretha Franklin, Otis Redding e Bob Dylan. A versão original é de 1965 e foi eleita pela revista Rolling Stone a vigésima quarta dentre as quinhentas música de todos os tempos e foi escrita por Curtis Mayfield, gênio da Soul Music e membro dos Impressions naquela época.

A canção foi escrita no auge do movimento pelos direitos civis dos negros americanos e une a letra politizada a melodia gospel característica do estilo. Um clássico.

O U2 a tocou diversas vezes desde 1987, durante a ‘The Joshua Tree Tour’. A última execução foi na recente ‘360° Tour’, no show da Geórgia, dia seis de outubro de 2009. Aliás, nem um pouco acidental. A Geórgia é um dos estados americanos mais marcados pelo racismo. É lá que um dos ícones do Soul americano, Ray Charles, se recusou a tocar devido à separação de público por cor em seus shows.  Fato mostrado na cinebiografia do cantor, interpretado magistralmente por Jamie Foxx, lançada em 2004.

Mais tarde, como pedido de desculpas, o estado nomeou a canção de Charles ‘Georgia On My Mind’ como seu hino não oficial. Fato também mostrado no filme.

Um detalhe curioso é que a única canção do U2 a receber uma citação de ‘People Get Ready’ é ‘Sunday Bloody Sunday’, em 2009.

Mudando de assunto, mas continuando na música com ‘alma’.

Bob Marley é um dos artistas mais admirados por Bono. Já mencionei inclusive a citação frequente de ‘Exodus’ em ‘I Still Haven’t Found What I’m Looking For’ no texto anterior.

Mas o U2 já usou várias canções de Marley durante os anos. A primeira delas é ‘Get Up Stand Up’, que apareceu já em 1985, na ‘Unforgettable Fire Tour’, em uma citação durante ‘Out Of Control’.

Outras duas canções receberam sua companhia: ‘Party Girl’ e ‘Sunday Bloody Sunday’. Essa última, a mais frequente, e que ficou eternizada no DVD ‘Live In Boston’, da turnê ‘Elevation’, em 2001.

Outra canção de Bob Marley acompanhou ‘Get up Stand Up’ nas citações em ‘Sunday Bloody Sunday’ durante a ‘Elevation Tour’, inclusive no vídeo acima.‘Johnny Was a Good Man’, do álbum ‘Rastaman Vibration’, de 1976.

Outra canção clássica de Marley que foi muito tocada pela banda é a lindíssima ‘Redemption Song’, do álbum ‘Uprising’, de 1979.

A versão do U2 era também acústica e foi tocada por vinte vezes nos shows da ‘ZOO TV Tour’ entre 1992 e 93.

Além desta, Bono a executou outras vezes quase sempre quando acabava cantando algo em uma de suas participações políticas.
Outras três canções de Bob Marley foram utilizadas como snippets frequentes através dos anos; ‘Could You Be Loved’, utilizada em Beautiful Day, I Still Haven’t Found What I’m Looking For, Pride (In The Name Of Love)e Sunday Bloody Sunday.

‘One Love’, em ‘I Still Haven’t found What I’m Looking For’ e ‘One’.Infelizmente, não encontrei nem áudio nem vídeo de uma destas citações.

E por último, ‘Three Little Birds’, em ‘Mysterious Ways’, ‘Out Of Control’, ‘The Electric CO’ e, especialmente, em ‘I Still Haven’t Found What I’m Looking For’ e ‘Tryin’ To Throw Your Amrs Around The World’.

Além de todas essas referências, Bono ainda foi o responsável pelo discurso introdutório de Bob Marley no Hall da fama do Rock, em 1994. É de arrepiar.

Outro herói de Bono e da Soul Music é Marvin Gaye. Um dos ícones dos primeiros anos da Motown Records, gravadora de Detroit que revelou Michael Jackson.

Duas de suas canções foram frequentemente citadas e tocadas pelo U2. Primeiramente, ‘Sexual Healing’, último sucesso de Gaye, de 1983. Bono á utilizou várias vezes através dos anos, desde a ‘War Tour’, em 1983. Canções díspares como ‘Two Hearts Beat As One’, ‘Bad’, ‘Mysterious Ways’, ‘Discothéque’ e ‘All I Want Is You’, receberam a citação, que foi usada pela última vez em 2005, na ‘Vertigo Tour’.

Um detalhe particular. Sempre quando ouço ‘In a Little While’ não consigo deixar de imaginar o quanto as duas canções tem o mesmo feeling. Assim como ‘Let’s Stay Together’, outro clássico da Soul Music, de Al Green. Acho que caberiam perfeitamente como citações.

Outra canção de Gaye usada pela banda é ‘What’s Going On?’, que nunca foi usada como citação e sim tocada em trinta shows da ‘Elevation Tour’ em 2001.

A canção é a principal do álbum de mesmo nome de 1971, que elevou Marvin Gaye á um novo patamar, mais engajado politicamente. A canção é considerada a quarta melhor de todos os tempos pela revista Rolling Stone, principalmente, pela fusão definitiva da música negra americana aos temas políticos da época, como a guerra do Vietnã.  Considerado como um dos mais notáveis discos da história da Soul Music norte-americana, o álbum conceitual de Gaye foi um divisor de águas para esse gênero musical. Ele já foi chamado de “a mais importante e apaixonada gravação já lançada na música soul, entregue por uma de suas melhores vozes.”.


