“U2-3”; “I was on the feeling it was out of control”

“U2-3”; “I was on the feeling it was out of control”

Quando “Out Of Control” começou no segundo show de São Paulo, Bono disse “Para ocasiões especiais, nosso primeiro single!”. Muitas pessoas não sabem que antes de “I Will Follow” ser lançada, antes do singles de “A Day Without Me”, “Another Day” e “11 O’Clock Tick Tock”, o U2 lançou “U2-3”. Muitas vezes chamado de EP (para os novatos, um disco com menor número de faixas, variado de 5 a 8), esse lançamento é sim um single, porque só tinha 3 faixas; “Boy/Girl”, que em sua versão de estúdio nunca mais foi lançada, e versões levemente diferentes das lançadas posteriormente no álbum “Boy”, em outubro de 1980, para “Stories For Boys” e, como mencionado, de “Out Of Control”.

Nesse artigo, Maria Tereza trás a tradução de um artigo de 2004 escrito por Chass De Whalley, produtor do single. O cara é a testemunha ocular do nascimento do U2. Texto essencial pra quem quer conhecer mais sobre a banda;

Another Time – A verdadeira história do primeiro disco do U2

Um relato da testemunha ocular, o homem que o produziu, Chas de Whalley

Record Collector, Setembro de 2004

Versão parcial em português por Maria Teresa M.da Rosa

Encontrei com Paul McGuinness pela primeira vez em fevereiro de 1979. Ele viajou a Londres para percorrer as gravadoras com uma maleta cheia de cassetes vagabundos. Meu trabalho como caçador de talentos da CBS inglesa era ouvir esses cassetes, emitir um parecer educado sobre eles e então mostrar a porta da rua para o dono. Obviamente não fiz isso tão bem quanto devia, porque um mês ou dois depois ele estava de volta com meia dúzia de cassetes mais, de meia dúzia de artistas diferentes.
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Ele então mencionou uma jovem banda de rock que ele estava empresariando que vinha fazendo sucesso na Grafton Street, em Dublin, e que tinha acabado de gravar alguns demos nos estúdios de Eamonn Crackerjack Andrew. Paul me entregou um cassete com os nomes das músicas escritas com esferográfica. A banda costumava se chamar The Hype, ele disse, mas eles haviam mudado o nome para U2. Eu adoraria dizer que sofri uma epifania e fiquei chapado pela força e paixão genuína que saia dos auto-falantes. Mas não posso dizer isso. O U2 soava como mais uma das milhares de aspirantes a banda de new wave, e realmente não me impressionou. Mas ao me mostrar fotos de quatro garotos mirrados com pretensões artísticas, e contar como eles haviam vencido um concurso de talentos patrocinado pela CBS em sua terra natal, Paul McGuinness jogou muito bem. Havia ainda algo sobre uma apresentação na TV. Se metade do que ele disse era verdade, estava claro que esses caras do U2 iriam longe. Então eu disse que conversaria com meu chefe sobre ir a Dublin para ver o U2 tocar assim que fosse possível.
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Então foi assim que eu e meu colega Howard Thompson acabamos numa gloriosa e quente tarde de junho em uma agência de publicidade de Dublin, com a cara cheia de champagne, conversando com irlandeses excêntricos da mídia local. Paul nos levou direto do aeroporto para a festa.
 …

De repente estávamos no McGonagles, um lugar escuro, mal cheiroso e com uma decoração duvidosa, com um palco apertado e um público significantemente menor do que esperávamos. Isso porque era proibida a entrada de menores de 18 anos, me disse o Paul. Muitos fãs do U2 eram garotos de escola, mas ainda assim seria um bom show. Ele nos prometeu. Eu e Howard estávamos tão chapados e bêbados que isso provavelmente não teria importância.

O U2 finalmente foi para o palco. Eles eram barulhentos e impetuosos, rápidos e frenéticos, inconstantes e esquisitos, de um jeito parecido com os Skids. O público os adorava, se amontoando na frente do palco, e se agitando ferozmente. Mas só uma coisa realmente me chamou a atenção na banda – foi o vocalista, o garoto que o mundo logo conheceria como Bono. Ele deu tudo de si naquele show. Ele ainda não escalava as caixas de som e nem se pendurava nas estruturas do jeito que o faria ser amado pelo público americano alguns anos depois. Mas ele chegou perto disse, correndo, pulando e se movimentando, usando cada polegada do palco e destemidamente atuando como se ele estivesse já num estádio e precisasse impressionar mesmo os fãs das arquibancadas mais distantes.

