A perenidade da poesia de Rumi e Kazantzakis

A perenidade da poesia de Rumi e Kazantzakis

Um poeta persa do século 13, Jalal-Ud Din Rumi, encantou as atrizes Letícia Spiller e Jac Fagundes. No espetáculo O Falcão e o Imperador, elas mesclam algumas das mais de 40 mil poesias de Rumi com as mais modernas técnicas de projeção e ainda com uma trilha sonora que vai de música eletrônica a canções indianas, de U2 a Arnaldo Antunes. O resultado, segundo elas, é um espetáculo pleno de imagens e sugestões, que “toca diretamente o coração do espectador”.

Direção e texto são assinados em parceria pelas atrizes e pela diretora Daniela Visco. Além das poesias de Rumi, a dramaturgia estrutura-se no poema Ascese, os Salvadores de Deus, de Niko Kazantzakis, autor do conhecido romance Zorba, o Grego. “Kazantzakis fala da luta do homem em prol da liberdade num texto mais contemporâneo e seco. Rumi trata o mesmo tema, porém de forma mais suave, lírica e apaixonada. O diálogo entre os dois textos torna mais próximo do espectador esse embate entre espírito e matéria, alma e espírito, entre o vôo apaixonado e o apego a pequenas coisas materiais”, comenta Letícia.

É no mínimo curioso o fascínio que o poeta persa (atualmente seria afegão) Rumi (1207-1273) vem exercendo sobre artistas no mundo inteiro. Em 1997, o encenador Bob Wilson e o músico Philip Glass criaram em parceria um espetáculo de grande beleza formal Monsters of Grace (Monstros de Graça) apoiado em seus poemas. Madonna, Demi Moore, Martin Sheen e Goldie Hawn estão entre os que já gravaram CDs com versos de Rumi. Recentemente, a atriz Walderez de Barros levou ao palco o espetáculo Tu e Eu, dirigido por Jorge Takla, igualmente baseado nos poemas do persa, odes ao seu mestre espiritual Shamz Ul-Din publicados no Brasil no livro Divan de Shamz de Trabriz (Editora Attar).

Talvez a explicação esteja numa certa carência de divino no mundo ocidental contemporâneo. Poemas e canções sufis realizam uma conexão poética entre a vida cotidiana e o mundo divino. Deus ou a pessoa amada fundem-se nos versos de Rumi, uma atitude não incomum na Ásia, onde os versos dirigidos a Shiva podem ser confundidos, aos olhos de um ocidental, com poemas de amor.

O que ele diz é muito simples. O espetáculo sugere que pode existir um pouco mais de poesia no caos em que a gente vive”, diz Letícia. Em O Falcão e o Imperador, elas atuam dentro de um espaço em semi-arena, feito de tecido, sobre o qual são projetadas imagens coloridas, abstratas ou figurativas, como uma flor de lótus.

A gente fala de um encontro entre seres diferentes. Diferentes, mas complementares, espelho um do outro. E esse encontro é transformador.” O título do espetáculo vem de um dos poemas de Rumi. “O falcão simboliza a essência, o coração. O imperador, a força.” (B.N.)

O Falcão e o Imperador. Baseada em poema de Niko Kazantzakis e nas escrituras de Rumi. Direção e adaptação Leticia Spiller, Jac Fagundes e Daniela Visco. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 20,00. Teatro Tuca. Rua Monte Alegre, 1.024, tel. 3670-8455. Até 2/6

Comments are closed.