Outro fato em relação a essa canção, é que Bono participou de uma regravação em 2001 organizada pela sua organização RED com o título de ‘Artists Against AIDS World Wide’, lançada como single e com a participação de dezenas de artistas da música Pop, como Mary J. Blidge, Backstreet Boys, Christina Aguillera, Destiny’s Child, Michael Stipe (R.E.M.), Usher, Jennifer Lopez, Brittney Spears, Perry Farrel (Jane’s Addiction), Fred Durst (Limp Bizkit), Chris Martin (Coldplay), dentre outros.

Uma versão somente contendo os vocais de Bono e Chris Martin foi produzida por Brian Eno e batizada de ‘The London Version’ é uma das preferidas de muitos fãs do U2.

Pra fechar, uma das mais lindas e conectadas citações da banda, que remete não só a canção em si quanto à própria origem do U2.‘Love Will Tear Us Apart’, do Joy Division;

A canção, único hit reconhecido da banda, sempre foi utilizada ao final de ‘With or Without You’. Um casamento perfeito. A primeira vez, ainda em 1987, na época de seu lançamento, e atravessou todas as turnês da banda. Tendo sido citada pela última vez no derradeiro show da ‘360° Tour’ em Moncton, no Canadá.

Porém, a banda a tocou integralmente uma única vez, no dia vinte oito de novembro de 2005, em Montreal, no Canadá, quando dividiram o palco com os locais do Arcade Fire para uma versão espetacular, que conecta perfeitamente a influência que duas bandas de épocas distintas compartilham.

Arcade Fire, aliás, para quem não conhece, é uma das bandas mais importantes do momento. Bajulados por, além do U2, gente como Bruce Springsteen, Rolling Stones e R.E.M. Muitos os consideram a maior banda dos anos 2000. Eu me incluo na lista.

Pra quem não sabe, é deles a canção utilizada como introdução de todos os shows da ‘Vertigo Tour’, entre 2005/2006, conhecida entre os fãs como ‘Everyone’. Na verdade, trata-se da canção ‘Wake Up!’, hino que está no álbum ‘Funeral’, lançado em 2004.

Outro adendo sobre o Joy Division, é que após a morte do vocalista Ian Curtis por suicídio logo no inicia de sua carreira, a bandas e transformou no New Order, banda pioneira na fusão da música eletrônica e o rock, artificio que viria á ser muito usado pelo próprio U2 nos anos noventa.

E é isso. Como diria o meu herói Fábio Massari, ‘Logo mais tem mais… Até!’ 😉

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Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 2

Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 2

Olá, de novo!
Vamos então a continuação da ‘saga’ do U2 pelos ‘snippets’, as famosas citações de outros artistas feitas com frequência por Bono durante toda a carreira da banda.

Uma das mais belas citações dentre todas, feitas desde a ‘Unforgettable Fire Tour’, em 1984, é a do hino gospel ‘Amazing Grace’, escrita por John Newton em 1779.

Originalmente,somente a letra fora impressa sem partitura musical alguma. Acredita-se também que o texto era recitado na época e não cantado.

A versão em português é cantada há muito tempo nas igrejas protestantes e atualmente também tocada em missas católicas, com o nome de “Segura na Mão de Deus”, composição de Nelson Monteiro da Mota.
Várias versões foram gravadas através dos anos, mas as duas mais reconhecidas são as versões de Aretha Franklin, em 1972, e a de Elvis Presley, no auge da sua fase Gospel, em 1971.

Bono utilizou a canção em várias músicas do U2 através dos anos; Primeiro, em ‘Bad’.Depois, em canções totalmente distintas como ‘Bullet The Blue Sky’, ‘The Electric CO.’, ‘Love Rescue Me’, ‘Running To Stand Still’ e ‘One’.

Porém, na recente 360° Tour, sua citação definitiva aconteceu. Utilizada como ‘ponte’ entre ‘One’ e ‘Where The Streets Have No Name’, eternizada no DVD da tour, em Rose Bowl (que para os que não sabem, foi o mesmo estádio que o Brasil ganhou a Copa de 1994!). Emocionante é pouco.

Uma versão remasterizada dessa gravação foi utilizada pelo Soweto Gospel Choir e acabou entrando no brinde para assinante do U2.COM em 2011, ‘Duals’;

E já que mencionamos Elvis, uma de suas faixas foi utilizada pela banda em vários formatos; ‘Can’t Help Falling In Love’, lançada em 1961, como lado b do single ‘Rock-a-Hula Baby’, foi originalmente composta porHugo Peretti, Luigi Creatore, e George David Weiss romance”Plaisir d´Amour” (1784), escrito por Jean Paul Egide Martini.

Ela já foi citada por Bono em canções como ‘Miracle Drug’, ‘One’ e ‘Walk On’

 Foi tocada ao vivo em praticamente todos os shows da ZOO TV Tour, numa versão de cortar corações.

E gravada por Bono, para a trilha do filme ‘Despedida de Las Vegas’, em 1992.

Dois remixes dessa faixa foram lançados oficialmente pelo U2. O primeiro, a ‘Triple Peaks Remix’, lançado como lado B de um dos singles de ‘Who’s Gonna Ride Your Wild Horses?’, em 1992;

E a ‘Mistery Train In Dub Remix’, raríssimo, lançada em um Promo single de ‘Salomé’, em 1992, e mais recentemente na edição de luxo do ‘Achtung Baby’.