Mais tarde eu descobri que ele havia tido aulas de teatro, mas e o jeito que ele se movia através de músicas como Out of Control, Shadows and Tall Trees e Twilight? Não era método teatral, era mágico! Eu fiquei completamente chapado. Eu não via uma estrela de tamanha grandeza desde a primeira vez em que Paul Weller e o Jam tocaram em Nashville dois anos antes, quando eu escrevia para a revista Sounds. Eu me inclinei e gritei no ouvido do Howard, “esse cara é incrível. Ele vai ser o próximo David Bowie.” A resposta dele foi apenas um grunhido.

De volta a Londres, eu tive uma grande idéia. Normalmente nós dávamos às novas bandas um dia inteiro de graça no menor dos três estúdios da CBS na Whitfield Street a um custo de 100 libras bancado pela área de publicidade. Paul McGuinness me contou que ele podia conseguir dois dias no estúdio mais prestigiado de Dublin, Windmill Lane, pelo mesmo valor. Então eu propus ao meu chefe que eu fosse a Dublin e gravasse demos com o U2, enquanto o pessoal da área de contratos podia negociar um acordo com a banda que nos desse o direito de lançar o demo como single pela CBS Ireland somente, assegurando assim nosso interesse na banda sem, no entanto, nos comprometermos em definitivo com eles.

A segunda vez que eu vi o U2 foi no CommunitUy Centre em Howth, um lugarzinho junto ao mar, próximo a Dublin. O público era formado por 40 ou 50 fãs de rock, muitos tentando desesperadamente ser punks, sendo observados com um certo divertimento por pequenos grupos de mães e pais e avós que estavam sentados nas mesas na beira do salão.

Eu agora sabia bem mais sobre o U2 e o que eles pretendiam. Com o propósito de conhecer melhor a banda e discutir sobre quais músicas iríamos gravar, eu passei a tarde com eles na casa dos pais do Adam, eu acho. Era um lugar muito legal num subúrbio tranqüilo de Dublin e ficou claro que pelo menos um deles vinha de uma sólida família de classe média. Mas enquanto eles riam e faziam piadas bebendo xícaras e xícaras de chá, Paul Hewson, Dave Evans, Larry Mullen e Adam Clayton provaram que já tinham um senso de propósito bem desenvolvido. Eles sabiam de onde vinham e, até certo ponto, para onde estavam indo.

Eles me contaram como vinham tocando suas próprias músicas quase desde o começo quando, depois de um show desastrado alguém chegou pra eles e disse “vocês formam uma banda legal rapazes, mas vocês estão tocando covers e ninguém quer ouvir covers mal feitas!” Então Bono, que emergia rapidamente como o porta voz do U2 – e grande pensador – disse “nós começamos misturando os instrumentos com cores primárias pra ver o que funcionava e o que não funcionava.”

Eles eram também intensamente idealistas. O punk tinha capturado a imaginação deles, mas não era a retórica revolucionária do Clash ou os sentimentos obscuros dos Stranglers ou dos Banshees que os inspirava. Em vez disso, Bono falava sobre inocência e integridade como sendo parte de uma nova rebelião. Havia algo profundamente espiritual nele mesmo naquela época – mas se você me dissesse que ele se importava tanto com Deus eu teria ficado realmente surpreso.

Foi nesse show em Howth que o Edge finalmente me chamou a atenção. Ele estava tocando a Gibson Explorer que, ele me contou antes, havia comprado em uma loja de penhores quando curtia férias com a família em New York. Ele também me disse que era difícil de mantê-la afinada. Talvez isso tivesse algo a ver com seu estilo de tocar guitarra, que era, no mínimo, incomum. Ele ainda não tinha a sua caixa de eco Memory Man – ela não iria aparecer antes das gravações de 11 O´Clock Tick Tock que o U2 fez com Martin Hannet para o primeiro single deles pela Island, em 1980. Mas enquanto virtualmente todos os guitarristas naquela época estavam febrilmente tirando riffs ou detonando grandes acordes, Edge já experimentava com aquele som que parecia mais um zumbido de cordas abertas com o qual ele mais tarde revolucionou o som do rock.

