Irlandeses em pacote de luxo

Fonte: Diário de Pernambuco

O ano novo começa com boas novidades em torno do U2. Enquanto o novo álbum da banda irlandesa não chega, os três primeiros álbuns acabam de voltar ao mercado em versão de luxo. Claro que o relançamento dos seminais Boy, October e War é bem mais do que um aperitivo para No line on the horizon, 12º trabalho do grupo, com lançamento previsto para março. A trinca, conhecida como BOW pelos iniciados, revela uma sonoridade crua, de músicos literalmente jovens (em algumas fotos ostentando espinhas na cara), formados no bojo da tendência pós-punk dos idos de 1978, e na busca de uma identidade que poucos anos depois seria consagrada em álbuns como Joshua tree e Zooropa (1993).

Mesmo que o relançamento, com remasterização dirigida pelo guitarrista The Edge, e muito material extra, se restringisse somente ao disco de estréia, Boy (1980), já seria de bom tamanho. A começar pela primeira faixa, que traz o mega-sucesso I will follow, pioneira confirmação dos anseios de grandiosidade do grupo. A força desta canção foi sem dúvida a principal responsável pela primeira turnê do U2 pela Europa e Estados Unidos, onde a arte da capa, que retrata o menino Peter Rowan (irmão de um amigo de Bono Vox), foi trocada por uma foto distorcida da banda, que teve receio de acusações de pedofilia. No segundo disco da edição dupla, há as inéditas Speed of life, Saturday night e Cartoon world, além de novas versões e gravações ao vivo.

Gravado às pressas em 1981, o subestimado October volta turbinado com faixas ao vivo, um remix de 1996 para Tomorrow, e três gravações na BBC, histórica sessão, que representou um novo salto para a banda. Não bastasse para o grupo enfrentar a chamada “maldição do segundo disco”, o caderno onde Bono guardava todas as composições foi perdido pouco antes do quarteto entrar no estúdio. “Se há um álbum que revele a confusão e desespero de uma banda, ele é October. Ouvir seu resultado é ao mesmo tempo fascinante e embaraçoso para todos nós”, escreve The Edge, no livreto interno do álbum que teve pelo menos uma das canções eternizada: Gloria, escancara o messianismo católico do U2 em sua forma mais crua.

War, de 1983, retorna com o mesmo menino da capa de Boy, desta vez com olhar desafiante. Considerada uma das melhores canções da carreira do U2, Sunday bloody Sunday abre o álbum, e traz à tona o engajamento social pelo qual a banda ficaria conhecida. As inéditas Angels too tied to the ground e várias versões para New year’s day, dão a tônica do CD extra.