Outra citação que ficou eternizada do DVD de Rose Bowl é a canção ‘You’ll Never Walk Alone’, composta para o musical ‘Carrossel’ (não aquele…) em 1945, por Rodgers & Hammerstein. Já foi gravada por diversos artistas através dos anos. Gente como o próprio Elvis, Judy Garland, Frank Sinatra, Perry Como, Bob Dylan, Patti Labelle, Jackie Wilson, Barbra Streisand e Doris Day. Porém, a minha versão preferida é a da banda de garagem britânica Gerry & The Pacemakers, em janeiro de 1964.

Apesar de todas as fantásticas versões, a canção acabou ficando famosa por ter sido utilizada pela torcida do Liverpool FC como cântico durante as partidas da equipe. Ela é sempre entoada antes da entrada no gramado. Outras equipes europeias acabaram copiando a ideia e ela virou trilha na Escócia, Holanda, Alemanha e Bélgica.

Neste vídeo, em um jogo entre Celtic e Liverpool, as duas torcidas cantaram em uníssono, já que os escoceses também adotaram a canção.

Inicialmente, Bono citou a canção em ‘Ultraviolet’ no show de Wembley da turnê do álbum ‘Zooropa’, em 21 de agosto de 1993. Porém, foi quando a conectou com ‘Walk On’ que a banda se apropriou da faixa. Principalmente, pelo seu tema: A ativista política Aung San Suu Kyi.

Uma das bandas mais conectadas com o U2 são os australianos do INXS, principalmente o seu ex-vocalista, Michael Hutchence.

A proximidade de Bono e ele gerou, inclusive, uma faixa adorada por muitos fãs: ‘Slide Away’, que entrou no álbum solo póstumo a sua morte, em 1999.

Esta faixa inclusive, já foi citada uma única vez por Bono, na mais recente passagem da banda pela Austrália na 360° Tour, em ‘All I Want Is You’.

Três canções do INXS já foram citadas em shows do U2; ‘Devil Inside’, single de 1988, em ‘Discothéque’ e ‘Vertigo’:

‘Need you tonight’, umas das mais conhecidas, lançada em 1987, que já foi citada em ‘Bad’, ‘Elevation’, ‘Discothéque’, ‘Desire e ‘All I Want Is You’:

E por último, ‘Never Tear Us Apart’, linda balada de 1988. É a que mais se conectou com a banda, principalmente, durante a Popmart Tour, bem na época da estranhíssima morte de Hutchence que, em depressão, se suicidou. Sua morte afetou muito Bono, que dedicou ‘Gone’ várias vezes a ele.  ‘Never Tear Us Apart’ foi citada em ‘All I Want Is You’ e, na minha opinião, é uma das mais lindas de todos os tempos.

Mais tarde, em 2000, a banda lançou ‘Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of’ que, segundo Bono, foi inspirada em Hutchence e em seu relacionamento conturbado com Paula Yates, que também se suicidou anos depois dele.

E pra fechar, uma história curiosa, envolvendo o U2, Iggy Pop e Bo Diddley…
‘Desire’, lançada em 1988 no álbum ‘Rattle and Hum’ é, como quase todo disco, um tributo às origens do Rock. Na época, a banda foi bombardeada com críticas de todos os lados, e uma delas, foi a de plágio de uma canção de Bo Diddley, de 1955. Reparem, da até pra cantar junto!

Bono falou sobre isso no livro ‘U2 by U2’:  ‘Desire’ é um pequeno clássico. O Edge se inspirou no ritmo do Stooges em ‘1969’ que por sua vez tinham se inspirado no ritmo de Bo Diddley. O ritmo é o sexo da música. Eu queria declarar a religiosidade dos shows de rock’n’roll e o fato de que somos pagos por eles. Por um lado estou criticando os pregadores lunáticos quando digo na música ‘stealing hearts at a travelling show’ (roubam corações em um show itinerante), mas começo agora a perceber que existe um verdadeiro paralelo entre o que eu estou fazendo e o que eles fazem.”

‘1969’ é uma canção dos Stooges, banda liderada por Iggy Pop, um dos heróis de Bono (é só ler a letra da recente ‘Oh Berlin!’ para confirmar isso), lançada no primeiro álbum da banda.
Assumindo as similaridades, Bono a citou várias vezes em ‘Desire’, inclusive, durante a Lovetown Tour, ainda em 1989.

Na verdade, várias outras bandas roubaram o ritmo de Bo Diddley, gênio da primeira fase do Rock and Roll. É só ouvir os australianos do Jet em ‘Are You Gonna Be My Girl?’ e os suecos do Lykke Li (uma das minhas bandas novas favoritas) em ‘Get Some’ para atestar a longevidade do que Diddley criou.

E é isso…
Até mais, com a parte 3!

Márcio Guariba

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Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 1

Bandas que o U2 gosta… As citações e versões ao longo dos anos – Parte 1

Olá!
Depois de um longo e tenebroso inverno (leia-se primeiro ano do primogênito), estou de volta ao site da Ultraviolet-BR com uma matéria especial. Infelizmente (ou felizmente para alguns, talvez) só poderei contribuir de tempos em tempos com o site, que está desde a minha saída nas talentosas e cuidadosas mãos de Fernanda Bottini.

Neste novo texto do ‘Bandas que o U2 gosta… ’, resolvi entrar no universo dos snippets, ou ‘citações’, como a palavra poderia ser traduzida para o português. Um universo a parte nas versões ao vivo da banda.

