Entrevista com o produtor Steve Lillywhite

Entrevista com o produtor Steve Lillywhite

O produtor musical Steve Lillywhite acaba de ser premiado com um CBE na lista de honra de 2012. Ele produziu o primeiro álbum do U2, Boy, e vários outros até os dias atuais. Aqui ele relembra a época do hit ‘Vertigo’.

Quando eu cheguei pra produzir o How To Dismantle An Atomic Bomb todos estavam meio pra baixo. A banda já havia gravado um pouco com outro produtor (Chris Thomas) e eles acharam que era hora de mudar a equipe. Eu fui pra Dublin e eles tocaram pra mim o que haviam feito, que incluía uma música chamada ‘Native Son’ que estava marcada para ser o primeiro single. Eu gostei da música, mas eu achei que poderia ser gravada com um pouco mais de energia, então eu pedi para eles a regravarem. Eu configurei de uma maneira diferente da que eles vinham gravando até aquele momento, coloquei a bateria num lugar diferente e mudei o som completamente. Era ainda a mesma canção, mas eu os tirei da zona de conforto.

A banda estava tocando e ela estava realmente chegando junto, com um ótimo som. Eu disse ao Bono, que estava sentado atrás de mim na sala de controle, “Por que você não vai lá e faz um vocal ao vivo? Desse jeito nós podemos dizer como as coisas estão indo.” Ele foi lá, a banda começou a tocar. Ele começou cantando ‘Native Son’ e bem no primeiro refrão ele abaixou o microfone e disse “Não, eu não consigo cantar isso. Não está bom.”

Basicamente, o momento em que ele começou a cantar com a banda, Bono se projetou um ano no futuro, no palco do Madison Square Garden e ele, de repente, percebeu que não conseguia cantar com a paixão que ele queria. Bono tem este grande talento, que eu nunca vi em outra pessoa, de colocar uma canção no set enquanto está a escrevendo. Ele está pensando “Oh, isso pode substituir isso e isso, ou isso pode ser uma boa abertura”. Ele olha para o álbum como também para a turnê e a última coisa que eles querem é uma turnê em que eles podem ficar envergonhados quando tocarem o álbum novo. Para muitas das bandas da época deles, essa é a realidade: a multidão enlouquece com os sucessos. O U2 se orienta para tocar uma meia dúzia das músicas do novo álbum toda vez e isso funciona.

Então, eles decidiram re-escrever a letra e a melodia. Cortamos a música de fundo e isso realmente ficou bom, mas nós tivemos que gastar muitos dias e dias trabalhando no refrão. Bono tinha um ritmo para o refrão, mas ele não conseguia encontrar as palavras e ele estava tentando e tentando. Num dia, uma das muitas coisas que ele fez foi cantar “Hello, Hello”. E, claro, nós todos fizemos “Ohh, eu não certeza sobre isso, pra ser sincero.” Então, eu pensei que poderia haver algo com isso. Eu dupliquei sua voz, coisa que o U2 nunca tinha feito – tinham dois Bonos – mas por alguma razão isso reforçou o hit “Hello, Hello”. Parece ridículo, mas são essas pequenas coisas que nos ajudam a levar uma ideia pra frente.

 Pouco a pouco as pessoas começariam a ouvir. A coisa mais maravilhosa sobre o U2 é que eles sempre envolvem uma equipe de pessoas na tarefa de escutá-los: amigos e família. Eles não estão isolados numa bolha, tem muito reprodução e discussão e as pessoas estão sempre dizendo “Isso está realmente bom”. E nós perguntamos, “Tá mesmo?”

Eventualmente, depois de mudar o refrão, mudar as palavras, a versão final de ‘Vertigo’ surgiu pra vida. É a mesma música, como ‘Native Son’, embora pessoalmente eu acho que tocando a minha versão tenha um pouco mais de vivacidade, mas é completamente diferente na letra e na melodia. Exceto pelo “To be free-ee”, no fim do refrão. Isso é igual nas duas versões.

‘Native Son’ era uma música boa, mas não tinha aquela coisa especial, visceral do U2. É isso que os faz uma banda maravilhosa: para eles “bom” é a pior coisa que você pode dizer. Quando eles lançam um novo álbum tem que ter o elemento “uau”. ‘Beautiful Day’ tinha e ‘Vertigo’ também tem. Ela se tornou uma das cinco grandes músicas deles. É uma dessas músicas que, se eles estão fazendo a pior turnê no mundo, eles sabem que podem tocá-la e conquistar a multidão de volta.

Eles sabem o nível que têm e eles não vão deixar pedra sobre pedra. Eles vão escrever a música depois que você já tiver mixado! Eles são capazes de bancar pra eles mesmos um estilo de fazer música que é único. Eles saem pela tangente, eles tentam de tudo e boa sorte para eles – não importa pra mim quanto tempo demora para fazer um álbum, desde que não soe que demorou tanto. Tem que parecer que eles não fizeram muito esforço.

Fonte: The Arts Desk

Assista ao clipe de “Vertigo”:

Comments are closed.