Tudo que eu me lembro do Adam, do outro lado do palco, era o seu chocante cabelo louro cacheado e um sorriso que mostrava claramente o quão orgulhoso ele estava se si mesmo. E o Larry? Ele estava escondido atrás dos seus pratos. Mas quem iria querer observar o baterista, de qualquer maneira, quando Bono mais uma vez estava a ponto de detonar com tudo lá na frente? Balançando e acenando e gritando e de repente revelando algo que eu não havia ainda me dado conta: de que ele tinha uma voz como a de um anjo, capaz de subir às alturas acima do melhor da banda e arremetendo-se de volta à Terra de novo como um homem em um trapézio voador. Quando voltei aos camarins pra me despedir eu já estava convertido.

Nos encontramos novamente num sábado em agosto de 1979. O U2 tocou de graça debaixo de uma cobertura de aço naquela tarde no Gaiety Green, na época o equivalente, em Dublin, ao Camden Market. Naturalmente o lugar estava entupido de gente e a banda foi chamada de volta para o bis três ou quatro vezes. Então atravessamos a cidade até Windmill Lane, onde tínhamos o estúdio reservado das seis da tarde até à meia-noite.

Nós escolhemos pra gravar as favoritas Out of Control, Stories for Boys e uma música nova, Boy/Girl. Edge, Larry e Adam instalaram seus equipamentos na sala de gravação principal do estúdio, enquanto o engenheiro de som, cujo nome era Bill e tocava jazz no piano em suas horas de folga, colocou um microfone na sala de controle. Isso era pra que o Bono pudesse cantar os vocais que serviriam de guia e que os outros poderiam ouvir nos seus fones de ouvido enquanto tocavam, porém não apareceria nas respectivas trilhas gravadas por cada um deles. Porém, do jeito que o Bono se atirou a cantar esses vocais guia – dando tudo de si, acenando loucamente com os braços, as pernas chutando e pulando, encorajando seus companheiros do outro lado da enorme janela de vidro a arrancarem com tudo e à toda – só você é que não saberia que esses vocais não eram pra valer.

E eles corresponderam, é claro. Porém um tape gravado pode ser algo cruel, uma mídia que não perdoa, e ao tocar o tape novamente, rachaduras começaram a se abrir no som do U2. Adam e Larry não eram assim tão bons em manter o ritmo, e sem o estardalhaço e a fúria de uma apresentação ao vivo onde eles pudessem esconder isso, não dava pra confiar que eles iriam manter o andamento. Stories for Boys e Boy/Girl até que estavam legais. Mas havia – e ainda há – uma longa seção de 24 compassos, a dois terços mais ou menos do início de Out of Control, onde permanece apenas o arranjo de baixo e bateria, e então lentamente tudo se intensifica de novo. Quer seja por nervosismo ou por exaustão, Larry sempre perdia o ritmo nesse ponto, Adam não conseguia achar seu caminho de volta, e a coisa toda se desmanchava.

Como essa era, disparada, a melhor música que eles tinham – e precisava soar tão coerente quanto possível – eu fiz com que eles repetissem e repetissem quantas vezes fosse necessário até que eles conseguiram. O pobre do Larry estava quase em lágrimas e, se dá pra acreditar no excelente livro de Bill Graham, Another Time Another Place, Bono estava a ponto de estourar comigo também, só que ele era muito educado pra isso. Tudo o que eu lembro é dele dizendo incrédulo “Mas o Larry tem aulas com um dos melhores bateristas de Dublin! Como é que ele pode estar fora do compasso?”

