O baixista caladão do U2 abre a boca

O baixista caladão do U2 abre a boca

Fonte: Agência Estado

As estrelas da companhia são o cantor Bono Vox, o guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen Jr. Há muito teclado e programação, efeitos, luzes e fumaça. Mas muita gente que entende de pop rock jura que é nas linhas do baixo Fender Precision‘73 de Adam Clayton que estão a cadência e a pulsação irresistíveis da música do grupo irlandês U2, que toca no Morumbi nos dias 20 e 21 de fevereiro. Clayton, no entanto, não reivindica nenhum papel de destaque no conjunto – pelo contrário, ele se subordina aos outros, dando à bateria de Larry Mullen Jr. o papel de centro de atração gravitacional do som do U2. “A bateria me diz tudo. Todo o resto eu registro um milésimo de segundo depois”, disse Clayton, em entrevista a Brian Fox, na revista Bass Player de janeiro. Para o músico, bateria e baixo estão umbilicalmente ligados no som do U2, mesmo quando ele compõe linhas de baixo para canções.

Sempre tenho um ponto de partida na minha cabeça. Quando ouço uma parte de bateria da canção, reajo instintivamente: também para ir contra esse som, ou acima dele, ou em volta dele. Baixo e bateria precisam ter química para conversar entre si. Miles Davis disse certa vez que gostava de dirigir sua Ferrari amarela quando ela ultrapassava os 115 km por hora e começava a zumbir. É mais ou menos isso.” Desde Dublin, na Irlanda, quatro amigos para sempre Adam confessa que jamais trabalhou com outro baterista em sua carreira musical. “Mas tive algumas experiências estranhas em sessões de gravações de discos com outros músicos, e nenhum deles pareceu ter a patada que Larry tem. Há algo a respeito do lugar onde sua bateria estoura. Há uma autoridade naquela batida, e todo o resto gravita ao redor. E aquilo não parece exigir muito esforço de Larry. É uma piração para mim, porque tocar exige de mim muito esforço”, definiu.

Há 30 anos acompanhando seus colegas, esse dublinense fará 46 anos no dia 13 de março. O grupo foi formado em 1976, com o nome de Feedback, tocando covers de Beatles e Stones. Em 1977, trocaram o nome para Hype. Nos anos seguintes, iniciaram uma saga de rock grandiloqüente, temperado por doses de política e religião. Tornaram-se um dos maiores de todos os tempos. Adam Clayton demonstra infinita modéstia ao definir seu papel nisso. “Às vezes não sinto como se eu tivesse progredido muito. Mas sinto que, nos últimos anos, há uma precisão surgindo no meu jeito de tocar” , disse. “Há um elemento de teatro no que nós fazemos. Entrar num personagem a cada canção. Chamo isso Escola Lee Strasberg de performance musical. Saber quando estancar, como manejar o baixo, e onde estar no palco. Se não estou no personagem, então não estou conectado. Talvez seja essa a grande diferença quando bandas tocam suas próprias canções, em vez de covers. Quando tocam suas próprias canções, as bandas têm uma relação profunda com elas – um jeito de reportar-se à sua essência.”

Lee Strasberg (1901-1982), a quem Adam Clayton se refere, foi o lendário ator, diretor e mestre que criou um método de atuar, um sistema que está na espinha dorsal do teatro e cinema americanos. À revista Bass Player, Adam Clayton revela que sempre foi grande fã de Peter Hook, do Joy Divison e New Order. Outros baixistas que ele diz admirar são John Entwistle, do The Who, além de James Jamerson e o músico de R&B Duck Dunn.

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