Filme sobre o “Domingo Sangrento” busca a paz para a Irlanda

Filme sobre o “Domingo Sangrento” busca a paz para a Irlanda

Por Bob Tourtellotte

LOS ANGELES (Reuters) – Para muita gente, “Sunday Bloody Sunday” é só um rock da banda irlandesa U2, mas se o novo filme “Bloody Sunday” conseguir mexer com as pessoas, elas acabarão aprendendo o verdadeiro significado da letra.

O longa, que acabou de estrear nos Estados Unidos, narra os eventos de 30 de janeiro de 1972, quando 13 civis irlandeses foram mortos por soldados britânicos durante uma passeata pelos direitos civis em Londonderry, Irlanda do Norte.

Bloody Sunday” conta a história da passeata, que continua a ter muita relevância, considerando os conflitos no Oriente Médio, a guerra norte-americana contra o terrorismo e a luta armada em todo o mundo.

É o mesmo que olhar o mundo de hoje sentado no gargarejo”, disse o diretor britânico Paul Greengrass, em entrevista recente à Reuters.

Bloody Sunday” é um drama narrado em estilo de documentário que venceu o prêmio Cinema Mundial no Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos, e dividiu o prêmio de melhor filme no Festival de Berlim este ano. Quando foi exibido em Londonderry, provocou uma emocionada ovação em pé.

Greengrass disse que nunca terá outra experiência como a da projeção em Londonderry, realizada duas semanas antes do 30o aniversário do massacre.

Não havia raiva, amargura, desejo de vingança, apenas uma calma dignidade e um sentimento de que, finalmente, uma história necessária havia sido contada”, disse Greengrass. “O filme, no final, diz respeito a isso. É sobre reconciliação.”

Os britânicos e irlandeses ainda estão tentando descobrir o que aconteceu exatamente no Domingo Sangrento. Uma investigação original inocentou o Exército Britânico, mas em 1998 o primeiro-ministro Tony Blair ordenou um novo inquérito, que está sendo realizado no momento.

O que se sabe é que as mortes ajudaram a desencadear quase 25 anos de conflitos na ruas da Irlanda do Norte e a ascensão do Exército Republicano Irlandês. Pelo menos 3.600 pessoas morreram nos conflitos da Irlanda do Norte até o acordo de paz Sexta-Feira Santa, feito em 1998.

RESSURGINDO DAS CINZAS

O filme acompanha os eventos do dia, enfocando-se em três figuras: Ivan Cooper (interpretado por James Nesbitt), líder de direitos civis que ajudou a organizar a passeata; Robert Ford (Tim Pigott-Smith), oficial militar britânico que comandou a vigilância da passeata; e Gerard Donaghy (Declan Duddy) um manifestante católico de 17 anos, que tem uma namorada protestante.

No início, vemos Cooper e Ford organizando seus grupos pela manhã. Cooper e os manifestantes queriam uma demonstração pacífica, mas os britânicos estavam determinados a impedir a passeata e prender os envolvidos. Eles queriam 500 prisões, e o trabalho de Ford é realizar essa tarefa.

Donaghy está dividido entre sua lealdade à sua família e amigos e acaba no meio de eventos fora do controle de todos.

Bloody Sunday” não toca no assunto de quem atirou primeiro. O diretor diz que a questão é “irrelevante, porque nada justifica o que se seguiu.”

Mais do que contar uma história, Greengrass espera que as platéias percebam que mesmo depois de anos de violência, inimigos podem encontrar um denominador em comum para a paz.

A Irlanda do Norte é um sinônimo internacional de ódio, intolerância e morte e tudo o mais”, disse o cineasta. “Hoje, é possível criarmos uma situação em que a história da Irlanda do Norte seja um guia para a paz em diversas partes do mundo.”

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