O U2 é o tipo de banda que sempre tenta elevar a experiência de vê-los ao vivo a um novo patamar. E como inicialmente tudo estava nos ombros de Bono, ele se empenhava ao máximo para ser o Showman definitivo; Ora Punk católico, ora um messias pregador.  E apesar da religião, da política e todo o resto, o que ele sempre propagou foi o seu amor à música e ao Rock and Roll.

Muitos fãs da banda não fazem ideia, mas um show da banda é muito mais que as canções que eles mesmos compõem. Já conversei com muitos fãs que não faziam ideia de que ‘Helter Skelter’, por exemplo, é uma canção dos Beatles, lançada no sensacional ‘White Album’, em 1968.

Outros, não entendem de onde Bono tira as últimas linhas de ‘Sometimes You Can’t Make It On Your Own’, nas versões ao vivo tocadas na ‘Vertigo Tour’, entre 2005 e 2006. As linhas ‘No regrets… No tears goodbye… We only cry again and say goodbye again’ que parecem ter sido inspiradas no tema da canção sobre ele e seu Pai, na verdade vem do crooner Scott Walker, um dos grandes inspiradores nas mudanças no estilo de cantar empregado por Bono durante sua transformação berlinense nos anos 90. A canção é ‘No Regrets’, lançada em 1975.

E foi assim, através do extremo bom gosto de Bono que eu conheci o Rock and roll, nos idos de 1989. Conheci Lou Reed, Stones e Bowie. Conheci Patti Smith, Righteous Brothers e Bob Dylan. Conheci Elvis. Cash. Marley. O U2 leva você a um universo inexplorado.  É uma pena que muitos de nós, fãs, ficamos presos somente a eles com tantas coisas sensacionais.

E vamos a mais algumas delas.

Primeiro, talvez, as mais famosas citações da carreira da banda: ‘Ruby Tuesday’ e ‘Sympathy For The Devil’ dois clássicos dos Rolling Stones citadas em ‘Bad’ no filme ‘Rattle and Hum’, de 1988. Elas são tão identificáveis que muitos fãs pensam serem linhas compostas por Bono.  O que é inacreditável, até por serem duas das mais famosas canções de Jagger e Richards.

Outras duas citações, usualmente executadas durante a ‘Unforgettable Fire Tour’ e a ‘Conspiracy of Hope Tour’, entre 1984 e 1986, pagavam tributo a um dos heróis da banda. O ex-vocalista da seminal banda de Nova Iorque Velvet Underground, Lou Reed. Uma delas é ‘Satellite of Love’, que durante os anos noventa foi gravada e lançada como b-side do single de ‘One’, e tocada em todos os shows da ZOO TV Tour até o seu final. A outra era ‘Walk On The Wild Side’. Estas citações, apesar de obscuras para os fãs mais novos, são as minhas favoritas na canção.

A mais famosa versão de ‘Bad’ que engloba todas as quatro citações mencionadas, é a fatídica apresentação no ‘Live Aid’, em 1985, famosa por catapultar a banda ao estrelato.

Para esta matéria, eu consultei muito o site U2Gigs, obrigatório para qualquer fã que se interesse pela história da banda, e lá descobri que a citação mais feita por Bono através dos anos foi a da canção ‘Send In The Clowns’, composta por Stephen Sondheim e famosa na voz de Frank Sinatra. Ela foi feita sempre em ‘The Electric CO.’, faixa do álbum ‘Boy’. É até difícil conectar as duas canções. Ouça:

Recentemente, outra citação ficou famosa ao ser feita nessa canção. Depois de mais de dez anos longe dos set lists, ela foi resgatada durante a ‘Vertigo Tour’ e várias canções foram citadas ao seu final. Porém, uma delas se eternizou no dvd ‘Live In Chicago’ e é lembrada sempre pelos fãs mais novos: ‘Bullet with Butterfly Wings’, do Smashing Pumpkins, é a dona da furiosa linha ‘Despite all my rage, I’m still just a rat in the cage’ ditas por Bono. A curiosidade é de que a banda é de Chicago. Provavelmente, a maior razão para ele tê-la citado.

Uma das mais curiosas citações feitas pela banda é filha direta dos anos noventa: ‘Love To Love You Baby’, hit da cantora Disco Donna Summer foi repetidamente citada em “Mysterious Ways”, durante na ZOO TV, e posteriormente em “Discothéque”, na Popmart Tour.

Aliás, voltando a ‘Discothéque’, ela é uma das músicas que Bono mais utilizou citações.Além da já citada ‘Love To Love You Baby’,  Bono usou canções díspares como os hinos Disco ‘Stayin’ Alive’ dos Bee Gee’s e ‘That’s The Way I Like It’ da KC & Sunshine Band até rocks como ‘Black Betty’ do Ram Jam, ‘Life During Wartime’, dos Talking Heads e ‘Whole Lotta Love’ do Led Zepellin.

Mas o mais curioso da citação de ‘Love To Love You Baby’, é que ela foi lembrada ainda na ‘Unforgettable Fire Tour’, em uma apresentação na Pennsylvania, Estados Unidos. Bono a usou em ‘Two hearts beat as one’. Engana-se então quem pensa que a discoteca entrou na vida dele só anos depois…

Outros dois snippets famosos são as de ‘Unchained melody’ em ‘One’ e ‘Stand by me’, quase sempre em ‘I Still Haven’t Found What I’m Looking For’.

