Bono inicia missão humanitária na África
ACRA, Gana — O cantor Bono, líder da banda irlandesa U2, está começando uma das turnês mais improváveis já realizadas por um astro do rock – sem direito a fãs enlouquecidas ou a uma parafernália de instrumentos.
Militante ferrenho do fim das desigualdades sociais, Bono uniu forças com um veterano membro do governo norte-americano para lançar uma campanha destacando a necessidade de investimentos efetivos na África.
A primeira escala no giro de 10 dias é Gana. Bono desembarcou em Acra acompanhado do secretário do Tesouro Paul O’Neill, disposto a aproveitar sua fama para chamar a atenção do mundo para a pobreza extrema do continente.
A dupla visitará também a África do Sul, Uganda e Etiópia.
Embora compartilhem uma causa comum, Bono e O’Neill destacam-se pelos estilos contrastantes: o músico anda sempre com seu traje casual e óculos de lentes coloridas; o secretário cumpre à risca a dobradinha cabelo bem aparado-terno de corte perfeito.
“Eu sou o bagunceiro. Meu quarto não é lá muito arrumado e eu como pizza”, brincou o roqueiro.
Piadas à parte, Bono prima pela seriedade ao falar de assuntos humanitários, especialmente os que envolvem a África. É uma paixão antiga.
O’Neill reconhece o empenho de Bono, classificando o cantor como um indivíduo “substantivo”, que tem um apelo eficiente junto aos jovens.
Bono e O’Neill já subiram juntos, em março, em um palanque ao lado do presidente norte-americano, George W. Bush, durante a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington.
Os Estados Unidos prometeram investir US$ 5 bilhões por ano com ajuda externa; Bono disse que as “economias de microadministração de Washington” não eram a resposta para as necessidades da África, onde a maior parte da população vive com menos de US$ 1 por dia.
“Não concordo com interferências externas nas economias do Hemisfério Sul e duvido que o secretário O’Neill também concorde”, desafiou Bono.
O’Neill respondeu prontamente: “Isso não apenas é uma má idéia como também não pode ser feito”.
Para Bono, um dos meios de erradicar a pobreza é dotar os jovens com instrumentos educacionais desde cedo, de modo que eles possam se tornar “intelectualmente independentes” o mais rápido possível e continuar aprendendo sozinhos.
Bono elogiou os progressos em Uganda, que se tornou habilitada à ajuda sob um programa organizado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), intitulado Iniciativa para Países Pobres Pesadamente Endividados.
“O sucesso em Uganda está no fato de as pessoas poderem ter visto de onde o dinheiro vinha, como era gasto”, observou.
(Há um vídeo disponível no site da CNN, veja em http://www.cnn.com.br/2002/entretenimento/05/21/bono/index.html.)