Nós mixamos as músicas na noite seguinte, com o Paul me passando baseados que eu aceitei agradecido. Não sei se o plano dele era me ajudar a ter grandes idéias ou me deixar tão alto que ele e o resto da banda poderiam assumir o controle. De qualquer forma, todos concordamos que as músicas tinham que ser tão fortes quanto possível, e acabamos colocando alguns efeitos nas trilhas de guitarra do Edge. Mas no dia seguinte, sentado no aeroporto, tomando café com o Bono, com o tape original sobre a mesa entre nós, eu sabia que os tais efeitos não acrescentavam nada. E sabia também que eu tinha falhado com eles (isso sem mencionar meu próprio ouvido como produtor) por acabar produzindo nada mais do que demos regulares, certamente não aquilo que faz um grande hit, pelo menos não pelos padrões de Londres.

E provavelmente não pelos padrões de Paul McGuinness também, já que ele conseguiu que as três músicas fossem remixadas por Robbie McGrath, que cuidava do som dos Boontown Rats, e só então a CBS Ireland lançou o single U2 Three, quatro semanas mais tarde. Se isso fez alguma diferença é até questionável, pois o U2 já fazia tanto sucesso em sua terra natal que as primeiras 1.000 cópias se esgotaram em um só dia e o single alcançou a primeira posição na parada irlandesa. Algumas cópias foram importadas pela Rough Trade que distribuiu o single no Reino Unido, e de repente a imprensa britânica especializada em música se interessou.

A essas alturas eu voltei a me animar. Talvez eu tivesse feito alguns demos suspeitos mas o U2 estava longe de ser um grupo qualquer. Agora eu realmente, de verdade, queria contrata-los e convenci Muff, meu chefe, a ir a Irlanda e vê-los com seus próprios olhos. Dessa vez o U2, que estava ficando mais coeso e confiante a cada show, estava tocando no Baggot Inn, o lugar estava arrasando e representantes da EMI e da A&M; também estavam entre o público. Mas fomos eu e Muff que levamos Paul e Bono pra tomar vinho depois do show e pra falarmos abertamente de negócios. E eu acho que, se tivesse sido possível, a CBS teria fechado um contrato de exclusividade mundial com o U2 naquela noite.

Acontece que Paul McGuinness, encorajado pelo interesse que ele vinha obtendo de virtualmente cada gravadora em Londres, de repente elevou o tom da conversa ao anunciar que ele queria que a CBS comprasse para o U2 o que a Phonogram tinha comprado para os Boomtown Rats – uma casa nos arredores de Londres para onde a banda pudesse se mudar, e que seria a base de lançamento deles na conquista da parada britânica. Isso significaria um adiantamento em torno de 100 mil libras, e naqueles tempos somente bandas que tinham potencial para o sucesso imediato mereciam esse tipo de grana. O U2 simplesmente ainda não era tão bom assim, e Muff rejeitou a proposta.

Mas ainda não tinha acabado. Ninguém mais aceitou o negócio proposto por Paul. Por isso, o U2 veio a Londres pra tocar numa série de clubes noturnos em dezembro de 1979, e contabilizar em cima de boas matérias sobre eles, publicadas nas revistas Sounds e Record Mirror, e então decidimos tentar mais uma vez gravar algo que impressionasse a cúpula da CBS. Um dia antes de eles pegarem o ferryboat de volta pra casa, os quatro garotos do U2, encharcados pela chuva, apareceram no estúdio da CBS em Whitfield Street pra gravar mais duas faixas.

Dessa vez a banda tinha tudo muito bem ensaiado, e era o Bono que precisava de ajuda. A voz dele estava detonada depois de meia dúzia de shows em quase meia dúzia de dias também, e ele passou o tempo se tratando a base de mel e limão. Eu lembro de ter sugerido alguma sobreposição da sua voz em partes onde ele devia sussurrar a letra tanto quanto cantá-la, numa tentativa de colocar alguma textura extra nos seus vocais frágeis.

Gravamos duas músicas, mas só uma acabou sendo lançada. Era Another Day, uma típica música do U2 sem maiores pretensões, e que acabou sendo o lado A do próximo single deles. A outra era Pete The Chop, e era de longe a coisa mais pop que eu já tinha ouvido deles, mas eu tinha certeza que iria cair bem entre os executivos da CBS. Imagine então minha decepção quando Bono telefonou um dia antes que eu e o engenheiro de som Walter Samuel mixássemos as faixas pra dizer que a banda havia detestado e queria enterrar a música. Então não fizemos nada com ela, e é por isso que eu não tenho um tape da música e, quando a CBS procurou pelo tape nos seus arquivos alguns anos atrás também não encontrou (Correção da Record Collector – na verdade essa música apareceu mais tarde como Treasure Whatever Happened to Pete the Chop e foi b-side do single New Year´s Day).