A primeira, eternizada na voz dos Righteous Brothers, na versão que acabou conquistando a todos na trilha do filme ‘Ghost’, foi gravada pela banda e lançada como lado B do single de ‘All I Want is You’, em 1989. Mas foi com as frequentes citações ao final de ‘One’ durante a ZOO TV, eternizada no DVD oficial em Sidney, que ela entrou nos corações de todos os fãs da banda.

Já ‘Stand By Me’, clássico que já foi até tocado integralmente pela banda, é fruto de muita confusão dos fãs, que sempre acham ser uma canção de John Lennon, quando na verdade, Lennon a regravou para seu álbum de versões ‘Rock’n’Roll’, em 1975. Originalmente, ‘Stand By Me’ foi gravada pelo cantor de Soul Music Bem E. King, em 1960.

Aliás, falando em ‘I Still Haven’t Found What I’m Looking For’, ela é outra que já ganhou dezenas de companheiras ao seu final. Recentemente, durante a 360° Tour, Bono citou ‘Movin’ On Up’, dos escoceses do Primal Scream, inclusive no show em Glastonbury, de 2011.

Outra famosa citação em ‘I Still Haven’t Found…’ é ‘Exodus’, de Bob Marley, que ficou eternizada no duplo ao vivo ‘Love : Live From Point Depot’.

Agora, vou a uma história pessoal para encerrar esta parte um.

Em 1989, assisti ao ‘Rattle and Hum’ e me apaixonei pela banda. Tinha doze anos e pouco conhecia de música, só o que  via no saudoso ‘Clip Trip’ com Beto Rivera (lembram?). Foi um baque alugar aquele VHS (?!?!) e assistir ao show com as letras legendadas em português. E uma das músicas que mais me cativaram na época foi ‘Exit’. Porém, para minha dupla frustração, nem o vinil do filme e nem a versão do álbum ‘The Joshua Tree’ continham aquela cortante versão, com seu ‘Gloooooria… G-L-O-R-I-A!’

O tempo passou. Veio o ‘Achtung Baby’ e, com ele, muitas revistas sobre a banda. Em uma delas descobri que eles tinham sim uma música chamada ‘Gloria’, e que ela fazia parte do álbum ‘October’, de 1981! Quando finalmente pus as mãos em uma cópia em cassete do disco, ela em nada lembrava a citação…
É meus amigos… Tempos difíceis de informação sem internet…

Só anos mais tarde que descobri que aquela ‘Gloria’ era outra, composta pelo conterrâneo da banda Van Morrison e sua banda Them em 1965 e eternizada para a geração Punk por Patti Smith, no seu fantástico álbum ‘Horses’, em 1977. Ela, inclusive, adicionou na abertura uma frase cortante e controversa: ‘Jesus died for somebody’s sins, but not mine…’.

Um último adendo, já que mencionamos Patti Smith, ela também é dona de ‘Dancing Barefoot’, um dos melhores covers gravados pela banda, lançada como lado B do single de ‘When Love Comes to Town’, em 1989.

E é isso… Espero que tenham gostado. Prometo que a parte dois não irá demorar tanto pra sair 😉

Márcio Guariba

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Quinta-Feira, dia 16, tem U2 Alive! No Café Piu-Piu, em São Paulo!

Quinta-Feira, dia 16, tem U2 Alive! No Café Piu-Piu, em São Paulo!

Nesta quinta-feira, 16 de fevereiro, acontence o ‘Carnaval’ dos fãs do U2, no já tradicional encontro de fanáticos no Café Piu-Piu, no bairro do Bixiga, em São Paulo, onde a U2 Alive! fará mais um show tributo.

Tive acesso ao set list e posso confirmar; O show será fantástico, cobrindo quase todas as fases da banda em 22 músicas…

O guitarrista em mentor da banda, Luciano Menezes, me pediu para divulgar aqui no site da UV o e-mail de sugestões de repertório da banda; sugestoes@u2alive.com

Segundo ele, quanto mais gente pedir canções, mais elas entraram no repertório fixo da banda.

Eu tenho ido a praticamente todas as apresentações no Café Piu-Piu e garanto; O repertório varia bastante, o que é ideal para que é fanático, não só pra quem gosta dos hits, que claro, sempre estão lá.

Já presenciei perfomances fantásticas de “Zooropa”, “Lemon”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” com coral gospel, “Electrical Storm”, “A Sort Of Homecoming”, “Out Of Control”, “Who’s Gonna Ride your Wild Horses”, “No Line On The Horizon” e “The Unforgettable Fire”. Veja algumas;

A banda já realizou especiais de quase todas as fases que o U2 passou. Dois especiais estão prometidos para esse ano; Um, cobrindo o material dos primórdios, entre 1980 e 1983, com uma seleção baseada no álbum ao vivo “Under a Blood Red Sky”; Outro, cobrindo a polêmica “PopMart”, de 1997.

