Especial U2 Show – Parte 10

Especial U2 Show – Parte 10

FINTAN FITZGERALD E SHARON BLANKSON

Continuando a divulgação de mais algumas partes interessantes do livro, dos artigos de Fintan Fitzgerald e Sharon Blankson. Ambos atuam ou atuaram como head of wardrobe (algo como chefe de guarda-roupa) e algumas vezes como estilistas, ou seja, eles são encarregados da imagem do U2, do que eles vestem nos shows e em outras aparições públicas, como entrevistas e tal.

Aqui Fintan Fitzgerald conta como nasceu o personagem The Fly, visualmente falando:

Eu saí a campo e comecei a pesquisar e selecionar quem seria o melhor designer para esse trabalho. Tinha que ser urbano, moderno, europeu, totalmente diferente do que já havia sido feito antes. Havia essa sensação de uma investida violenta da mídia e da publicidade, era muito visual na vida das pessoas. Como iríamos retratar isso, qual o visual da banda nesse contexto, como iríamos mesclar tudo visualmente? Encontrar uma ou duas peças chave é sempre a grande pedida. Assim tudo o mais se constrói a partir daí. Eu havia encontrado esses enormes óculos de inseto do início da década de 70 em um velho brechó no Soho. Eu os trouxe para o Bono e ele começou a usá-los o tempo todo, mesmo no estúdio, e ele começou a desenvolver esse personagem, com os óculos. Foi assim que nasceu o personagem The Fly. Parecia funcionar legal com o contexto todo da ZOO. A seguir, eu encontrei uma jaqueta de napa, velha e usada. Nós usamos para o primeiro vídeo, que foi The Fly. Caía bem com os óculos e com o personagem. Então tínhamos esse personagem, The Fly, e isso foi o começo de tudo. Acho que tudo veio daí, em termos de figurinos. Aquela jaqueta na verdade se auto-destruiu. Durante as filmagens do video, ela começou a se desmanchar. Ao final, a coisa tinha se rasgado em pedaços. Foi como uma metamorfose, ou algo assim.”

Mais adiante ele fala sobre um episódio que aconteceu em um show da ZOO TV, que inclusive comentamos, eu e o Braun, no podcast nr. 03 (ZOO TV parte 2):

Durante o show, você tem que ficar de olho o tempo inteiro, porque nunca se sabe quando as calças de alguém vão rasgar! Aconteceu diversas vezes. Essas roupas passam por muita coisa, são muito exigidas durante uma perfomance. Isso é algo que nós enfatizamos aos designers. Essas roupas passam por calor intenso e suor, e são esticadas e puxadas. Bono, especialmente, tem uma performance muito corporal, física. Ele escala coisas, pula por todo lado, e com frequência ele vai pro meio do público nas primeiras filas e as pessoas começam a puxar e rasgar sua camisa, tentam tirá-la. Coisas cedem, então você tem que assegurar que tudo é super ultra bem costurado, duplamente, e também que você tem roupas de reserva por perto. Houve um show na ZOO TV em que as calças de couro do Bono se rasgaram, da virilha até abaixo do joelho, na metade de uma música. Ele continuou cantando, porque não tinha como parar, e nós tivemos que enrolar a perna dele em fita adesiva, fita adesiva preta em couro preto, enquanto ele ainda estava cantando.”

Do artigo da Sharon Blankson, achei legal a descrição de como foi feito o terno de bolhas que o Bono usava na Popmart, e também sobre as jaquetas dele na Elevation. Para a Popmart, foi contratado um estilista belga, Walter Van Bierendonck, e para a Elevation uma estilista em couro, Todd Lynn.

Walter queria algo muito especial para o primeiro encore (bis), e surgiu com a idéia do Discman – um encontro futurístico entre Missão Impossível e James Bond, um personagem de desenho animado. Essa roupa iria nos testar a todos, especialmente Fintan e Karen (assistente deles). Coberta de lantejoulas gigantes feitas de discos plásticos, cada peça era costurada a mão no terno, para criar aquele efeito. Só que nós não havíamos lembrado da forma extremamente corporal, física, com que o Bono se apresenta e, enquanto ele se movimentava e pulava e se esticava todo, partes do casaco do terno simplesmente saltavam fora. Depois de cada show nós tínhamos que vasculhar o palco à procura das lantejoulas plásticas perdidas, que seriam então recosturadas no lugar. Todas as vezes.”

As jaquetas de couro foram uma peça chave na Elevation Tour. Elas são ícones. Pense em Elvis, James Dean, Marlon Brando. Todd Lynn e eu decidimos ir por esse caminho, e pesquisamos uniformes norte-americanos, no tocante ao estilo, estrutura e referências gerais. Muitas das figuras nas mangas e nas costas das jaquetas vieram de nossa pesquisa sobre a Guerra Civil Americana. Queríamos que as jaquetas dissessem tudo, sem na verdade dizerem nada.

As listras nas mangas, a estrela vermelha na frente – esses símbolos representavam coisas diferentes para pessoas diferentes. Para nós, em particular, a Pantera Negra representava Malcolm X, e a Pomba Branca repreentava Martin Luther King – ambos unidos numa mesma jaqueta como eles eram sobre um tema, com suas duas abordagens diferentes simbolizadas na Pantera Negra e na Pomba Branca. Era tudo muito sutil. Não precisávamos gritar essas coisas para o público. Coloque a jaqueta com o palco em forma de coração, o estilo simples de roupas casuais dos outros membros da banda, a iluminação do show que refletia mensagens de amor, guerra e paz, e tudo funcionava perfeitamente, fundindo-se com a música e o público.”

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