Tudo o que eu tenho daquela sessão de gravação é uma cópia do single de 7” em sua embalagem, e o pôster que o Paul colocou no pacote, e que apareceu na minha mesa pouco tempo que o disco foi lançado em fevereiro de 1980. Por essa época, a CBS London tinha desistido do U2 e o escritório irlandês da gravadora relutava em dar apoio a uma banda que o quartel general da companhia não queria. No verso do pôster há um bilhete rabiscado. Pode-se ler: “as coisas estão tão ruins agora que a CBS Ireland está me cobrando por esses discos então só mandei um pra você. Eles também se recusam a fazer propaganda ou pagar pela embalagem…tudo de bom pra você, Paul e U2.

Eu duvido que o Paul tenha levado sua experiência com a CBS a sério. Mas eu levei. E não demorou muito pra que eu caísse fora de lá, antes que eles me mandassem embora, sem dúvida, mas ainda impressionado negativamente pela falta de habilidade da companhia em reconhecer o talento cru do U2 – quando estava lá bem debaixo do nariz deles.

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Em outra tradução de Maria Tereza, desta vez de um artigo do jornal Irlandês “The Evening Press”, de 1978, comentado pelo colunista do @U2, Matt McAgee. Nele, descobrimos ainda mais sobre o início da banda… Imperdível;

Estava relendo algumas traduções que fiz há mais tempo, e achei essa de um artigo do site @U2, que eu acho que muitos aqui não conhecem. É sobre uma notícia do jornal irlandês The Evening Press, de 1978, que mostrava os ganhadores do concurso de talentos que aconteceu em Limerick, no dia de Saint Patrick daquele ano. Todos sabemos que nossos irlandeses favoritos venceram o tal concurso, mas segundo Matt McAgee, webmaster do @U2, o artigo do jornal trazia uma surpresa. Aí vai a tradução:”

É o The Hype!…É o Feedback!…Era o U2 Malahide o tempo todo!

A linha inicial onde o U2 se transforma em U2 precisa ser re-escrita.

A história que vem sendo passada adiante, da primeira geração de fãs até a atual, recontada inúmeras vezes entrevista após entrevista, ano após ano, está…pedimos desculpas…errada.

Como tem sido dito, a história é mais ou menos assim: a banda originalmente formada por cinco integrantes, incluia o irmão do Edge, Dick. Eles originalmente se chamavam Feedback porque – segundo Bono tem dito frequentemente – era o barulho que eles ouviam através dos amplificadores. Eles mudaram o nome para The Hype, e o The Hype participou e venceu um concurso de talentos no dia de São Patrício, de 1978, em Limerick, o que os levou às suas primeiras sessões de estúdio e colocou o nome da banda na nascente cena musical de Dublin. Segundo conta a história, foi pouco tempo depois da vitória no concurso de talentos que Dick Evans deixou a banda, e o The Hype mudou seu nome para U2…o mesmo quarteto que conhecemos e amamos hoje…E o resto é história.

Boa história, mas não muito precisa.

Um artigo do jornal The Evening Press (que co-patrocinou o concurso) mostra Bono, Edge, Larry e Adam segurando seu troféu – a legenda debaixo da foto refere-se à banda como “U2” e o artigo que a acompanha os relaciona como “U2 Malahide”.

Em outras palavras, Dick já tinha deixado a banda e eles já estavam usando o nome U2 quando eles venceram o concurso.

Se você não é um historiador do U2, isso pode não significar nada e provavelmente você não ache que a notícia é assim tão extraordinária. De fato, pelo relato de uma testemunha ocular, isso não traz nenhuma luz à notícia de que o U2 venceu o concurso, em primeiro lugar. Falando sobre extraordinário…

Para ser honesto, nós ficamos todos atônitos quando eles venceram, porque na verdade, eles eram horríveis.”

Assim fala Fran Kennedy que, em 1978, era o guitarrista de um quarteto chamado The Doves – uma das bandas que o U2 bateu naquele concurso de talentos durante as festividades da Semana Cívica em Limerick.