Lembre-se; Quando pedirem uma música, partam do princípio que os hits já estão no repertório. É redundante mandar mensagens pedindo “Beautiful Day”, “Sunday Bloody Sunday”, “One”, “Pride”, “With Or Without You”, “Elevation”, “Vertigo”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, “Mysterious Ways”, “Stuck In a Moment”, “Stay”, “New Year’s Day”, “I Will Follow”, “City Of Blinding Lights”, “Bad”, “Walk On”, etc…

Há várias canções que a banda nunca tocou; Dentre elas, canções fantásticas e queridas pelos fãs, como “Love Is Blindness”, “One Tree Hill”, “Breathe”, “The Electric CO.”, “Wire”, “Please”, “Staring At The Sun”, “Miracle Drug”, “Dirty Day”, “The First Time”, “When Love Comes To Town” e algumas que nem o U2 toca, o que deixaria tudo ainda mais especial, como “Acrobat”, “Stand Up Comedy”, “So Cruel”, “A Celebration”, “When I Look At The World”, “Window In The Skies”, “Peace On Earth” e “Sweetest Thing”, só para deixar alguns exemplos.

Eu, por exemplo, apesar de ser fanático pela fase anos 90 da banda, adoraria ver um show só com as canções dos primeiros 3 anos. Um “Under a Blood Red Sky” ampliado. É uma fase energética e roqueira perfeita pra se pular e se esquecer da vida por duas horas… Sugestão de repertório? Aqui vai;

  1. Gloria”
  2. Out Of Control”
  3. Twilight”
  4. The Electric Co.”
  5. An Cat Dubh’ / “Into The Heart”
  6. Surrender”
  7. Two Hearts Beat As One”
  8. Seconds”
  9. A Celebration”
  10. I Threw a Brick Through a Window”
  11. A Day Without Me”
  12. October”
  13. New Year’s Day”
  14. Drowning Man”
  15. Party Girl”
  16. 11 o’Clock Tick Tock”
  17. The Ocean”
  18. Sunday Bloody Sunday”
  19. I Will Follow”
  20. 40”

Um especial Popmart, com as canções do álbum “Pop” e as versões daquela época…

  1. Popmusik” (Intro) / “Mofo”
  2. I Will Follow”
  3. Gone”
  4. Even Better Than The Real Thing”
  5. Do You Feel Loved?”
  6. Last Night On Earth”
  7. Until The End Of The World”
  8. New Year’s Day”
  9. I Still Haven’t Found What I’m Looking For”
  10. Pride”
  11. All I Want Is You”
  12. Discothéque”
  13. If You Wear That Velvet Dress”
  14. With Or Without You”
  15. Staring At The Sun”
  16. Sunday Bloody Sunday”
  17. Bullet The Blue Sky”
  18. Please”
  19. Where The Streets Have No Name”
  20. Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill M”
  21. Mysterious Ways”
  22. One”

Fica a sugestão 😉

Especial “U2 e o cinema – Parte 2”

Especial “U2 e o cinema – Parte 2”

Olá UV’s!

Espero que vocês tenham gostado da primeira parte do especial “U2 e o cinema”, cobrindo as participações cinematográficas do U2 durante os anos oitenta. E se vocês achavam que muita coisa havia acontecido até então, se preparem para muita informação na segunda parte, cobrindo os prolíficos anos noventa da carreira da banda.

Vamos lá!

/// Anos 90 ///

Antes mesmo de um novo álbum ser lançado, já em 1990, uma versão diferente de “Until The End Of The World” começou a longa parceria entre a banda e o diretor alemão Wim Wenders, no filme do mesmo nome. A trilha, por sinal, é de primeira linha e inclui, entre outros, Talking Heads, Neneh Cherry, R.E.M., Elvis Costello e Depeche Mode. Veja este vídeo, com cenas retiradas do filme;

Ainda em 1990, a faixa “Trip Through Your Wires”, do álbum “The Joshua Tree” de 1987, foi utilizada, mas não está na trilha sonora oficial, do filme “Um Tiro de Misericórdia” (“State of Grace”, no original), com Sean Penn (“21 Gramas” e “Sobre Meninos e Lobos), Ed Harris (“Apollo 13” e “Pollock”) e Gary Oldman (“O Profissional” e “Batman – O Cavaleiro das Trevas).

Em 1992, veio uma das mais importantes participações cinematográficas da banda; Bono gravou uma cover de “Can’t Help Falling In Love”, de Elvis Presley, para a trilha do filme “Lua de Mel á Três”(“Honeymoon In Vegas, no original). No álbum, vários artistas, como Bryan Ferry (Ex-Roxy Music), Billy Joel e Jeff Beck fazem covers do Rei. O fato importante dessa gravação, é que ela transcendeu a trilha e acabou sendo incorporado no repertório da então turnê “Zoo TV”, sendo usada com ‘canção de despedida’em praticamente todas as aprensentações. Além disso, dois remixes foram feitos e lançados como b-sides de “Even Better Than The Real Thing” e “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses?”.Ambos os remixes foram incluídos na edição comemorativa de “Achtung Baby” lançada em 2011, porém, a original da trilha permanece restrita ao filme.

O filme, aliás, é bem divertido. Nele, Nicolas Cage promete a sua mãe nunca se casar, o que acaba por impedir um compromisso mais sério com a personagem de Sarah Jessica Parker (ela mesmo, de “Sex and the City”). Não preciso dizer que a trama gira em torno de Las Vegas e o fascínio que Elvis exerce no local. Vale a pedida!