O concurso apresentava 36 bandas tocando na primeira noite. As bandas foram separadas ao longo de diversos locais de apresentação em torno de Limerick, e oito foram selecionadas para as finais na noite seguinte em frente de uma platéia ao vivo no Savoy Cinema.

Kennedy, hoje em dia um quarentão que trabalha como ilustrador freelance, não se lembra de nenhuma das músicas que o U2 tocou nas finais, mas se lembra de algumas pequenas coisas sobre aqueles quatro caras de Dublin.

“Eu me lembro que o Bono era muito barulhento e imprudente, ele nos contou. Ele usava uma casaco trespassado, com botões de metal e dragonas. Nos honestamente achamos que o som deles era horrível. Eles eram músicos muito básicos, sem nenhum controle dos seus instrumentos. Eram pouco mais que principiantes naquela época.”

Kennedy diz que, enquanto a maioria das bandas que estavam competindo andavam juntas, o U2 se manteve distante da competição.

O U2 Malahide como eles eram chamados, não se misturou com nenhum de nós. Eles eram um pouco mais jovens do que todos os outros. Eu não sei o porquê. Eu acho que era coisa deles, eles não se encontraram com nenhum dos demais músicos. Eu me lembro de ter conversado com alguém do grupo The Village e ambos concordamos que eles não chegariam nem ao terceiro lugar.. Eles pareciam ter um tipo de tratamento especial por parte dos juízes. Dois dos juízes, um da revista Hot Press e outro cara da rádio RTE conversaram com o U2 no intervalo. Eles não falaram com mais ninguém.”

A banda de Kennedy, The Doves, era uma banda cover que tocava músicas dos Byrds, Beatles, Eagles e Van Morrison, e outras sucessos do momento. Em sua performance na final do concurso, eles tocaram Hotel Califórnia completa, incluindo o solo de guitarra. Mas ele admite que tocar covers pode não ter sido a melhor maneira de vencer o concurso.

“Não apreciávamos a importância da originalidade naquela época. E achamos que íamos nos dar bem porque éramos bons músicos.”

Nota: Malahide é o nome de um lugarejo (muito bonito, por sinal) ao norte de Dublin City, onde moraram Adam e Edge (esse por menos tempo)

6 Replies to ““U2-3”; “I was on the feeling it was out of control””

  1. Legal Márcio, obrigada por divulgar aqui no site esse material.

    Sobre a tradução do artigo do site @U2, esqueci de contextualizar. Esse artigo que traduzi logo que entrei para a UV  foi escrito pelo Matt McAgee em 2001, e naquela época ainda havia dúvidas sobre essa questão de sob qual nome (The Hype ou U2) eles se inscreveram e venceram o tal concurso de talentos em Limerick, em março de 1978. A resposta final veio com o U2 By U2, publicado só em 2006, confirmando que eles entraram no concurso já como U2. 
    MT

  2. Outra coisa que esqueci de comentar: a tradução do artigo é parcial porque decidi na época deixar de fora as partes em que o Chas de Whalley fala de assuntos não diretamente relacionados ao U2 e ao U2-3, pra não ficar muito extenso.

  3. muito bom os artigos! Não sabia que o Bono tinha feito aulas de teatro!! To pegando umas aulas de teoria musical e me intriga muito como eles passaram de uma banda horrível e sem habilidade para seguir o compasso certo em 78/79 para uma banda que conseguiu carregar uma turnê internacional nas costas já com o Boy em 80/81!
    Li não sei onde que o Edge não transcreve suas músicas para partitura, que por isso ele só toca o que ele lembra como tocar.. alguém confirma?

  4. Mari, se não me engano comentamos sobre isso no podcast sobre o Edge, que ele guarda suas criações na memória apenas, que ele não escreve música. Não me lembro a fonte da informação, no entanto.
    E sobre o Bono ter aulas de teatro, sabemos que ele fez aulas de mímica no Project´s Art Center in Dublin, quando ainda era adolescente. E ele usa o que aprendeu até hoje, é só observá-lo no palco. Um bom exemplo são as performances dele na pele de Macphisto.

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