Em 1993, o U2 cansou de ter canções utilizadas em trilhas; “Sem Medo de Viver” (“Fearless”), com Jeff Bridges (“Homem de Ferro” e “Coração Louco”) utilizou “Where The Streets Have No Name” em sua trilha. A comédia “Bhaji On The Beach”utilizou “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” e o cultuado “Short Cuts – Cenas da Vida”teve uma canção composta por Bono e Edge, mas gravada pela cantora de Jazz Annie Ross. Ouça;

Mas os destaques no ano, com certeza, foram as participações nas trilhas de “Tão Longe, Tão Perto” (“Faraway, So Close!”), continuação do cultuadíssimo “Asas do Desejo” (“Wings Of Desire”), de Wim Wenders, e o sensacional “Em Nome do Pai” (“In The Name Of The Father”), de Jim Sheridam, com Daniel Day-Lewis (“Sangue Negro”). Ambos, filmes daquelas listas de “obrigatórios”.

No primeiro, a banda contribuiu com duas versões levemente diferentes de “Stay (Faraway, So Close!)”, música-tema do filme, e “The Wanderer”, com Johnny Cash nos vocais. Ambas, como todos sabem, lançadas originalmente no álbum “Zooropa”, do mesmo ano.

Enquanto a segundasó é alterada em algumas linhas na letra, “Stay” ficou bem diferente. Ouçam;

Já no segundo, Bono gravou suas primeiras parcerias com o amigo de longa data, Gavin Friday; “Billy Boola”e a faixa-título, “In The Name Of The Father”, que inclusive, foi lançada como single, ganhando remixes (“Unidare”e “Beats”) e um ótimo clipe. Vejam;

Além das duas faixas, Bono compos “You Made Me The Thief Of Your Heart”, cantada por Sinead O’Connorno álbum.

Em 1994, foram quatro participações em trilhas sonoras; “Blown Away”, com Jeff Bridges e Tommy Lee Jones (“O Fugitivo” e “Homens de Preto”), que mostrava a história de um terrorista do IRA, exército separatista da Irlanda do Norte, trazia “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”e “With Or Without You”no filme, mas só a última na trilha original lançada. “Caindo na Real” (“Reality Bites)”, com Winona Ryder, Ethan Hawke e Ben Stiller, utiliza “All I Want Is You”em sua trilha. O filme é muito bom. Comédia romântica sem ser só para garotas. A faixa é utilizad na sequencia final do filme e é praticamente um vídeo clipe. Veja;

Outros três filmes daquele ano utilizaram faixas da banda; “Some Days Are Better Than Others”foi utilizada em “As Aparencias Enganam”, com Mellanie Grifith e Ed Harris, e a versão “Perfecto Mix”, do DJ Paul Oakelfold para “Lemon” no filme “Prêt-Á-Porte”, com Julia Roberts. Por último, outra comédia romântica bacana, “Três Formas de Amar” (“Threesome”), contou com a cover de Patti Smith, “Dancing Barefoot”, originalmente lançada como lado B do single de “When Love Comes To Town”, em 1989. Como o filme teve certo sucesso na época, as rádios por aqui chegaram a tocar bastante a canção, aproveitando o hiato desde o lançamento de “Zooropa”, em 1993. Veja o vídeo, com cenas (picantes) do filme;

1995 foi um ano especial em se tratando de U2 e filmes; Primeiro, pelo lançamento do álbum “Original Soundtracks One”, onde a banda, em parceria com Brian Eno e sob o codinome de “The Passengers” resolveu criar trilhas para alguns filmes. Alguns, reais, outros imaginários. No livro “U2 By U2”, a banda explica um pouco mais o processo do álbum. Primeiro, Edge; “Nós estávamos interessados em nos preparar para fazer um álbum do U2 partindo de um projeto mais experimental que nos lançasse em novas áreas e que pudesse nos informar sobre nosso próximo trabalho. Eu fiz isso com um álbum de trilhas sonoras antes do The Joshua Tree e Bono e eu fizemos Clockwork Orange antes do Achtung Baby. Então falamos com Brian Eno sobre fazermos trilhas sonoras para um filme”.

Nós víamos o Brian como um grande catalisador, mas nos ocorreu a idéia de que seria ótimo escrever formalmente com ele, do mesmo modo que os Talking Heads e David Bowie”, disse Bono; “Nós pedimos que Paul encontrasse um projeto de filme com o qual pudéssemos trabalhar. Até certo ponto seria a trilha sonora para The Pillow Book, um filme vanguardista de Peter Greenaways’s gravado no Japão”. 

Porém, o projeto não aconteceu. Sobre isso, Edge disse; O projeto de The Pillow Booknão foi para frente e quando estávamos no meio da montagem do álbum ainda não havia filme. Nós estávamos bastante entusiasmados com o que estávamos fazendo, então, naquele ponto, Brian disse, ‘O filme é apenas um veículo para nos dar algo em que trabalhar. Então vamos continuar e fazer trilhas sonoras para filmes imaginários’.

No final das contas, depois de Larry ter torcido o nariz, a banda resolveu não lançar o disco sob suas asas e resolveram se disfarçar, até para poder creditar Eno como compositor. Mesmo tendo sido criado para filmes inexisistentes, algumas faixas acabaram sendo utilizadas em lançamentos posteriores; “One Minute Warning”foi utilizada na animação japonesa “Ghost In The Shell”“Your Blue Room”e “Beach Sequence” em “Beyond The Clounds”,  Veja o trecho do filme em que a faixa toca;

No ano seguinte, o filme “Fogo Contra Fogo”, com Robert De Niro e Al Pacino, utilizou uma versão editada de “Always Forever Now”. O grande destaque do álbum e que acabou sendo incorporado no repertório do U2, foi “Miss Saravejo”, que conta com a participação de Luciano Pavarotti. A faixa ainda acabou sendo utilizada muito tempo depois, na comédia He Died with a Felafel in his Hand, de 2001. Todas as outras faixas ficaram no imaginário mesmo.

Como o disco não foi muito bem de vendagens, mesmo com o bem-sucedido single, a banda desistiu de continuar a promovê-lo, engavetando “Your Blue Room”, que chegou a ser lançada como promo.

Curiossamente, o filme que gerou a idéia da gravação do projeto acabou por utilizar uma canção do U2;“O Livro de Cabeçeira” (“The Pillow Book”), com Ewan McGregor (“Trainspotting” e “Velvet Goldmine”) conta com “Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car”em sua trilha sonora.

Continuando em 1995, o terrível “Showgirls”, considerado por muitos um dos piores filmes de todos os tempos, usou o remix “Gimme Some More Dignity”de “Numb” em sua trilha e a ficção científica “Johnny Mnemonic”,com Keanu Reeves (“Matrix”) foi buscar “Alex Descends Into Hell For a Bottle Of Milk Korova”, que Bono e Edge fizeram para a adaptação teatral do livro e filme “A Laranja Mecânica”, em 1990. Essa faixa já havia sido lançada como lado b do single de “The Fly”, em outubro de 1991.

E pra fechar o produtivo ano de 1995, dois ‘highlights’ da década; Primeiro, a banda deu de presente “Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me”, sobra de estúdio de “Achtung Baby”, retrabalhada durante as sessões de “Zooropa” para a trilha sonora de “Batman Eternamente”. Eu, como fanático por U2 e Batman, me animei muito na época. A canção, sem comentários; uma das melhores coisas feitas pela banda. Em compensação, o filme… É de doer. O clipe, porém, ficou sensacional. A banda foi transformada em animação e os personagens “The Fly” e “MacPhisto” aparecem como paralelo da idéia usada no filme; “A máscara revela o homem”, como foi dito por Oscar Wylde. Houveram inclusive boatos na época de que Bono havia sido convidado para interpretar MacPhisto no filme, como um dos vilões…

Outro ponto alto daquele ano, foi a canção “Goldeneye”, faixa-título do filme “007 Contra Goldeneye”, composta por Bono e Edge e interpretada na trilha sonora por Tina Turner. A música é praticamente um Jazz-Standard, chique e glamouroso. Uma versão demo da canção, com Bono nos vocais, caiu na rede há alguns anos. Ouça;

Em 1996, além do já citado “Fogo Contra Fogo”, de férias da banda, Adam Clayton e Larry Mullen Jnr. resolveram assumir a frente e aceitaram revitalizar a clássica trilha de “Missão Impossível”, que naquele ano ganhava uma nova versão com Tom Cruise á frente. O singlefoi muito bem recebido, e até hoje, é a melhor versão de todas compostas para os quatro filmes até agora. Como era de se esperar, vários remixesforam feitos para a versão. Veja o vídeo da original;

Em 1997, o U2 participou de duas trilhas; “Oculto na Memória” (“The Blackout”)utilizou “Miami”, do álbum “Pop”, do mesmo ano; E o filme “O Fim da Violência”continuava duas parcerias recorrentes, a com o diretor Wim Wenders e com Sinead O’Connor, que canta em parceria com Bono a faixa “I’m Not Your Baby”, faixa inclusive que também foi lançada como lado B, no single de Please, porém em uma versão instrumental batizada de “Skysplitter Dub”. Ouça a original;

No final da década, mais alguns filmes ganharam canções já previamente lançadas em suas trilhas; “Forças do Destino”, comédia romântica com Sandra Bullock e Ben Affleck, utilizou a versão de “Everlasting Love”, lançada como lado B do single de “All I Want Is You”; “Noiva em Fuga”, com Richard Gere e Julia Roberts, rebuscou “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”; A refilmagem de “A Fortuna de Cookie” (“Cookie’s Fortune”), dirigido por Robert Altman, registrou a participação de Bono e Edge em duas parcerias com David Stewart, ex-tecladista e compositor dos Eurythmics e atualmente envolvido no mega projeto Super Heavy, com Mick Jagger e Joss Stone. Na primeira, “A Good Man”, Bono canta. Na segunda, “Patrol Car Blues”, Edge assume as guitarras; E “Cidade dos Anjos”, refilmagem americana de “Asas do Desejo”, com Nicolas Cage e Meg Ryan, ganhou a companhia de “If God Will Send His Angels”. Inclusive, um vídeo com cenas do filme foi editado. Veja o original;

E pra fechar, a participação mais inusitada… “De Cabeça Para Baixo” (“Entropy”), dirigido pelo colaborador de longa data Phil Joanou(diretor do documentário “Rattle And Hum”, a versão “no bar” de “One”e de “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses?”), teve algumas cenas gravadas durante a passagem da banda pelo Àfrica do Sul, durante a “Popmart”, em 1998. Já no início, vemos Bono conversando com o ator Stephen Dorff. Vemos ainda trechos de “Mofo” e “Mysterious Ways”. Na verdade, a banda ainda tem várias falas no filme! Aqui estão elas, cortesia do You Tube;

Ufa! Chegamos ao final da parte dois… Espero que tenham gostado! Não deixem de postar seus comentários!

Na parte três, cobriremos os últimos dez anos, onde Bono estreou como escritor e ator!

Não percam!

Márcio Guariba